23 de maio, 2016
Pela primeira vez, durante quatro dias seguidos, toda a eletricidade consumida em Portugal foi assegurada por fontes renováveis. Com um setor elétrico ainda dependente do carvão e do gás natural, Portugal tem um longo desafio pela frente: atingir a meta, no âmbito das diretrizes da União Europeia, de aumentar o peso das energias renováveis de 20,5%, em 2005, para 31% em 2020. Trata-se de um objetivo amplo, que abriga os setores dos transportes, sistemas de aquecimento e arrefecimento e produção de eletricidade.
De acordo com o secretário-geral da Associação Portuguesa de Energias Renováveis (Apren), José Madeiros Pinto, durante esse período, 58% do consumo de eletricidade no país foram assegurados pela energia eólica. A Associação Sistema Terrestre Sustentável (Zero) e a Apren analisaram os dados das Redes Energéticas Nacionais (REN) e concluíram que, durante 107 horas, entre as 6h45 do dia 7 de maio e as 17h45 do dia 11 de maio, todo o consumo de eletricidade em Portugal foi assegurado integralmente por fontes renováveis.
Portugal, no final dos anos 80, havia construído uma enorme plataforma de produção de energia, em que o principal combustível era o carvão. No entanto, a escolha pelo carvão, altamente poluente, levou o país a ocupar o 27º lugar entre os 30 mais poluentes da Europa, segundo o site Energia em Portugal, portal de pesquisa e informações sobre o setor energético no país. Já a política energética da primeira década dos anos 2000 foi marcada por investimentos significativos em fontes de energia renovável. A multiplicação de parques eólicos pelo país é resultado desse posicionamento adotado por Portugal.
“Tínhamos grande dependência das energias fósseis e os níveis de emissões de gás carbônico eram bastante altas. Mas reduzimos em mais da metade essas emissões no sistema elétrico. Em 2000, aqui em Portugal, lançou-se um programa estruturado para a integração de energias renováveis”, explicou. “À época, a energia renovável que tinha maior potencial e se via com melhor futuro era a eólica, que vem crescendo de maneira sustentável e gradual. Foi ela [energia eólica] que deu o aporte para que conseguíssemos ter, de fato, muitos dias em que a produção renovável excedesse as necessidades de consumo”, afirmou Madeiros Pinto.
Cumprimento da meta
Segundo o secretário, a meta proposta pelo país, de atingir 31% da produção com energias renováveis, será difícil de cumprir. Para ele, as áreas de aquecimento e arrefecimento e transportes, que também deveriam contribuir para esse objetivo, não têm avançado muito.
“Estamos muito atrasados em aplicar energia renovável na área do aquecimento. Os transportes estão na casa dos 5% em percentual de renovável, com os biocombustíveis. Na parte elétrica, que é o nosso setor, estamos com 52% de renovável e temos que chegar aos 60%. Julgamos que não vai ser possível alcançar, mas não ficaremos longe”, disse.
Atualmente, a produção de energia hídrica cobre entre 25% e 28% do consumo final de energia elétrica, e a média anual da eólica fica em cerca de 25%. De acordo com Madeiros Pinto, a energia solar ainda está dando os primeiros passos no país. “Embora tenhamos na zona sul um bom potencial solar, isso está muito pouco desenvolvido e não representa mais que 1% ou 1,5% das nossas necessidades.”