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Orgânicos

Remédio à mesa

14 de julho, 2015

Por que os orgânicos tornaram-se os mocinhos da nossa alimentação.

Comecemos pelo começo

Os agrotóxicos começaram a ser utilizados no Brasil em larga escala por volta da década de 70. A primeira lei que tratou sobre esse assunto foi sancionada em 1934 e instituiu o Regulamento da Defesa Sanitária Vegetal. Atualmente, está em vigor a Lei nº 7802/89, que aborda diversos aspectos relacionados aos agrotóxicos, como registro, fiscalização, comercialização e disposição final das embalagens.

Mas, antes de continuarmos, qual o diferencial dos alimentos orgânicos?

Alessandra Luglio, nutricionista e adepta de uma alimentação o mais natural possível, esclarece que, naturalmente, as plantas produzem substâncias protetoras que exercem ação repelente de pragas como insetos, fungos, plantas. Tais substâncias são chamadas de fitoquímicos e, além de exercerem ação ativa na proteção dos vegetais, também trazem benefícios para a nossa saúde, pois exercem ação antioxidante e protetora. Ao usarmos agrotóxicos, inibimos o desenvolvimento dos fitoquímicos. E por que isso acontece? Porque a química faz o papel de protetora, e, sendo assim, a planta não tem mais a necessidade de produzir sua própria proteção. Com a ausência dessa substância “do bem”, os alimentos ficam pobres em nutrientes essenciais para o bom funcionamento do nosso organismo, além de ingerirmos resíduos de produtos tóxicos. Portanto, “o vegetal ou fruto orgânico é muito mais saudável e possui valor nutricional maior, além de possuir um sabor muito mais intenso”, conclui Alessandra.

E o que dizem as pesquisas?

O Brasil é o maior consumidor mundial de agrotóxicos. É certo que a tecnologia trouxe avanços inimagináveis para diversos setores da sociedade. Mas, em se tratando de produção alimentícia, também trouxe desvantagens, como a enorme quantidade de substâncias artificiais que são colocadas nas plantações. A finalidade? Segundo o Ministério do Meio Ambiente, é aumentar a produtividade e controlar doenças, as quais são causadas por agentes considerados nocivos à flora.

No final do ano passado, ambientalistas fizeram uma pesquisa e chegaram ao assustador resultado de que cada brasileiro consome 5,2 litros de agrotóxicos por ano. Também em 2014, a Embrapa divulgou um estudo acerca da contaminação ambiental causada pelo abuso do uso de agrotóxicos no Brasil entre os anos de 1922 e 2011. Os resultados mostram que, no estado de São Paulo por exemplo, todos os córregos avaliados estavam contaminados com algum tipo de agrotóxico. Isso revela que os efeitos dessas substâncias vão muito além dos próprios alimentos: contaminam também os solos e os rios.

Consequências para a nossa saúde

Em 2012, o Ministério da Saúde divulgou que no ano anterior 8 mil casos de intoxicação por agrotóxicos foram registrados em brasileiros – é como se 22 pessoas fossem afetadas por dia! Alessandra Luglio afirma que o excesso de exposição à substâncias químicas e metais pesados presentes nos agrotóxicos e outros poluentes ambientais tem comprovadamente participação no aumento de número de doenças, especialmente entre as pessoas mais jovens, que antes eram desconhecidas. Ela ainda diz que o ambiente em que vivemos, com poluição, alimentos altamente processados e exposição a químicos geram alterações hormonais, metabólicas e genéticas que podem desencadear diversos sintomas que não eram tão comuns no passado. Quando questionada sobre as doenças que estão mais relacionadas ao uso de agrotóxicos, responde: alergias, doenças neurológicas, doenças autoimunes, desequilíbrios hormonais e câncer.

Plantação de tomates. (Foto: Divulgação)
Plantação de tomates. (Foto: Divulgação)

Quando começamos a demonstrar interesse pelos orgânicos?

Atualmente, muito se ouve falar sobre os alimentos naturais, sem químicas em sua composição. Os supermercados, por exemplo, têm se adaptado e colocado áreas exclusivas em suas lojas para produtos orgânicos.  Para o empresário do ramo de alimentação saudável, Charles Piriou, existe uma conscientização das pessoas do impacto da alimentação na saúde, e isso envolve diretamente a questão dos produtos naturais e orgânicos: “Ainda é um movimento muito tímido num país campeão mundial pelo uso de agrotóxicos e falta fiscalização nesse sentido. O importante é saber de onde vem, e por quem foi cultivado – o que é praticamente impossível hoje em dia nas grandes cidades”, diz ele.

Mas, será que tal conscientização deve-se ao fato de esse ser um assunto que tem sido frequentemente abordado, o que faz com ele seja algo como “tendência”, ou o brasileiro realmente está preocupado com o que coloca no prato? O empresário acredita que “não é nada passageiro, bem pelo contrário. Não é tendência, é um movimento mundial que cresce a cada dia. Existem dietas e alimentos de moda, e isso vai continuar sempre porque o ser humano adora uma novidade. Mas, acredito que o movimento é voltar ao alimento mais simples e verdadeiro de uma forma geral.”.

E o acesso a eles?

Apesar de serem extremamente nocivos à saúde, os alimentos repletos de substâncias químicas são mais baratos que os orgânicos. O preço desses últimos os tornam inacessíveis  para muitos brasileiros, especialmente em tempos de altas inflações. O motivo é que, para que não seja usado nenhum tipo de agrotóxico, a plantação deve ser cultivada em menor escala e muito mais cuidadosa, o que traz gastos adicionais ao produtor. Grandes produtores, que produzem grandes quantidades de vegetais e frutas, também possuem incentivos fiscais por parte do governo, o que torna o produto final mais barato. Restaurantes também têm usado alimentos orgânicos na preparação dos pratos, mas os preços são muito mais altos se comparado às outras opções do cardápio e, diversas vezes, o aumento não pode ser justificado somente pelo fato da matéria prima ser mais cara. Seria, então, uma jogada do mercado e dos empresários para faturar mais sobre o desejo do consumidor em cuidar da saúde ou há realmente uma preocupação acerca do que oferecer para os clientes? Charles Piriou diz que “os dois lados existem, como sempre. Prefiro pensar no impacto positivo da conscientização das pessoas por uma alimentação mais natural e orgânica. Isso já é um avanço, apesar de parecer tão óbvio.”.

Feira de orgânicos no Parque da Água Branca, bairro da Barra Funda, em São Paulo capital. (Foto: Luiz Prado)Feira de orgânicos no Parque da Água Branca, bairro da Barra Funda, em São Paulo capital. (Foto: Luiz Prado)

Estamos caminhando

Em março deste  ano, foi sancionada, em São Paulo, uma lei que obriga o município a oferecer alimentos da agricultura familiar e produtos orgânicos ou agroecológicos para a alimentação de crianças e adolescentes da rede pública de ensino. Além disso, segundo a prefeitura de São Paulo, desde 2013 houve uma alta considerável na aquisição de alimentos dos pequenos agricultores para a merenda escolar na capital do estado: as compras foram de 1% para 17%. Atualmente, há mais de 300 feiras orgânicas espalhadas pelo país, as quais permitem, além do cuidado maior com a nossa saúde, incentivo aos produtores da agricultura familiar.

E seguimos na esperança de que nossa farmácia volte a ser a nossa horta.

Via  Nara Siqueira (nara.siqueirasil@gmail.com) – Jornalismo Junior  J.Press 

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