Boas soluções para conforto, luz e sombra em moradias já eram praticadas no Recife dos anos 50, 60 e 70 com a sensibilidade e o experimentalismo dos modernistas, informam Fernando e Renata. O suíço Le Corbusier (1887-1965), expoente da arquitetura moderna, propôs levar o jardim para o teto ainda nos anos 20, comenta o arquiteto e urbanista Tomás Lapa, professor da UFPE.
Não era à toa que prédios modernistas tinham beirais (coberturas que se prolongam além do telhado) e janelas recuadas da fachada. Elas permitiam que as janelas ficassem abertas, e a casa arejada, mesmo quando chovia. Ou o peitoril ventilado, aberturas debaixo da janela por onde o vento corria refrescando os ambientes, como o Edifício Acaiaca, na Avenida Boa Viagem.
O Edifício Vila Mariana, construção de 1976 na Rua Padre Roma, Zona Norte do Recife, fez da varanda o quintal dos apartamentos, com plantio de fruteiras, criando um fachada verde, diz Renata. “Essa tradição do conforto ambiental nós tínhamos até poucas décadas, mas se perdeu com as restrições de uma construção massificada. Por economia, tiraram os beirais e as janelas recuadas”, cita, como exemplo.
O Roteiro para construir no Nordeste, lançado 39 anos atrás pelo arquiteto Armando Holanda (1940-1979), já indicava, inclusive com desenhos, princípios de uma arquitetura preocupada com conceitos ambientais da região e integrada com a natureza, além de apresentar soluções para proteger as edificações do sol e da chuva, informa Fernando Diniz.
“Rejeitemos os jardins de vegetação delicada e miúda, arrumada sobre bem comportados gramados, e acolhamos o caráter selvático e agigantado da natureza tropical”, escreveu Armando Holanda na publicação de 1976. “Não podemos fugir da industrialização, pela quantidade de construções dos dias atuais, mas assimilar novos valores não significa, necessariamente, perder outros”, pondera Renata Caldas.
O que faz essa nova arquitetura, resume a professora, é um conjunto de fatores. “Começa focada no meio ambiente, no cuidado com o esgotamento dos recursos naturais, e vai se ampliando. Porém, nosso modelo de desenvolvimento ainda não é sustentável. A construção que se faz hoje tem um caminho longo a percorrer para ser qualificada como boa arquitetura sustentável”, ressalta.
NORMAS
A construção civil, informa José Antônio de Lucas Simón, recorre a materiais mais recicláveis, a fontes renováveis de energia e novas técnicas para racionalizar os empreendimentos e reduzir a quantidade de resíduos, na busca pela sustentabilidade. Nesse novo padrão, as edificações oferecem hidrômetros individualizados e formas de reaproveitamento de água para uso em jardins e na limpeza de áreas comuns.
Janelas maiores para entrar o sol e o vento natural, fachadas ventiladas e lâmpadas mais eficientes estão sendo adotadas pelo mercado, afirma José Antônio, vice-presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil no Estado de Pernambuco. “O cliente quer contas de luz e de água mais baratas”, declara.
“Esse é um debate amplo, pois envolve o processo construtivo sustentável e a qualidade do ambiente construído”, diz o secretário de Desenvolvimento Urbano do Recife, Antônio Alexandre. A prefeitura dispõe de normas e requisitos para diminuir o impacto entre a área natural e a construída, como o muro vazado – com grade, cobogó ou material transparente –, o uso misto da edificação, o jardim externo entre o muro do prédio e a calçada, entre outros.
O telhado verde, recurso para amenizar a temperatura do imóvel, foi instituído pela Lei municipal nº 18.112, de janeiro deste ano. É obrigatório para edificações residenciais com mais de quatro pavimentos e não habitacionais com mais de 400 metros quadrados de coberta, diz Antônio Alexandre.