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Estilista cria vestidos de festa de até R$ 2 mil com papel higiênico e PETs

03 de setembro, 2015

Lua Guirra desenvolveu talento após desfile beneficente de creche do DF. Ela foi convidada para ir à Itália; peças levam até 60 dias para serem feitas

A origem humilde não impediu que a estilista Lua Guirra, de 35 anos, atingisse a alta costura no Distrito Federal: objetos que normalmente iriam para o lixo – como garrafas PET, fitas VHS, caixas de ovos, jornais e plásticos – ganham nova utilidade pelas mãos dela e se transformam em peças de até R$ 2 mil. Entre as criações está um vestido de noiva feito com 30 rolos de papel higiênico e tiras de TNT.

“Faço aquele trabalho artesanal e fico feliz em criar coisas diferentes, únicas, que ninguém imaginava fazer com esse tipo de coisa. Já vi peças parecidas com as minhas com pano, mas não trazendo do lixo. O bom que estou vendo nisso é fazer uma arte única”, conta.

As primeiras experiências no mundo da moda começaram na infância. Quando criança, Lua costurava roupas de bonecas. Na adolescência, não gostava de estar igual aos outros e decidiu fazer as próprias peças. Depois de adulta, se especializou em customizar e ajustar vestidos de noiva em ateliês de Brasília. Também já trabalhou como modelo em algumas ocasiões.

Mas o envolvimento mesmo com a profissão só aconteceu quando, a pedido de uma dos nove irmãos, criou vestidos para um desfile beneficente de uma creche de Planaltina, em outubro de 2013. As peças dela chamaram a atenção, e Lua passou a ser convidada para eventos e fotos de revistas.

Desde então, a mulher conta ter feito 20 eventos e criado 30 peças. A matéria-prima vem de doações de amigos e vizinhos, além de fãs em redes sociais. Restos de bijuterias, copos descartáveis, cadernos, formas de brigadeiro, folhas de cajueiro e livros se juntam, no ateliê improvisado em casa, às colas-quentes e linhas compradas por Lua.

“Todos os desfiles me emocionam. Nas faculdades, alunos de moda assistindo, depois virem fazer entrevista comigo porque não entendiam tanto talento; não tenho palavras para descrever. É gratificante demais”, afirma a mulher.

O tempo de produção de cada peça varia entre uma semana e dois meses. Por causa do material, a estilista recomenda que as roupas sejam mantidas em ambientes secos e sem exposição ao sol. Os itens geralmente são feitos para eventos de empresa, e a estilista tem 16 modelos voluntárias para apresentá-los.

A estilista Lua Guirra, que cria vestidos de festas a partir de itens que iriam para o lixo em Brasília (Foto: Rodrigo Rodrigues/Divulgação)

“Há pouca encomenda, porque ainda há muito preconceito em relação ao uso de material reciclável”, explica Lua. “Reciclagem aqui no Brasil é visto como lixo. Simples assim.”

Apesar da baixa procura de clientes, a mulher já recebeu convite para levar o trabalho para a Itália. Ela agora busca patrocínio para conseguir fazer a viagem e passar um ano em Milão estudando moda. 

“O diferencial é o alerta ambiental e conscientização, além da arte de criar looks chamativos, que mexe com a imaginação do público”, avalia a estilista. “E o maior benefício é o prazer de ser reconhecida através da arte da reciclagem.”

Vestidos feitos por estilista de Brasília, aproveitando materiais que iriam para o lixo (Foto: Rodrigo Rodrigues/Divulgação)

Dificuldades
Lua lembra que tinha 13 anos quando o pai abandonou a família. Aos 16, começou a trabalhar como babá para ajudar nas contas de casa. Ela também foi recepcionista, garçonete e secretária.

“Eu tive que me virar cedo. A gente tentava ajudar a mãe da gente no que precisava. Não chegamos a passar necessidade porque minha mãe não deixava. Ela era só dona de casa, mas então virou cuidadora em casa e em clínicas ou diarista”, lembra.

Vestidos feitos por estilista de Brasília, aproveitando materiais que iriam para o lixo (Foto: Rodrigo Rodrigues/Divulgação)

A estilista parou de estudar no final do ensino médio e decidiu se dedicar à prática da costura. O único curso durou uma semana. Atualmente, a mulher mora sozinha.

“Eu não gostava de modinha, nunca gostei. Acho que, tipo assim, fica tudo meio zumbi. As pessoas todas andam iguais. E acho que tem como ter bom gosto e ser diferente ao mesmo tempo. Não precisa sair com a melancia no pescoço para isso”, afirma a mulher.

Vestidos feitos por estilista de Brasília, aproveitando materiais que iriam para o lixo (Foto: Rodrigo Rodrigues/Divulgação)

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