Por Nadia Cozzi
Afastada do trabalho por conta de uma crise na vesícula, aproveitei para colocar a leitura em dia e não é que encontrei uma reportagem da Revista Vida Simples de dezembro de 2011 com o título “A Revolução começa no seu Prato”, que há muito tempo havia separado para ler e não tinha dado tempo.
A chamada da reportagem já nos faz pensar: “O que você come não determina só sua saúde. A decisão de comprar alimentos orgânicos, priorizar a agricultura local ou saber extrair tudo o que um ingrediente tem a nos oferecer pode ser o primeiro passo para tornar o mundo muito mais sustentável”.
Simples assim, comemos todos os dias, várias vezes ao dia, se tivéssemos a postura de criar em nossa casa pratos com a maioria dos ingredientes nativos da nossa região, como fez o Chef René Redzepi citado na reportagem, já estaríamos prestando um imenso serviço à preservação do nosso Planeta.
Precisamos entender que nossas posturas alimentares podem fazer uma verdadeira revolução sustentável. Não acredita?
Que aconteceria se falássemos NÃO aos alimentos cultivados com defensivos agrícolas? Às carnes que, além dos resíduos de agrotóxicos vindos da sua alimentação, ainda tem os promotores de crescimento e antibióticos, isso sem falar no sofrimento dos animais e nos impactos que a pecuária provoca ao meio ambiente. Aos alimentos industrializados carregados de aditivos químicos, simplesmente para que durem mais nas prateleiras dos supermercados aumentando os lucros da indústria alimentícia?
Comer deve ser um ato responsável, até porque o alimento que escolhemos transforma-se em células, tecidos, neurônios, no nosso corpo, na nossa saúde enfim. Mas mais que isso nossos atos alimentícios podem ou não causar um grande impacto coletivo.
Imagine que você vai a um restaurante e pede o prato do dia: arroz, legumes grelhados e bife. Cada um desses alimentos tem uma cadeia produtiva: consumo de água, uso do solo (mesmo no caso da vaca, que come o pasto), geração de empregos, biodiversidade, emissão de gases do efeito estufa… Uma infinidade de relações que envolvem desde questões ambientais (pegada de carbono, recursos hídricos) a sociais (trabalho adequado, pagamento justo). Tudo isso é afetado por aquela simples refeição. Imagine agora o impacto que teriam as refeições de 7 bilhões de pessoas do mundo que se alimenta, 365 dias (e aqui vamos fingir um mundo ideal em que não existe a fome).
Muitas outras coisas causam impactos ambientais, mas nos alimentamos todos os dias, várias vezes. Por isso precisamos nos relacionar de maneira mais consciente com o que comemos. Começar a nos preocupar de onde vem este alimento, como ele foi cultivado, e aqui vai outra parte brilhante do texto:
É um contrassenso que possamos optar pela origem de um aparelho celular, mas não do que comemos. Aceitamos o que é colocado em nosso prato sem maiores questionamentos, desconhecemos o processo de produção do que ingerimos. (Georges Schneyder, ambientalista e um dos idealizadores da Carta de São Paulo, documento criado em 2010 no Brasil que prega alguns preceitos de uma gastronomia mais sustentável)
Eu acrescentaria que temos uma atitude inconseqüente com os impactos desse alimento em nossa saúde, em nosso futuro, em nossa família. E ainda pagamos por esse produto sem qualidade, doente e altamente intoxicante ao Ser Humano e Meio Ambiente. Mas mudar dá trabalho não é?
Carlo Patrini, criador do Slow Food acredita que para começar uma revolução devemos ter conhecimento. Um alimento deve ser saudável, saboroso, rico em nutrientes. Sua produção deve levar em conta o ecossistema, a fertilidade do solo, ser econômica e socialmente justa, valorizando quem trabalha na sua produção. É a Ecogastronomia, conjugando alimentação com consciência e responsabilidade, conectando o prato ao Planeta. Quem quiser conhecer melhor o Slow Food pode assistir este vídeo do Webfilhos, onde entrevistei a Cenia Salles uma das responsáveis do movimento aqui no Brasil.
O caminho está no retorno, no equilíbrio, no exemplo das nossas bravas avozinhas, titias e mãezinhas que em sua sabedoria tinham uma relação bem maior com a terra e o cultivo dos alimentos, consequentemente com a formação de sua família.
Eu recomendo a leitura total da reportagem e se encantar com a experiência da família Dervaes que criou um sítio urbano na Califórnia que produz mais de 400 tipos de vegetais, além de uma criação de galinhas, cabras e a produção de ovos, leite e mel. As fazendas “colha e pague”, cooperativas de agricultores onde você colhe seus alimentos e paga por eles sem precisar ter um terreno para o cultivo. Uma nova perspectiva de nossa relação com as águas e os peixes, o movimento dos semi-vegetarianos e o uso integral dos alimentos. Vale a pena ler com calma e atenção.
Duas receitas para aproveitar os alimentos
Arroz de Forno
Ingredientes
2 xicara (chá) de arroz orgânico cozido
2 colheres (sopa) manteiga
3 colheres (sopa) queijo ralado na hora
3 gemas tipo caipira
Sal marinho a gosto
Azeite extra virgem
Farinha de rosca
Modo de preparo
Misture o arroz com a manteiga, o queijo, as gemas desmanchadas em um pouco de farinha de rosca. Arrume em uma travessa. Polvilhe queijo ralado e leve ao forno brando. Pode acrescentar legumes e fica um prato completo. Sirva quente. Enfeite como gostar mais, podem ser rodelas de ovos cozidos, castanhas picadinhas, salsinha, etc.
Tem pão sobrando? Que tal uma salada caprese no pão?
Ingredientes
6 fatias de pão de forma integral
3 colheres (sopa) de azeite extra virgem
Sal marinho a gosto
1 colher (sopa) de folhas de manjericão
2 tomates orgânicos cortados em 6 rodelas
6 fatias de queijo branco
2 colheres (sopa) de vinagre balsâmico
Alface orgânica picadinha
Modo de preparar
Aqueça o forno a 180 ºC. Corte as fatias de pão, distribua numa assadeira e regue com a metade do azeite. Polvilhe o sal e salpique metade das folhas de manjericão.
Leve ao forno para o pão ficar levemente crocante. Retire do forno e coloque em cada fatia o alface, uma fatia do tomate e o queijo. Regue com o vinagre balsâmico, o restante do azeite e salpique as folhas de manjericão.
Imagens: Vida Simples / Economic Times / Stock / The Guardian
Via Coletivo Verde – coletivoverde.com.br
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