As chuvas deste início de ano e a crise hídrica fizeram mais pessoas olharem com atenção para as árvores. Não só para as que caíram em seu caminho, bloqueando a passagem, mas também para as que ficaram em pé: estão fortes para resistir a novos temporais? Têm fungos? Cupim? Galhos secos? Cascas soltas?
Juliana Gatti, diretora do Instituto Árvores Vivas, notou neste trimestre um aumento do número de interessados em saber mais sobre elas. É um bom sinal de maior conexão das pessoas com a natureza urbana.
Árvores têm sistema imunológico, podem contrair doenças virais e bacterianas. Elas se ressentem da falta de espaço. Com pouca terra ao seu redor, ficam sufocadas, não recebem os nutrientes necessários. Há quem cimente a calçada até o tronco da planta, o que é fatal, pois apodrece a raiz em poucos anos.
“Tudo conspira contra a árvore em São Paulo”, lamenta o ambientalista Ricardo Cardim. Fios elétricos deveriam ser enterrados porque, no alto, levam os técnicos da prefeitura a fazer podas drásticas, que muitas vezes desequilibram o funcionamento da planta. No solo, os 60 centímetros de terra vistos normalmente envolta do tronco não são suficientes, obrigando as raízes a romperem a calçada em busca de espaço.
Cuidados necessários
Como não dá para estabelecer um limite ideal de diâmetro, Cardim recomenda deixar o maior espaço de terra possível. “Se a calçada permite a largura obrigatória para a passagem do pedestre (1,20 metro), o resto pode ser terra”, diz ele. No entanto, isso esbarraria na largura irregular e por vezes estreita das calçadas paulistanas. Seria preciso redesenhá-las, acredita o professor de fisiologia vegetalMarcos Buckeridge, para quem uma saída inovadora poderia vir, por exemplo, de um concurso que convidasse arquitetos a apresentar propostas.
No curtíssimo prazo, Cardim aponta cuidados menos complexos que já poderiam estar em execução, ao menos na hora do plantio. Cavar um buraco profundo para o enraizamento mais apropriado, usar terra fofa em vez de compactada e deixá-la abaixo do nível do cimento, facilitando o escoamento da água. Nesse sentido, aquelas muretas ao redor do vegetal não são funcionais, só estéticas. “É um costume que não se justifica”, diz.
Adubação e poda precisam ser feitas por especialistas por exigirem conhecimentos técnicos. Mas a população pode atuar como guardiã, não ferindo o tronco, reservando solo permeável e acionando a subprefeitura local ou o Serviço de Atendimento ao Cidadão (sac.prefeitura.sp.gov.br) sempre que notar a presença de fungos e outros problemas.
Mais informação e afeto
Defendendo campanhas de conscientização, o professor Marcos Buckeridge, do Instituto de Biociências da USP, diz que a árvore precisa fazer parte da vida das pessoas, assim como os cães e os gatos fazem. “Entendendo como ela funciona é muito difícil não se apaixonar”, diz.
Além de oferecer sombra, água fresca (uma árvore grande libera1.000 litros de água por dia na atmosfera, umidificando o ar) e reduzir a poluição do ar e sonora, existe na planta uma sabedoria para planejar o próprio desenvolvimento. “Nenhum galho, tronco ou estrutura vem ‘do nada’, as raízes certificaram que ela tenha condição de sustentar a posição, tamanho, peso, extensão de cada galho”, explica Juliana.
Para ela, parte do descaso com a árvore tem a ver com o sentido de posse, como se, pelo fato de estar na rua, ela fosse de todos e ao mesmo tempo de ninguém.
Do lado da prefeitura, um problema apontado pelos três especialistas entrevistados é a falta de conhecimento sobre as espécies da cidade. Uma maior aproximação entre o órgão público e a comunidade científica seria muito positiva, na opinião do professor Buckeridge.
Do lado da população, o caminho para se reconectar à natureza, segundo Juliana, é pelo afeto. Evocar lembranças pessoais relacionadas às árvores e estimular o contato com ela através dos sentidos transforma a percepção do indivíduo: “A árvore deixa de ser apenas um tronco marrom com folhas verdes”.
MUNDO AFORA
Tudo sobre a luz
Para ressaltar o papel da luz e das tecnologias ópticas na sociedade, a ONU declarou 2015 o Ano Internacional da Luz. O light2015.org, site oficial do tema, contém uma lista de sites e vídeos interessantes para cientistas, professores e estudantes de diferentes idades. Mostra, por exemplo, como cientistas usam smartphones para medir as poluições luminosa e do ar e contar a história do laser e suas aplicações, falar da importância da luz na fotossíntese das plantas e quais são as iniciativas mundiais em energia solar.
Economias ameaçadas
O relatório anual da consultoria Earth Security faz alertas e sugere caminhos para alguns países que perigam perder commodities importantes. Entre eles está a Suíça, orientada a capacitar pequenos agricultores de cacau de Gana e Costa do Marfim (África) — seus principais fornecedores, cuja produção deve entrar em colapso até 2020. No Egito, Etiópia e Sudão a incapacidade do Rio Nilo para abastecer a agricultura regional torna urgente o manejo agrícola e a gestão hídrica eficiente. Em Cingapura, o combate a incêndios e manejo sustentável da madeira e óleo de palma são as recomendações para reduzir a poluição do ar, grave problema de saúde pública local. Veja no site.
VALE O CLICK
PARQUES PAULISTANOS
O Áreas Verdes da Cidade é um site que traz fotos e informações sobre mais de 100 parques da capital paulista. A cada mês entram dois novos locais no acervo. O mais recente é o Parque Sena, localizado na Serra da Cantareira. Sem grades ao redor, parece uma praça à primeira vista. Mas seus 22 mil metros quadrados de área abrigam 21 espécies de aves e um extenso bosque.
UCs INOVADORAS
O Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade criou uma área específica em seu site para divulgar projetos inovadores implementados em Unidades de Conservação, todos com potencial de replicação.
EDUCAÇÃO PARA ÁGUA
No site aguaegestao.com.br é possível conhecer 34 cursos gratuitos e à distância sobre recursos hídricos e um game on-line. Chamado Água em Jogo, desafia o participante a administrar a água que abastece uma região, garantindo que ela não falte e que tenha qualidade. O projeto é da Agência Nacional de Águas e da Fundação Parque Tecnológico Itaipu.