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Sentados em ouro: por que ainda não aproveitamos a Biodiversidade?

05 de janeiro, 2016

O que de real falta: tecnologia, ciência, investimentos, leis adequadas ou mera vontade política?

O que muita gente questiona – e com toda razão – é como temos tantas riquezas e ainda não aproveitamos adequadamente. A região amazônica é –  com o perdão da comparação –  o “Banco Central” em recursos naturais: bioenergia, biodiversidade, mineração, hidroenergia etc. Mas explora-se muito pouco do seu real potencial, com destaque para a indústria mineral, hidroelétrica e a petrolífera e, mesmo assim, em projetos pontuais.

Claro que se deve olhar com cautela este termo “explora-se”. Ninguém em sua saúde mental em dia defende o uso indiscriminado destes recursos sem respeito às leis, ao equilíbrio ecológico, sustentável e também à distribuição equitativa de renda para todos. Não.

O que ocorre, contudo, é que há a síndrome do “pão-duro” que guarda dinheiro no colchão, com medo de usar ou por não saber usar. Noutras palavras: perde-se potencial gigantesco.

Mas seria isso mesmo? O que de real falta: tecnologia, ciência, investimentos, leis adequadas ou mera vontade política?

Da pesquisa à indústria

Veja o caso da biodiversidade. Das plantas, animais e microorganismos há uma vasta e enorme potencial para produção de remédio e cosmético – só para ficar nos casos mais populares e famosos. Mas, se pensarmos em geração de produtos efetivamente lançados, pouco avançamos.

E o que estamos fazendo,  estamos ao menos pesquisando? E olha que estamos a reclamar de pesquisa bem básica mesmo, bem longe ainda do casamento laboratório-indústria. De fato, sim, há pesquisa pronta, mas ainda pouca para os recursos que temos ( embora, paradoxalmente, são muitos resultados científicos frente aos produtos disponíveis no mercado – com raríssimas exceções).

Povos tradicionais

Há quem defenda que o uso extrativo, feito atualmente pelos povos da floresta, já justificaria o uso sustentável. A tese é a de que somente estes grupos detêm o conhecimento adequado para usar sem destruir; que não haveria como obter mais benefícios sem que se degrade e cause mais problemas. E há até quem diga mais: que o uso industrial é uma forma de curva-se ao capital, à grande indústria que só quer lucro.

Bem, em parte é verdade. Indústria quer sim lucro – se não nem existiria. A discussão não é o velho “Fla-Flu” capitalismo x socialismo ou “tradicional x industrial”. Há formas de se inserir a discussão da sustentabilidade no meio empresarial, e forçar o reconhecimento pelo “capital” de que o lucro, por si só, nos dias atuais não resulta em grande vantagem. Há de se pensar maior.

Por décadas esta idéia é defendida por gente do ramo. A nova lei de acesso aos recursos genéticos vai por este caminho: o casamento da indústria com o conhecimento tradicional, mas ainda há resistência de alguns setores.

Mas tem um problema: este uso extrativista só faria sentido para os produtos do setor primário (alimentos, fibras ,madeira, óleos, etc), não sendo viável na mineração e hidrelétricas, ou mesmo medicamentos mais complexos: os investimentos são mais vultosos nestes casos.

Para o Amazonas, em especial, o futuro é promissor. Grande e maior protetor das florestas (em números absolutos e relativos), o Estado tem oportunidades para produção de fármacos, entrada no mercado de carbono (embora uma incógnita, mas já é realidade), manejo de madeira certificada e mineração (caulinita, petróleo, pedras preciosas etc).

Estas chances, talvez, nos façam levantar do pote-de-ouro e passarmos a utilizá-lo mais e melhor. Simples? Não. Mas já é um começo.

Via Portal Amazônia por Ronaldo Pereira Santos

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