03 de julho, 2015
Foto: Rocco Yim fala na conferência Alternatives for Low Carbon City Architecture and Life Forum. Imagem Cortesia de Shenzhen Design Center
Durante a conferência “Alternatives for Low Carbon City Architecture and Life” dessa semana, em Shenzhen, China, nós nos reunimos com Rocco Yim para lhe perguntar – impulsionados por seu interesse em conectar culturas – como seu trabalho está relacionado com a busca por baixas emissões de carbono ou por um design sustentável. Yim explica os valores fundamentais que motivam a sua abordagem para projetar, revelando suas atitudes em relação a soluções tecnológicas de projeto. Leia mais para saber o que Yim acredita ser a essência dos espaços urbanos bem sucedidos.
Sede do Governo HKSAR. Imagem Cortesia de Rocco Design
ArchDaily: Seu principal interesse de pesquisa é na reconexão de culturas, a partir de um ponto de vista de baixa emissão de carbono ou sustentabilidade, como você acha que esses dois tópicos são intercambiáveis ou relacionados entre si?
Rocco Yim: Bem, em primeiro lugar, o meu interesse em conexões de culturas surge da minha crença de que a arquitetura não é apenas uma arte. O maior erro é pensar que os arquitetos são artistas. Este pensamento é o responsável por uma grande quantidade de … como eu deveria dizer isso … lixo, que vemos por aí.
Eu acredito que a arquitetura está conectada a um lugar e a um tempo, e o valor da arquitetura é este caminho que se conecta com as culturas, tanto do passado quanto do presente.
Agora então, nesse contexto, eu destaquei uma série de culturas que eu acho que são relevantes para a arquitetura. A única que realmente não destaquei é a sustentabilidade. A razão pela qual eu não a tenha realçado que é o fato de que eu acho que a sustentabilidade ou a preocupação com o meio ambiente é um dado; ela não precisa de ser realçada. Esteve lá o tempo todo. E não é específica para qualquer país ou região ou raça. É um valor universal, algo que os nossos antepassados acolheram de uma forma ou de outra, mas é algo que, devido ao avanço da tecnologia e por causa da nossa crença, especialmente no século passado, que estamos acima da natureza, tendemos a esquecer.
Então, quando eu falo sobre a reconexão das culturas, por exemplo, os valores de qualidade espacial, da comunidade, da conectividade urbana – essas coisas são diferentes de cidade para cidade. Mas estão indiretamente relacionadas com questões de sustentabilidade.
Levando em consideração a conectividade: quando falamos de conectividade, falamos sobre o desejo dos seres humanos contemporâneos e moradores da cidade em moverem-se livremente, e ao fazê-lo, aumentar as oportunidades de encontro e interação, ressaltando a conveniência e eficiência. E isso, de certa forma, foi exemplificado em uma cidade como Hong Kong, onde a conectividade espacial realmente tem sido dada, em certas áreas, não em toda, uma expressão e uma ênfase que está faltando em Shenzhen.
Alternatives for Low Carbon City Architecture and Life Exhibition. Imagem Cortesia de Shenzhen Design Center
Mas a conectividade é também uma questão de sustentabilidade. Porque quando você se move livremente, sem impedimento e de uma maneira em que você se sente feliz, você esquece dos seus veículos. Você só anda. As passarelas em Hong Kong são um bom exemplo de uma medida de sustentabilidade, pois permitem que muitas pessoas abandonem o carro, o táxi e apenas caminhem.
Assim, a ênfase que eu coloquei no ato de fazer arquitetura e essas atividades de cultura e valores, não está em conflito com a criação de uma cidade com baixa emissão de carbono. E, de fato, quando olhamos para uma cidade ou bairro que emite pequenas taxas de carbono, muitos pré-requisitos que estamos procurando estão, na verdade, simplesmente entrelaçados a um bom desenho urbano.Alternatives for Low Carbon City Architecture and Life Exhibition. Imagem Cortesia de Shenzhen Design Center
Por exemplo: espaços que estão em uma escala humana, áreas que possuem um sentido de lugar que incentiva as pessoas a usá-los e apreciá-los. Isto estimula o amor pelo meio ambiente, porque você só o ama se você estiver feliz nele. E quando você o ama, você se preocupa não danificar árvores, não jogar lixo no chão, ou jogá-lo no recipiente certo e todos estes são comportamentos essenciais para uma vida de baixa emissão de carbono. Comportamento, não qualquer tecnologia específica ou mecanismo sofisticado, mas simplesmente comportamento. Se você ama seu lugar você se importa com ele e você se importa em economizar energia e água por exemplo. Esta é a essência de uma vida com baixa emissão de carbono.
Isto também tem a ver com um princípio fundamental, gostaria de salientar, que é a sustentabilidade. O que significa sustentabilidade, no final, é reduzir o desperdício, tanto quanto possível. Reduzir o desperdício significa, portanto, utilizar da melhor forma possível os recursos que você tem, incluindo recursos da terra. Significa projetar espaços de parques ou praças que serão utilizados e amados pelo povo.
Sede do Governo HKSAR. Imagem Cortesia de Rocco Design
Uma grande parte do problema nas cidades chinesas é que vemos muito verde, mas ele não é usado. E isso, eu diria, não é um bom uso dos recursos e, portanto, não é sustentável, não importa quão verde pareça, ou não importa quantos quadrados metros você destine para as árvores. Não importa se é uma cidade com baixa emissão de carbono ou se é simplesmente uma cidade bem desenhada, no final estamos procurando a mesma coisa.
Agora, quando você lida com as cidades de baixa emissão de carbono, existem certas tecnologias ou metodologias, e isso é outra coisa, mas eu não acho que isso é importante. Talvez é essencial, mas a coisa mais importante é a mentalidade em desenho.
Rocco Yim fundou seu próprio escritório, em 1979, e foi um dos co-fundadores da Rocco Design Partners ,em 1982. Rocco Design Architects é um escritório de arquitetura chinesa com sede em Hong Kong.
A entrevista acima ocorreu durante a Alternatives for Low Carbon City, Architecture and Life (ALCCAL) Forum & Exhibition em Pingdi, Shenzhen, China em 17-18 junho de 2015. Organizada pelo Shenzhen Center for Design, o fórum e exposição contaram com apresentações dos resultados do concurso PINGDI 1.1 Alternatives for Low Carbon Architecture.
Via Archdaily – archdaily.com.br
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