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Tecnologias para o reaproveitamento de entulhos

30 de julho, 2015

Britadores móveis, conchas trituradoras e tesouras hidráulicas viabilizam a reciclagem de entulhos para reaproveitamento na própria obra

Apesar de o Brasil dispor de legislação para a gestão de resíduos na construção civil, uma visita aos canteiros de obras permite constatar que um abismo ainda separa a realidade das determinações legais. Em que pese a existência de uma resolução do Conama (Conselho Nacional do Meio Ambiente) sobre o assunto – desde 2002, diga-se de passagem – que ganhou reforço com a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), recém sancionada pelo governo federal, a maioria das construções no país ainda é realizada com pouco reaproveitamento do entulho gerado, o que caracteriza projetos com baixo índice de sustentabilidade.

O pior é que, apesar de existirem tecnologias técnica e economicamente viáveis para a reciclagem de entulho, o país continua produzindo resíduos cuja destinação final gera impacto no meio ambiente. O fato desse material não ser reaproveitado também representa uma agressão à natureza na medida em que deixamos de economizar recursos como brita e areia. Cálculos da Abrelpe (Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais) indicam que o país gerou 91.400 t/dia de resíduos de construção e demolição no ano passado, com crescimento de 14% em relação a 2008.

“A cidade de São Paulo, por exemplo, produz aproximadamente 20.000 t/dia de entulhos e no máximo 10% desse material é reaproveitado”, diz Artur Granato, diretor da Nortec, empresa que atua como distribuidora de equipamentos para as áreas de demolição e reciclagem. Ele atribui essa situação à falta de fiscalização em relação à lei existente, bem como aos custos operacionais que envolvem o processo de reciclagem. “Ainda é mais barato jogar resíduos em aterros, pois a produção de material reciclado é considerada cara, ainda mais em comparação com o preço da pedra britada, no qual nunca se contabiliza o custo ambiental envolvido.”

Considerando todos os fatores envolvidos, especialistas estimam que a produção de agregados a partir da reciclagem de entulhos custa, em média, 30% do valor do material extraído de jazida natural. “Os resíduos cuja destinação final representa uma dor de cabeça para muitas prefeituras podem se tornar aliados do poder público na criação de emprego e geração de renda por meio de equipamentos de reciclagem”, afirma Gilson Tadeu Amaral Piovezan Jr., especialista em gestão de recursos hídricos e mestre em hidráulica e saneamento.

Caso de sucesso
Diante desse cenário, a cidade de Americana (SP) pode ser considerada uma referência na reciclagem dos resíduos da construção civil. A empresa Cemara Pro Ambiental Ltda. recebe uma média de 800 t/dia de entulho e recicla 95% desse material com a operação de usinas de britagem e classificação. Os equipamentos, distribuídos pela Nortec, transformam o en tulho recebido em brita, pedrisco e areia, que são reutilizados como base e sub-base em obras de pavimentação e aterros.

As usinas de britagem são disponibilizadas na versão fixa ou móvel sobre pneus, com capacidade de produção entre 10 e 100 t/h. “Elas agregam todos os equipamentos necessários ao processamento dos resíduos, desde os britadores da marca alemã Hazemag, até os alimentadores e peneiras classificadoras e os separadores magnéticos.” Granato explica que, além de fornecer os equipamentos, a empresa desenvolve projetos turn key, incluindo a instalação de transportadores de correia, estruturas metálicas de sustentação, chutes, comandos elétricos e nebulizadores para contenção de poeira.

Nessa área, a Nortec acaba de lançar no mercado novas tecnologias, como usinas de triagem mecanizada, para a retirada de materiais contaminantes (papel, plástico, vidro e madeira, entre outros) dos resíduos a serem processados. “O processo contempla, em um primeiro momento, a separação de frações por dimensões. Em seguida, a coleta é realizada manualmente, sobre transportadores de correia”, explica o especialista.

A empresa também fornece usinas para a produção de argamassa no próprio canteiro de obras, a partir da reciclagem de blocos, restos de concreto e demais entulhos. “Além disso, temos os gerenciadores, que são equipamentos compactos indicados para a separação e aproveitamento da fração fina do resíduo.” Segundo o executivo, a comercialização desses equipamentos ainda é modesta em comparação com o volume de entulho gerado nos canteiros. Para se ter uma ideia, o mercado de reciclagem e demolição absorveu, no ano passado, cerca de 20 equipamentos do gênero, envolvendo basicamente usinas de britagem de pequena capacidade – entre 20 e 50 t/h.

Mas as expectativas são positivas e Granato espera encerrar 2010 com a venda de 50 unidades de equipamentos para essa área. “Como o britador possui uma vida útil de décadas, o investimento em reciclagem não é alto se considerarmos o custo para recuperar uma área degradada por deposição irregular ou ilegal dos resíduos ou ainda administrar uma política de não agressão ao meio ambiente”, ele pondera.

Caçamba trituradora
Outra empresa com experiência nessa área é a Copex, que distribui no mercado brasileiro uma ampla linha de equipamentos e acessórios para demolição e reciclagem de entulho. O destaque, segundo Antonio Grisci, diretor da distribuidora, fica com as caçambas trituradoras ou conchas trituradoras da Simex, oferecidas em modelos menores, com capacidade de produção de 5 a 10 m³/h, até as versões de maior porte, que produzem entre 40 e 50 m³/h. “A linha CB pode ser montada sobre minicarregadeiras, retroescavadeiras e pás carregadeiras, enquanto a linha CBE, de maior porte, é indicada para operar em escavadeiras hidráulicas.”

Segundo ele, os equipamentos contam com dois motores de alto torque e um sistema de trituração por eixo dentado, acionado pelo próprio sistema hidráulico da máquina portadora, cujo giro resulta na trituração do material. “A potência do motor varia conforme o modelo. O parâmetro utilizado é a força aplicada nos dentes de trituração, sendo que nos equipamentos maiores pode chegar até 190 kN”. Para o executivo, o principal diferencial desses modelos é justamente o sistema por eixo dentado, que foge totalmente à regra da oferta disponível no mercado.

“Esse sistema proporciona uma durabilidade muito maior dos componentes e praticamente elimina a vibração da máquina portadora, na medida em que ela trabalha parada.” No caso do sistema convencional, de mandíbula, ele explica que o impacto da operação acaba refletindo no equipamento em que o acessório está montado, diminuindo a vida útil de seus componentes e provocando desconforto para o operador.

A Verbam, empresa do Grupo Baram, também oferece uma linha de máquinas para reciclagem de entulhos e sobras de concreto em obras de reformas e demolições. Os equipamentos são oferecidos em três modelos, cujas diferenças são explicitadas pela capacidade de produção. “Temos um modelo menor, com capacidade de 4 t/h, outro intermediário, de 15 t/h, e um maior, de 60 t/h, sendo que todos reciclam o entulho da obra e o transformam em agregado para concreto não estrutural”, afirma Fábio Deobaldo, representante da empresa.

Deobaldo ressalta que todos os materiais produzidos se enquadram na norma NBR 15116/04, que define os requisitos dos agregados reciclados para utilização em pavimentos e estruturas de concreto sem função estrutural. “Lançamos esses equipamentos há dois anos e as vendas ainda não corresponderam às nossas expectativas.” Segundo ele, a empresa comercializou 10 unidades nesse período, mas acredita no potencial desse mercado.

Foco nas concreteiras
Diferentemente do reaproveitamento de entulhos, a Liebherr direciona seu foco em equipamentos para a reciclagem de concreto fresco, com aplicação basicamente em concreteiras e construtoras em geral.  Guilherme Zurita, gerente comercial da divisão de concreto da Liebherr, evita quantificar o volume de material não aproveitado nessas condições, seja na forma de resíduo que retorna no balão do caminhão betoneira, seja como carga rejeitada pelo cliente. “É muito difícil precisar a média brasileira, já que a maioria da concreteiras não faz um controle nessa área, mas sabemos que na Europa o volume não aproveitado gira em torno de 1% a 4% da produção de concreto”, diz ele.

Levantamentos realizados pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP) apontam que cerca de 9% de todo o concreto produzido em centrais brasileiras acaba sendo descartado devido às situações acima especificadas. Para evitar o desperdício desse material, a Liebherr lançou recentemente o sistema de reciclagem LRS-708, composto por reservatórios, bombas de água, agitadores, quadro de comando, chaves de nível e hidrômetro, entre outros componentes

Zurita explica que o equipamento faz a separação dos materiais sólidos e líquidos, coletados do balão dos caminhões betoneira, para promover a reciclagem. “A fração sólida sobe por uma rosca sem-fim e forma uma pilha para reaproveitamento na produção de concreto novo, enquanto os finos, dissolvidos em água, seguem para um tanque de tratamento. “Após a separação, esses finos também podem ser reutilizados na produção de novos traços de concreto.”

O equipamento tem uma capacidade de produção de até 22 m³/h de concreto reciclado. Segundo Zurita, ele se caracteriza pela flexibilidade na operação, pois pode dispor de comandos automatizados, por meio de CLP (controladores lógicos programáveis), ou dispositivos manuais. “Ele opera independentemente de outros equipamentos, porém, necessita de uma interface com a central de concreto para que seja possível o carregamento dos caminhões betoneira com a água reciclada.”

Segundo o especialista, o equipamento possui garantia de um ano e todo o suporte de pós-venda fica por conta da Liebherr. “O LRS é fabricado no Brasil, com um índice de mais 70% de nacionalização do produto, sendo que os componentes importados estão disponíveis em estoque para pronto atendimento ao mercado”. Atualmente, seis equipamentos desse modelo se encontram em operação no Brasil, sendo que um deles opera na concreteira Konkrex, em Manaus.

Reciclagem nos estádios
Com mais de 50 conjuntos móveis de britagem comercializados no país nos últimos três anos, a Terex vislumbra o mercado de reciclagem como a principal fonte de demanda para esse tipo de equipamento. “A reciclagem dos resíduos de demolição é o segmento que apresenta o maior crescimento nessa área, pois as preocupações com a sustentabilidade da operação estão se difundindo rapidamente”, pondera José Brum, gerente de desenvolvimento de negócios da divisão de processamento de materiais da Terex para a América Latina.

Ele ressalta que os conjuntos móveis de britagem apresentam uma série de vantagens, como a rápida mobilização no canteiro – menos de 30 minutos – sem a necessidade de infraestrutura ou ob ras civis para sua operação. Além disso, o equipamento pode ser conduzido pelo operador da escavadeira que faz a sua alimentação, por meio do controle remoto.

Componente das tesouras otimiza a britagem do entulho

A Atlas Copco também figura entre as empresas que oferecem soluções para a reciclagem dos resíduos de demolição. Recentemente, a empresa apresentou a nova versão de mandíbulas em forma de caixa “B” (box shape), indicada para operar em conjunto com sua tesoura hidráulica CC 3300. Trata-se de um equipamento com peso operacional de 4,8 t e abertura de boca de 644 x 600 mm, que pode ser instalado em máquinas portadores de 38 a 55 t de peso.

“Com a versão de mandíbulas em forma de caixa, atingimos tamanhos definidos para o material demolido, que são ideais para processamento nos britadores”, explica Wolfgang Hohn, gerente da linha de produtos para demolição da Atlas Copco. Segundo o executivo, na medida em que o material a ser reciclado é cortado em três lados, em apenas uma operação, evita-se a produção de peças de armadura de ferro demasiadamente compridas, facilitando o processo de separação do material.

Segundo a empresa, outro ganho desse equipamento está relacionado à redução na produção de poeria no canteiro de obras. “Ele permite reciclar mais material demolido com alta qualidade e, simultaneamente, protege o meio ambiente devido à menor emissão de pó.” As novas mandíbulas estão disponíveis também nas versões “U” (universal), para trabalhos de demolição em concreto, e “S” (steel cutting), para cortar estruturas de aço.

Via Revista Manutenção e Tecnologia – revistamt.com.br

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