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Energia

“A era do petróleo está chegando ao fim”, afirma Rockefeller Fund

19 de janeiro, 2016

Em entrevista à DW, o presidente do fundo explica a coerência de deixar investimentos em petróleo e partir para as energias limpas – com a bênção póstuma do partriarca John D. Rockefeller.

Fundado em 1940 pelos filhos de John D. Rockefeller Jr., o Rockefeller Brothers Fund é uma fundação internacional dotada com 860 milhões de dólares. Com o anúncio de que sairia do mercado de petróleo e carvão, o fundo de investimentos tirou quase 1 bilhão de dólares do mercado de combustíveis fósseis e investiu-os na economia verde – tornando-se figura de destaque no movimento do desinvestimento.

Stephen Heintz é seu presidente desde 2001. Em entrevista à DW, ele fala sobre o que está por trás dessa ação, e porque é coerente uma empresa que cresceu às custas do petróleo deixar de investir em combustíveis fósseis.

DW: John D. Rockefeller (1839-1937) inaugurou uma nova era na história com a Standard Oil. Agora a família Rockefeller está encerrando a era do petróleo?

                                                            Stephen Heintz: energias limpas são o futuro

Stephen Heintz: Nós temos a esperança de ajudar a encerrar a era do petróleo. É hora de se afastar dos combustíveis fósseis e se mover o mais rápido possível em direção a energias limpas e renováveis, a fim de salvar o planeta. A era do petróleo está agora encontrando o próprio fim.

Porque o anúncio de que o Rockefeller Brothers Fund está saindo do mercado de petróleo e carvão causou tanta surpresa?

É irônico uma família cuja riqueza foi criada com a indústria do petróleo estar agora na liderança dos esforços para abandonar os combustíveis fósseis.

Os Rockfellers são uma das famílias mais ricas e influentes nos Estados Unidos. Qual foi o impacto do anúncio?

Eu acredito que ajudou a chamar a atenção para os riscos das mudanças climáticas e contribuiu de maneira significativa para dar impulso ao movimento de desinvestimento. Esperamos que isso ajude a criar uma mudança histórica.

Há cifras?

No momento em que os líderes mundiais se reunirem em Paris em dezembro para a conferência do clima, esperamos que o volume total de recursos alienados por investidores que se comprometeram a retirar fundos de combustíveis fósseis chegue a mais de 2,5 trilhões de dólares. Talvez mais.

Muitas instituições estão saindo do mercado de petróleo, carvão e gás. Proibir o carvão é um primeiro passo importante. Durante a Conferência do Clima em Paris, esperamos anunciar mais de 200 instituições participantes do movimento de desinvestimento – algumas são grandes.

Qual é a razão para essa enorme realocação de investimentos?

Uma urgência moral, assim como o impacto econômico global do carbono. Um de nossos outorgados é a Carbon Tracker, uma sofisticada organização de pesquisa sediada em Londres. Suas análises indicam que de 60% a 80% das reservas conhecidas de combustíveis fósseis devem permanecer no solo, sem serem queimadas. Essa é a única chance de nos mantermos abaixo da linha de aumento de 2°C na temperatura global, evitando maiores catástrofes climáticas.

Em 2014, o secretário-geral da ONU Ban Ki-moon e mais de 400 mil manifestantes marcharam pelas ruas de Nova York com o fim de mobilizar o ativismo em prol do clima. Os acionistas temem que as vendas de petróleo, carvão e gás diminuam?

Sim. Novas e indispensáveis leis climáticas e impostos sobre a emissão de CO2 vão desvalorizar esses recursos.

O que o senhor disse aos membros da família Rockefeller?

Nós dissemos que, como um fundo de doações que concede mais de 40% de seus subsídios para combater alterações climáticas, é moralmente inconsistente permanecermos investindo na indústria do combustível fóssil. Além disso, há uma forte causa econômica para sair do mercado de petróleo, carvão e óleo de alcatrão, e transferir os investimentos para energias limpas e novas tecnologias.

Em 1870, John D. Rockefeller fundou a Standard Oil, transformando-se no homem mais rico de seu tempo. Será que ele se reviraria no túmulo, ao saber das novidades?

John D. Rockefeller era um empreendedor e inovador brilhante. Ele tirou vantagem do que viu no futuro. Ele percebeu que o petróleo, essa nova substância que acabara de ser descoberta, tinha potencial para transformar o mundo – e gerar muito dinheiro. E fez as duas coisas.

O que Rockefeller faria hoje?

A Standard Oil foi a primeira companhia realmente global. John D. Rockefeller era um pensador e agente global. Hoje, ele estaria olhando para a Terra e vendo os enormes riscos da mudança climática, com conseqüências econômicas devastadoras, e grandes oportunidades no setor verde. Ele estaria olhando para a energia limpa e diria: “É para lá que o mundo está indo. É para lá que o mundo precisa ir. Eu quero chegar lá antes, para obter retornos significativos.”

Que tipo de organização é o fundo de investimentos Rockefeller Brothers Fund?

Nós somos uma fundação de concessão de subsídios com uma dotação de cerca de 860 milhões de dólares. Combater as alterações climáticas é a nossa prioridade número um. Cerca de 40% de nossos subsídios anuais são atualmente dedicados a salvar o clima. Por isso, nos sentimos cada vez mais desconfortáveis em financiar indústrias que estão causando o aquecimento global.

Quão próximo está o fim da era do petróleo?

Restam provavelmente de 20 a 30 anos.

Ainda é possível prevenir os cenários mais terríveis?

                                                              Antiga refinaria da Standard Oil: marco de uma era que se encerra?

Estamos diante de dois momentos de guinada concorrentes na história global. Um deles é o clima: um ponto sem retorno. Se passarmos dele, não há mais recuperação, e nós sofreremos consequências devastadoras.

O outro é a reviravolta da economia verde. E a questão é qual ponto vamos atingir em primeiro lugar. É uma corrida contra o tempo. Temos de fazer tudo o que for possível para atingir o ponto da energia limpa em primeiro lugar.

O que acontece se falharmos?

Vamos enfrentar enormes transtornos climáticos, derretimento do gelo nos polos, secas e tempestades mais extremas e frequentes. Haverá uma perda massiva de espécies, e teremos que enfrentar enormes desafios para fornecer comida e água a bilhões de pessoas. Cidades ficarão debaixo d’água, ilhas inteiras desaparecerão. Haverá centenas de milhões de refugiados do clima.

Esse sofrimento e a luta por comida e água têm o potencial de causar novas guerras e conflitos. Nós poderíamos passar de uma era de guerras do petróleo para um período de guerras climáticas. Se não prevenirmos as alterações climáticas, a crise de refugiados que vemos hoje vai parecer pequena, comparada à crise que vai acontecer no final do século.

O que fazer?

Temos de acelerar e fazer investimentos maciços em energias limpas. Enquanto sociedade global, temos que proteger o planeta que temos. Este único planeta, do qual toda a vida depende.

Via DW – Irene Hell

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