São Paulo – Dispositivo criado para aquecer água de torneiras e chuveiros através do calor da geladeira ainda pode contribuir para diminuir o consumo de energia dentro das residências
São Paulo- Cada vez mais preocupados com o esgotamento de recursos naturais devido a sua utilização inadequada ou excessiva e pensando em alternativas para aumentar a eficiência energética de aparelhos domésticos e comerciais, pessoas preocupadas com o futuro energético procuram novas soluções e tecnologias para o nosso consumo. Pensando nisso, um aluno da Escola Politécnica da USP, com ajuda de seu professor, desenvolveu uma geladeira que resfria alimentos, esquenta água do chuveiro e das torneiras e ainda gasta menos energia em seu funcionamento.
O projeto foi desenvolvido como trabalho de conclusão de curso do aluno da USP, Lucas Zuzarte, sob orientação do professor José Roberto Simões Moreira, que é o coordenador do Laboratório de Sistemas Energéticos Alternativos (Sisea) do Departamento de Engenharia Mecânica da Poli-USP. Zuzarte realizou um estudo dentro do projeto de Pesquisa & Desenvolvimento de eficiência energética em postos de combustíveis de São Paulo. Nessa pesquisa, descobriu-se que parte da energia elétrica dos aparelhos de ar condicionado das lojas de conveniências era consumida em função do calor lançado pelas geladeiras comerciais, conhecidos como balcões frigoríficos.
Com essa informação, o objetivo foi de criar uma forma para aproveitar o calor rejeitado pelas geladeiras de uma forma eficiente e que reduzisse a carga do sistema de ar condicionado. Segundo o professor José Simões, o objetivo foi plenamente alcançado e acabou gerando um produto com mais funcionalidades e com vantagens técnicas e econômicas.
O projeto deu tão certo que a Poli-USP patenteou a tecnologia e pretende apresentar a inovação para os fabricantes de geladeiras que poderiam oferecer essa tecnologia como opcional na compra do eletrodoméstico. Potencial de mercado é o que não falta. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), só no Brasil existem mais de 50 milhões de refrigeradores em uso.
O professor Simões vai além e diz que esse sistema poderia ser empregado não só nas geladeiras da linha branca e balcões frigoríficos comerciais, como inclusive no ar condicionado.
Simões diz que até o momento apenas um fabricante de balcões frigoríficos procurou mais informações sobre a nova tecnologia, mas os entendimentos ainda não avançaram. “Estamos aguardando o fabricante interessado em adquir a patente para utilização”, explica Simões.
“Basicamente, o sistema que desenvolvemos capta o calor que é naturalmente produzido no processo de refrigeração”, resume Simões. Na prática, funciona assim: no processo de circulação do gás refrigerante da geladeira, o gás é aspirado pelo compressor e comprimido, o que resulta em aumento da pressão e temperatura do gás. Daí ele prossegue para um condensador — uma espécie de serpentina que fica na parte posterior da geladeira doméstica, onde o calor é dissipado.
“O que fizemos foi aproveitar a energia térmica gerada no processo de compressão, que atinge cerca de 60 °C”, explica. “Inserimos um tanque de água entre o compressor e o condensador permitindo, assim, que o calor do gás quente fosse transferido para a água em vez de ser dissipado para o ambiente em que se encontra a geladeira”, acrescenta.
Segundo os testes realizados com uma geladeira comercial de 565 litros e um tanque de 25 litros acoplado ao sistema, a economia seria superior a R$35 ao mês em comparação ao uso de aquecedores elétricos. Além de aumentar a eficiência energética de performance do refrigerador em mais de 13% e o consumo de energia do compressor ser reduzido de 7 a 18%, segundo os testes realizados em laboratório.
A capacidade de aquecimento do equipamento, no entanto, depende de algumas variáveis. “Da potência da geladeira e do regime de uso do refrigerador”, resume Simões.
Por outro lado, o custo de todos os equipamentos do sistema não é alto. No caso de um sistema com tanque de 25 litros, o retorno do investimento ocorreria em cerca de um ano. Simões pondera que o processo é mais eficiente em refrigeradores comerciais por causa da potência dos aparelhos. No caso de utilização de energia para aquecimento de água em residências a redução no valor da conta de luz ficaria entre 15 e 20%. Caso alguém se interesse em implantar o sistema em sua residência, que segundo o professor é muito prático e fácil, esta não gastaria mais de R$ 400, contratando um técnico em refrigeração e incluindo material e mão de obra.
Simões reconhece que sistemas similares existam em outros país, mas desconhece o uso desse equipamento, especificamente lá fora, e é otimista em dizer que essa nova tecnologia poderia ser empregada em todo o país.
Via Procel Info – procelinfo.com.br