Luciano Bortolatti, de 43 anos, e Regina Lúcia Bortolatti, de 50, residem em uma propriedade de 17 hectares em Sertão Santana (RS), a 80 km de Porto Alegre. Depois de 17 anos plantando fumo, eles decidiram abandonar a atividade e investir no plantio de uva. Em 2008, plantaram os primeiros 200 pés, hoje já são 1.800. Atualmente eles colhem, em média, 12 mil quilos da fruta. O filho do casal, Igor Fernando Bortolatti, de 22 anos, ajuda os pais na lavoura. A diversificação da cultura do tabaco permitiu que ele conseguisse dividir seu tempo entre as tarefas no campo e os estudos.
Igor, que está no último semestre do curso de geografia na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), diz que a realização deste sonho só foi possível depois que a família decidiu viver não apenas da produção de fumo, mas da diversificação. “É complicado se dedicar aos estudos trabalhando com o fumo, o serviço dura dia e noite. Chega um pico de produção de 24 horas de trabalho”, conta.
A família não tem dúvida: diversificar foi bom para todos. “Não tem nem o que dizer, é 100%. Em uma semana e meia de serviço, realizamos toda a colheita da uva. No parreiral, só eu e ela damos conta de podar, adubar, sem se estressar. Antes, nós plantávamos 14 mil pés de fumo e trabalhávamos muito. O fumo não estava dando resultado, na verdade nós estávamos retirando dinheiro do bolso”, destaca Luciano. “Me lembro do guri dizendo que na parreira é bom de trabalhar, porque você está embaixo dela, na sombra e comendo uva. O fumo não podemos comer”, conta o agricultor, ao comparar as duas culturas.
A garantia de comercialização da uva não foi um problema para a família de Luciano. Na cidade, agricultores familiares se uniram e, com recursos da Secretaria Especial de Agricultura Familiar e do Desenvolvimento Agrário, e uma parceria com a prefeitura local, construíram um cooperativa. Dos 12 mil quilos de uva colhidos na última safra dos Bortolatti, 1.300 quilos foram vendidos para a cooperativa que fabrica suco. O resto da safra, eles investiram na fabricação de vinho, feito em uma vinícola construída na propriedade da família. “Na cooperativa o negócio é certo, se a gente não quiser fazer nenhum litro de vinho temos como vender a uva. Temos que plantar mais parreira para chegar aonde a gente quer”, planeja Luciano.
Arroz, peixe, gado e hortaliças. É essa diversidade que garante renda para a família o ano todo. O arroz é vendido para engenhos próximos ao município. “A diversificação dá mais dinheiro do que o fumo. Sempre está entrando dinheiro, se não é da uva é do arroz ou de outro produto. Não tinha mais como depender apenas do fumo”, enfatiza o agricultor. Para dona Regina, a mudança significou tranquilidade. “Não preciso fazer o trabalho de casa correndo, sobra mais tempo para limpar a casa, cuidar da horta. Antes não tinha tempo para fazer essas coisas. Às vezes quero inventar uma coisinha diferente e agora consigo me programar”, conta. Hoje, a lembrança da época em que plantavam tabaco se resume a algumas estufas inativas, galpões e maquinários que não têm mais nenhuma utilidade.
Luciano sempre contou com as linhas de crédito do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) para investir na sua propriedade. No último financiamento, ele acessou a linha de crédito Pronaf Mais Alimentos para comprar um trator, no valor de R$ 52 mil, a juros de 2% ao ano. “Já tínhamos um trator pequeno, mas agora com o parreiral precisamos de um grande também. Para nós o Mais Alimentos foi bom, os juros são baixos”, afirma o agricultor, que já planeja acessar outras linhas para investir mais na propriedade.
Quando resolveu diversificar, a família Bortolatti também contou com o apoio Programa de Diversificação das Áreas Cultivadas com Tabaco da Secretaria Especial de Agricultura Familiar e do Desenvolvimento Agrário.
O programa apoia os agricultores familiares que produzem tabaco e desejam deixar o cultivo de fumo e também como alternativa no caso da redução da demanda de tabaco no mercado. O programa foi criado em 2005, quando o Brasil ratificou a Convenção-Quadro para o Controle de Tabaco (CQCT), e atende aos artigos 17 e 18 da convenção (que estimula o apoio a atividades alternativas economicamente viáveis).
A convenção é da Organização Mundial da Saúde (OMS) e conta com a subscrição de 174 países. Orienta a implantação, pelos países signatários, de políticas públicas de combate ao tabagismo – considerado uma epidemia não transmissível e mundial. São mais de 70 projetos de pesquisa e capacitação em apoio à diversificação, e 30 mil famílias atendidas pela Ater com recursos da Secretaria Especial de Agricultura Familiar e do Desenvolvimento Agrário, que coordena o programa.
Via MDA por Adolfo Brito/Ascom – Imagem: Albino Oliveira / Ascom