Sandra Snaebjornsdottir, uma das co-autoras do estudo, com uma amostra de CO2 transformado em calcário na Islândia
Quando se discute opções de ação para conter e reduzir a concentração de gases de efeito estufa (GEE) na atmosfera, uma das soluções mais futuristas que surgem na mesa é a do sequestro geológico de carbono – uma forma de devolver o carbono emitido na atmosfera para o subsolo terrestre.
Por ora, a tecnologia para essa solução permanece controversa. Hoje, através de filtros, você consegue capturar e comprimir o dióxido de carbono (CO2), que depois é transportado e injetado em um reservatório geológico apropriado – como campos de petróleo maduros (esgotados ou em fase final de exploração), aquíferos salinos (lençóis subterrâneos com água salobra não aproveitável) ou camas de carvão no solo. No entanto, existem dúvidas quanto à possibilidade de os gases escaparem naturalmente desses reservatórios e de haver contaminação de lençóis freáticos com água potável.
Uma saída para esse problema pode ter sido encontrada. Em artigo publicado nesta semana na revistaScience, um grupo de pesquisadores dos Estados Unidos, França e Islândia afirma que é possível estocar permanentemente o CO2, transformando o gás em pedra. Criado há dois anos, o projeto CarbFix tem como objetivo desenvolver tecnologia que possa imitar os processos naturais de estocagem de carbono, transformando-o em matéria sólida em um curto espaço de tempo.
Pelo método desenvolvido pelo grupo, o gás é misturado com água e injetado em pedras vulcânicas. Os pesquisadores injetaram 230 toneladas de CO2 dissolvido em água em um reservatório com basalto entre 400 e 500 metros dentro do subsolo. Após uma série de reações, o gás transformou-se em calcário. Testes feitos desde 2012 na usina geotérmica de Hellisheidi, na Islândia, apresentaram resultados promissores: quase 95% do CO2 injetado em basalto vulcânico transformaram-se em calcário em apenas dois anos.
Na natureza, quando o basalto é exposto ao CO2 e à água, uma série de reações químicas acontecem e transformam o carbono em calcário. Mas ainda não existia estudos que explorassem a viabilidade deste processo para armazenamento de CO2. Análises iniciais indicavam que isto poderia levar centenas ou mesmo milhares de anos. Para a surpresa dos pesquisadores, os testes na Islândia apontaram que o processo pode ser bem mais rápido.
“Este resultado contrasta com a visão comum de que a captura de CO2 em minerais de carbonato em reservatórios geológicos leva várias centenas de milhares de anos. Portanto, ele demonstra que o armazenamento seguro a longo prazo das emissões antropogênicas de CO2 por mineralização pode ser muito mais rápida do que estimado anteriormente”, apontam os pesquisadores no artigo.
A ideia dos responsáveis pelo projeto Carbfix agora é “enterrar” até 10 mil toneladas de CO2 por ano na usina de Hellisheidi, usando este método.
“No futuro, nós podemos pensar em utilizar usinas geotérmicas em lugares com muito basalto para estocar grande quantidade de CO2 de uma forma bastante segura e em um período curtíssimo de tempo”, afirma Martin Stute, pesquisador do Lamont-Doherty Earth Observatory da Univerdade de Columbia e um dos co-autores do estudo.
O sucesso desta pesquisa pode ser fundamental para o futuro dos esforços globais para reduzir a concentração de GEE na atmosfera e conter as alterações climáticas neste século. Segundo o Painel Intergovernamental das Nações Unidas sobre Mudanças do Clima (IPCC, sigla em inglês) em seu relatório mais recente, a captura e estocagem de carbono pode ser uma tecnologia crucial para que o mundo consiga reduzir suas emissões e ser bem sucedido nesta tarefa de forma custo-efetiva. Sem uma solução tecnológica que viabilize essa saída, os custos para conter o aquecimento global podem até dobrar.
Imagem – Kevin Krajick/Lamont-Doherty Earth Observatory
Via Página 22