Sábado(24/09), faleceu aos 88 anos um dos pais da Permacultura, Bill Mollison. A notícia teve repercussão nula na imprensa brasileira. Por isso, traduzimos uma matéria do site La Bio Guia:
No dia 24 de setembro morreu Bill Mollison, mais conhecido como “O pai da Permacultura”, um homem que todas as pessoas que deveria ser conhecido por todos que buscam viver de uma forma mais amistosa com o ambiente e aproveitar melhor os recursos, preservando-os para o futuro. Junto com David Holmgren, Mollison foi o inventor do termo permacultura. Usaram a palavra para descrever “um sistema integrado e evolutivo de plantas perenes ou autoperpetuantes e de espécies animais úteis para o homem“.
Com o tempo, o conceito de permacultura foi evoluindo e sendo ampliado. O mesmo Holmgren a descrevia atualmente como “o desenho consciente de paisagens que imitam os padrões e as relações da natureza, enquanto proporcionam alimento, fibras e energia abundantes para satisfazer as necessidades locais“. Em outras palavras, Permacultura é o desenho de sistemas de produção de alimentos que não danifiquem o ambiente, como a agricultura intensiva faz.
Mas… quem foi realmente esse homem? Mollison cresceu em Stanley, na Tasmânia (Austrália), e deixou a escola aos 15 anos para ajudar a sua família. Durante 10 anos passou por muitas ocupações diferentes: pescador, marinheiro, caçador, empregado de moinho, motorista de trator, engenheiro florestal e naturalista. Ainda que não teve uma educação formal, suas ânsias de aprender e sua curiosidade infinita o levaram a incorporar de maneira informal muitos conhecimentos sobre a natureza e a produção agrícola, os temas que mais o apaixonavam.
Quando começou a descobrir as tramas que haviam por trás da agricultura, o dano que se fazia ao planeta para se obter uma maior produção, Mollison se converteu em um crítico radical dos sistemas industriais e políticos que estavam destruindo, material e socialmente, todos os cantos do planeta que ele pôde visitar. Entretanto, jamais ficou numa mera posição de crítico, como ele explicava: “Essa oposição não serve de nada […], não queria me opor a nada e perder meu tempo. Queria voltar só com algo muito positivo, algo que permitisse a todos viver sem o colapso total dos sistemas biológicos“.
Mais adiante, em 1954, Bill se uniu à CSIRO (sigla em inglês para Organização de Pesquisa da Comunidade Científica e Industrial) e ali se formou como pesquisador. Estudando as pragas de lagosta e as doenças dos coelhos, Mollison se familiarizou com a ecologia científica. Mas a ideia de que poderíamos desenhar conscientemente sistemas sustentáveis que permitissem aos seres humanos viver dentro de suas possibilidades e em harmonia com a vida silvestre era o que realmente o motivava. Essa ideia ainda não tinha nome, então Mollison inventou um.
Permacultura significa “Agricultura ou cultura permanente”. O conceito remete a uma produção sustentável, contínua, infinita. A agricultura moderna origina uma grave sobre-exploração e erosão do solo, causa um descenso da produtividade pela má drenagem, e tem um efeito poluidor ao empregar um uso excessivo de combustíveis fósseis e fertilizantes e praguicidas. Também incide na deflorestação, propaga nitratos nos aquíferos subterrâneos e contribui para a perda da diversidade genética das espécies cultivadas e o desaparecimetno de variedades locais, entre outros danos ao planeta. A permacultural é todo o contrário.
Para Mollison, uma agricultura capaz de melhorar a alimentação das grandes populações humanas tinha que ser ao mesmo tempo respeitosa com o território e sustentável a longo prazo. Caso contrário, estaria se contradizendo. O conceito harmônico de permacultura buscava chegar a esse equilíbrio.
Na permacultura se utilizam menos materiais (e máquinas), por isso a exploração é menos custosa, tem um impacto benéfico no meio, e se produzem frutas, cereais ou verduras de maior qualidade e singularidade genética. Diante da grande indústria agroalimentar, centrada no rendimento massivo e insaciável, a permacultura é uma verdadeira revolução.
Mollison abandonou este mundo há poucos dias, mas sua mensagem de transformação e o chamado a produzir nossos alimentos de uma maneira respeitosa e sustentável está mais vigente que nunca: enquanto ele nos deixava, uma das maiores farmacêuticas do mundo comprava uma multinacional suspeita de adoecer as pessoas que alimenta. Hoje é o momento em que estã sendo decidido como as próximas gerações se alimentarão, e muitas coisas estão em jogo. Só com informação e consciência será possível mudar o rumbo que os fatos estão tomando.
Bill desenvolveu um manual para ajudar a difundir sua ideia e facilitar a aplicação da permacultura por pessoas de todo o mundo. Dividido em 15 “panfletos”, o material apresenta soluções sustentáveis para os diversos tipos de ambientes, mostrando ser possível aproveitar os recursos naturais sem interferir em sua manutenção.
Se você se interessou pelo assunto e ficou curioso para saber mais sobre o conceito da permacultura e de entender como ele pode ser aplicado, clique aqui para baixar o manual completo.
Fontes: Permaculture / La esencia de la permacultura (Libro) / The Cult
Via Raiz