Catadores de materiais recicláveis são aqueles que, de sol a sol, buscam pelas ruas, latas e lixões, materiais que ainda podem ser aproveitados, ou reformados, ou reciclados industrialmente. É um trabalho árduo, insalubre, cheio de riscos, os próprios de quem anda sempre pelas ruas, os que derivam de contato com matérias contaminadas, os que derivam dos riscos físicos do peso que carregam puxando seus carrinhos, entre vários outros.
No entanto, esses trabalhadores, informais, são especialmente importantes para a redução da quantidade de lixo doméstico coletado nos municípios. Ou seja, este trabalho informal e extremamente pesado e perigoso ajuda substancialmente na redução dos gastos municipais com a coleta, transporte e disposição final do lixo gerado pela sua população. Só que não são pagos pelo município, só que não gozam de benefícios nem assistência. Só trabalham e sobrevivem. Este é um dos males, entre muitos, de uma sociedade injusta e profundamente desequilibrada em sua distribuição de renda.
Segundo informações disponíveis no Portal Brasil, o setor da reciclagem brasileira movimenta R$ 12 bilhões ao ano, contra R$ 8 bilhões que são perdidos pelo encaminhamento de materiais recicláveis a aterros e lixões. Isso porque o serviço só está presente em 8% dos municípios brasileiros. Grande parte desse total passa pela mão de catadores, individuais ou organizados em cooperativa, uma parte dos quais são contratados pelas prefeituras dos municípios que reciclam organizadamente.
Catadores individuais, autônomos, não podem ser contratados pelo serviço público, benefício que atinge àquelas que estão filiados a uma cooperativa de coleta seletiva, na conformidade da lei federal 11.445/2007, que estabeleceu as diretrizes nacionais para o saneamento básico brasileiro. Mas, muitos catadores preferem se manter na situação insegura de serem autônomos visto que, quando numa cooperativa, seus ganhos se reduzem, apesar da segurança relativa que ganham.
O panorama de saúde dos catadores de recicláveis que foi objeto de um estudo pela Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto (EERP) da USP, realizado durante 2013, com 23 catadores autônomos da cidade de Ribeirão Preto, pela enfermeira Tanyse Galon, através de entrevista com roteiro direcionado e ajuda de fotografias, focando em seu cotidiano de trabalho e condições de saúde. Neste estudo foi levantada a ocorrência de problemas osteomusculares, derivadas dascargas físicas excessivas que os catadores transportam em seus carrinhos, deansiedade e estresse, por conta das inseguranças trabalhistas e sociais às quais estão sujeitos, ferimentos e contaminações, por estarem expostos a materiais contaminados em lixões, aterros, sacos e latas de lixo e, de não menor importância, a complicações derivadas de acidentes de trabalho. Também ficou claro é que este grupo está inserido em um contexto de informalidade e invisibilidade social apesar de ser reconhecida, como importante para a sociedade, a sua contribuição efetiva na área da reciclagem e redução de lixo direcionado a aterros e lixões.
O grupo estudado reflete a realidade da classe, composta em sua maioria por adultos jovens com familiares dependentes financeiros e baixo nível educacional e uma certa porcentagem de idosos, que objetivam complementar sua aposentadoria.
Segundo apontou a pesquisa: “(os catadores) são expostos a materiais contaminados, como seringas, agulhas, cacos de vidro e resíduos hospitalares, que são as cargas biológicas. Além disso, quanto às mecânicas, ainda correm orisco de serem atropelados no trânsito ao carregarem seus carrinhos de mão pesados e não adaptados.”
Outra problemática importante que esta pesquisa ressalta é a questão da improvisação dos instrumentos de trabalho dos catadores. Normalmente estes usam carrinhos de mão, adaptados em bicicletas ou triciclos, ou mesmo puxado à força de tração humana, pois dado o pouco que recebem pela venda de materiais de reciclagem não têm disponibilidade real de comprar veículos motorizados ou mesmo de tração animal.
Nós entendemos que existe responsabilidade da sociedade, como um todo, na solução deste tipo de problema dos catadores, tanto do ponto de vista legal quanto de saúde pública. Menos como questão de assistência social, mais como questão de direito do trabalhador, a solução das exigências dos catadores, autônomos ou filiados em cooperativas, é a contrapartida social para o benefício ambiental que esta atividade nos traz. Questão de responsabilidade cidadã.
E, o que quer o catador? Quer respeito como trabalhadores que são, quer receber todos os direitos que lhe deveriam corresponder por exercerem uma atividade de grande benefício social e ambiental.
Fonte foto: novoeste.com
Fonte: GreenMe – Escrito por Alice Branco