06 de junho, 2015
Recentemente o ovo foi absolvido das acusações que o perseguiram por décadas: afirmavam que não se tratava de um alimento saudável, que seu colesterol era dos piores, que engordava. Hoje, diz-se que a proteína do ovo é valiosíssima e tanto a clara quanto a gema têm substâncias que fazem bem para o cérebro e atuam na prevenção de doenças degenerativas, especialmente se o ovo for orgânico.
Mas são vários os equívocos cometidos na escolha dos ovos. Um deles é acreditar que ovo caipira é sinônimo de ovo orgânico quando, na verdade, ovos orgânicos são obrigatoriamente caipiras, mas ovos caipiras podem não ser orgânicos. Outro é superestimar as cores da casca e da gema. Instigados por esses dúvidas, vamos tentar esclarecê-las.
A cor da casca
Antes de mais nada, vale esclarecer o principal mito, que diz respeito à cor da casca. Enquanto alguns acreditam que ela indica se o ovo é caipira ou não, a cor da casca é determinada apenas pela genética das galinhas: ovos vermelhos são colocados por galinhas vermelhas e ovos brancos por galinhas brancas. O ovo vermelho, ou marrom, não é mais rico nutricionalmente do que um ovo branco e é possível que um ovo branco seja, sim, caipira ou orgânico. Também é possível encontrar ovos azuis, pretos ou acinzentados, e a cor não faz diferença nenhuma na qualidade do ovo.
Foto: freeimages.com
O lado verdadeiro do mito nos foi esclarecido por Jefferson Schmitz, da família produtora de ovos orgânicos Schmitz, de Feliz (RS). Ele nos explica que as galinhas brancas tendem a não se acostumar com o clima local para viverem soltas, por isso, ao menos no Rio Grande do Sul, é bem mais comum encontrarmos ovos orgânicos e caipiras de galinhas vermelhas. Ainda assim, a cor vermelha, ou marrom, não é nem de longe garantia de que o ovo é caipira ou orgânico, como alguns acreditam.
A cor da gema
Outro mito comum diz respeito à cor da gema, atribuindo ao tom alaranjado à abundância de sabor e nutrientes. O senso comum acredita que, quanto mais pigmentada a gema, mais saboroso o ovo, o que não é necessariamente verdade já que a cor da gema depende única e exclusivamente da alimentação da galinha. Assim, um ovo com a gema amarelinha de uma galinha que se alimentou apenas de produtos orgânicos tende a ser mais saboroso do que o ovo com a gema alaranjada de uma galinha convencional alimentada com ração transgênica. Se na produção convencional as galinhas colocam muito mais ovos do que na produção orgânica, a gema tende a ser mais pálida e, muitas vezes, ganha até aditivos químicos para ter sua tonalidade intensificada, como a ração pigmentada artificialmente dada às galinhas.
Foto: Creative Commons, Flickr
Como as diferenças entre os ovos vão muito além da casca e da gema, vale falarmos um pouco sobre cada um deles.
O ovo de granja
O ovo convencional ou de granja, ao contrário do que as ilustrações nas embalagens podem sugerir, não sai de galinhas livres, criadas soltas. Para sabermos como são produzidos, podemos imaginar uma linha de produção semelhante a de uma fábrica, mas com as máquinas sendo substituídas porgalinhas poedeiras (denominação dada àquelas destinadas à produção de ovos). Forçadas artificialmente a colocar mais ovos, as aves são confinadas em ambientes iluminados 24 horas por dia.
Foto: Creative Commons, Farm Liberation Flickr
Nessas “gaiolas em bateria”, elas permanecem em um espaço menor do que uma folha de ofício por toda a sua vida, incapazes de andar, ciscar, saltar e exercer qualquer um de seus comportamentos básicos. Muitas vezes tem o bico cortado para que comam mais, não se tornem carnívoras quando estiverem com fome e não briguem com outras galinhas.
Sua ração consiste basicamente em soja e milho de origem transgênica, com mais destaque a um ou ao outro ao longo do ciclo produtivo. Além disso, recebem farinhas de origem animal que são basicamente subprodutos não comestíveis (ou seja, restos) originários de bovinos, aves e peixes. Pelo tipo de alimentação, e por serem transformadas em máquinas, produzem ovos menos saborosos. Esses ovos chegam ao consumidor camuflados por processos industriais capazes de acentuar artificialmente as características perdidas e intensificar aroma, cor e cheiro.
O ovo caipira
Se uma galinha poedeira de granja põe 300 ovos por ano, uma galinha caipira põe apenas 80: a principal diferença é que o intuito da produção é alimentar, e não apenas vender. Também chamados de ovos coloniais e ovos de capoeira, os ovos caipiras são botados em ninhos cobertos por galinhas que vivem fora de gaiolas, ciscando, pulando e ensinando seus pintinhos a caçarem minhocas no solo livremente.
Foto: freeimages.com
Por legislação, a alimentação deve ser toda de origem vegetal e sem a pigmentação que costuma ser utilizada para acentuar a cor da gema artificialmente nas criações industriais. Elas também não devem tomar remédios ou antibióticos, mas podem fazê-lo ocasionalmente com supervisão veterinária.
O ovo orgânico
A principal diferença entre os ovos caipiras e os orgânicos é a alimentação: para produzir um ovo certificado como orgânico, a galinha deve receber uma alimentação 100% orgânica, sem agrotóxicos e fertilizantes. Remédios para crescimento e antibióticos também não são permitidos em nenhuma hipótese, garantindo que o ovo chegará no consumidor sem nenhum resíduo químico.
Jefferson Schmitz é membro de um grupo pioneiro na produção de morangos orgânicos no Estado, e comercializa produtos ecológicos desde 1972. Com o objetivo de diversificar seus produtos, também passaram a produzir ovos na propriedade. “Usamos o esterco da galinha como adubo, produzimos o milho também, e vamos fechando ciclos em que tudo é aproveitado para sermos sempre ecológicos”, explica.
Feira Ecológica do Menino Deus – Foto: Equipe Teia Orgânica
Ele reforça que a diferença básica entre orgânicos e caipiras é a alimentação. “Adquirimos o milho e a soja orgânicos de uma empresa chamada Gebana, do Paraná. A ração é uma mistura dos dois em diferentes proporções”, conta. Criadas soltas, as galinhas tem seus ninhos dentro de um galpão que respeita um espaço mínimo, já que elas se abrigam à noite e não devem ficar muito apertadas. É lá que elas colocam os ovos, sendo adestradas desde cedo para aprenderem a colocar ali, e não em qualquer canto.
Jefferson também nos conta que não é feita a “muda forçada”, uma técnica que deixa as galinhas sem alimento para forçar a troca das penas. “Também não fazemos o regime de luz para aumentar a produtividade: respeita-se o tempo de sol e o tempo de escuridão. A luz intensa estressa o bicho, e nós não podemos remediar com antibiótico, então fazemos de tudo para que elas vivam bem, sem estresse”, sintetiza.
Via Teia Orgânica – blog.teiaorganica.com.br