16 de dezembro, 2018
Não é exagero afirmar que alimentos orgânicos e agroecológicos parecem estar inseridos em uma caixa com duas etiquetas de identificação: preço alto e difícil acesso.
É quase unânime a opinião de que o consumo desse tipo de produto é inacessível para grande parte da população.
A partir dessa perspectiva, o Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (IDEC) decidiu, há três anos, instituir uma nova lógica de informação quando o assunto é comida.
O Mapa de Feiras Orgânicas surgiu em 2012 como uma lista de quarenta feiras em São Paulo.
Em 2015, quando o mapa se tornou um site, esse número saltou para 400. Hoje, são mais de 800 feiras cadastradas em todo país.
Nutricionista do IDEC, Rafael Arantes afirma que o mapa foi criado para desfazer mitos e mostrar o que está velado na produção alimentar.
“O mapa surgiu com a intenção de reunir feiras orgânicas e agroecológicas disponíveis. O IDEC mostra que a percepção de que esses alimentos sejam mais caros está baseada no preço do supermercado. Os alimentos convencionais são mais baratos, mas há uma razão de ser, por exemplo, a política permissiva de agrotóxicos”, explica Rafael.
Interativo, o mapa, além de organizar as feiras pelo país, possibilita que a população possa incluir novos estabelecimentos e compartilhar experiências, aponta Rafael Arantes.
“As pessoas estão cadastrando feiras que não estão no mapa e ajudam também a atualizar dados como local e horário dos estabelecimentos já cadastrados”, ressalta.
Um desses consumidores é Paulo Marco de Campos Gonçalves, engenheiro agrônomo e morador de Santos, no litoral paulista.
Marco, aliás, também é responsável pela organização das Feiras Orgânicas na cidade, que hoje conta com 9 iniciativas.
Para ele, o consumo de alimentos orgânicos e agroecológicos reúne temas que estão além da saúde e do consumo sustentável.
O primeiro deles é o respeito ao trabalhador rural, diz o engenheiro.
“As feiras possibilitam a venda direta e que o produtor possa oferecer a um preço melhor. Além disso, o trabalhador também é melhor remunerado, porque uma das coisas que “encarece” o produto orgânico é o fato de você não explorar o agricultor”, aponta Marco.
Outro aspecto abordado por Paulo é a disputa política que o ato de comer aborda.
“Feira orgânica é uma ação política. Não política partidária, mas uma ação no sentido de pensar: quando você se alimenta, onde você quer deixar o seu dinheiro? Se você investe seu dinheiro em um alimento orgânico, há uma ajuda ao produtor que cuida da terra. Isso faz toda diferença no país que a gente quer construir”, analisa Marco Paulo.
Para conhecer mais sobre as feiras orgânicas, acesse feirasorganicas.org.br. Além do mapa, o site disponibiliza receitas variadas e uma biblioteca digital com estudos, infográficos e análises sobre o consumo alimentar no Brasil.