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Como Transformar Empreendimentos Existentes em Sustentáveis

19 de agosto, 2015

A cada dia que passa, ouvimos falar mais sobre sustentabilidade, preservação do meio ambiente e aquecimento global. Estes conceitos, que até pouco tempo se restringiam aos grupos acadêmicos e ambientalistas, passaram a fazer parte de nossa realidade, devido ao aumento do acesso à informação e, também, dos primeiros indícios reais de esgotamento da capacidade do planeta de prover recursos naturais para a nossa sobrevivência.

A construção civil é responsável pelo consumo de boa parte dos recursos naturais do planeta, tanto na fase de obras como na fase de uso e operação dos edifícios. Apesar de ser uma fase de grande impacto ambiental, a fase de construção de edifícios dura, no máximo, dois anos, enquanto que o seu uso pode facilmente passar dos 50, 100 anos. Durante os anos de vida útil do edifício, este irá utilizar recursos naturais e despejar resíduos no planeta, consumindo muito mais energia, água e gerando muito mais resíduos do que na fase de obras.

Apesar do “boom” imobiliário dos últimos cinco anos, a idade das construções na cidade de São Paulo é de 25 anos, em média. Ou seja, temos edifícios novos e eficientes, mas também edifícios muito antigos e ineficientes, projetados e construídos numa época em que os conceitos de sustentabilidade e preservação ambiental nem sequer existiam! Portanto, apesar das iniciativas atuais de se construir de maneira sustentável, temos um grande desafio que é tornar os edifícios já existentes sustentáveis, pois eles acabam sendo os grandes responsáveis pelo uso ineficiente da água e energia do planeta.

O processo de reabilitação de edifícios para torná-los sustentáveis é bem mais complexo do que uma construção nova sustentável. Em alguns casos, mais críticos, pois a ocupação do edifício durante o processo de reabilitação pode tornar-se inviável. Porém, em outros a reabilitação ocorre com o edifício em funcionamento. Além da questão da ocupação dos edifícios, normalmente, o processo de reabilitação sustentável encontra dificuldades devido ao canteiro de obras restrito, alta quantidade de resíduos de demolição, falta de cadastramento da situação real do edifício e incômodos gerados aos usuários e vizinhos.

O primeiro passo para tornar um edifício existente sustentável é uma análise minuciosa da situação atual em relação aos requisitos de Alta Qualidade Ambiental (AQUA), que baseiam-se na qualidade intrínseca do edifício (QI) e na qualidade ambiental das práticas (QAP). A qualidade intrínseca do edifício demonstra como a construção, em si, atende aos critérios de sustentabilidade, como, por exemplo, elementos de sombreamento de fachada (brises), sistemas de ventilação natural, facilidade de acessos para manutenção, iluminação natural, entre outros.

A qualidade intrínseca do edifício não está diretamente relacionada ao emprego de soluções de alta tecnologia, e sim a um bom projeto arquitetônico e a uma execução consciente, que levam a um alto desempenho ambiental e a uma economia significativa de energia e água durante a operação. Já a qualidade ambiental das práticas (QAP) decorre da maneira pela qual os usuários se relacionam com o edifício, e é tão importante quanto a QI, uma vez que o usuário é o grande responsável pelos impactos ambientais decorrentes de sua operação. Para se ter uma idéia, uma simples torneira aberta por 6 minutos gasta toda a água necessária para uma pessoa sobreviver um dia inteiro, considerando o consumo per capita recomendado pela Organização Mundial da Saúde. Desta forma, não adianta nada o edifício ser totalmente sustentável, se as práticas de operação não forem sustentáveis.

Uma vez concluída a análise inicial, ou diagnóstico, deve-se traçar a estratégia ambiental do edifício, hierarquizando quais iniciativas deverão ser postas em prática primeiro, sempre levando em consideração a relação custo x benefício x preservação do meio ambiente. A estratégia ambiental global do edifício tem como finalidade evitar que se tomem medidas isoladas que aparentemente são sustentáveis, mas que dentro de um contexto global,podem gerar resultados inexpressivos.

Um exemplo interessante é a instalação de sensores de presença em todos os ambientes do edifício, inclusive os com lâmpadas fluorescentes. Estudos comprovam que para ciclos menores do que 15 minutos, é mais viável deixar o acionamento da lâmpada por interruptor do que instalar um sensor de presença. Neste caso, a análise leva não só em conta o consumo de energia, mas também o impacto ambiental decorrente do descarte das lâmpadas fluorescentes, que têm a sua durabilidade reduzida proporcionalmente ao número de ciclos. Resumindo, do ponto de vista global, a aparente redução no consumo de energia elétrica em uma lâmpada fluorescente com sensor de presença pode gerar um impacto ambiental maior devido à redução da sua vida útil.

Diante disso, não existe uma receita pronta para transformar os edifícios existentes em sustentáveis, pois a complexidade de uma construção é muito grande. A receita ideal é utilizar uma metodologia reconhecida para tornar o edifício sustentável, implementada por uma equipe que conheça a fundo os requisitos de Alta Qualidade Ambiental (AQUA), de modo que a reabilitação sustentável possa efetivamente atingir os resultados desejados, contribuindo para a redução da escassez de recursos naturais e biodiversidade.

Luiz Henrique Ferreira, Engenheiro civil formado pela Poli-USP, Diretor da Inovatech Engenharia, consultoria especializada em construções sustentáveis, líder em consultoria para a Certificação AQUA e especializada em projetos sustentáveis para a construção civil.

Via AEA

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