Sustentabilidade e empreendedorismo serão os temas discutidos na próxima quinta-feira, durante o Agenda Salvador
Há quem discorde, mas pesquisadores apontam que Salvador, primeira capital do Brasil, também foi a primeira cidade planejada do país. Pouco se encontra hoje do projeto original, traçado pelo arquiteto português Fernão Dias. O crescimento desordenado ao longo dos séculos colocou a capital longe dos padrões conhecidos hoje de cidades efetivamente planejadas e de alta qualidade de vida.
Mas há soluções possíveis para a capital baiana. Para o presidente da Câmara Municipal de Salvador, o vereador Paulo Câmara, a cidade caminha no sentido de promover melhores condições de vida para a população. “Todos os cidadãos, conscientes de seu papel e da sua importância no contexto global, podem e devem contribuir para uma cidade cada vez mais sustentável e empreendedora. Ser sustentável é uma forma de vida”, disse, nesta entrevista ao CORREIO. A aposta está nestes dois eixos: sustentabilidade e empreendedorismo. Estes serão os temas discutidos na próxima quinta-feira, durante o Agenda Salvador.
O seminário contará com a participação do diretor-presidente da Ideia Sustentável: Estratégia Inteligente em Sustentabilidade, Ricardo Voltolini, além do superintendente do Sebrae do Mato Grosso, José Guilherme Barbosa. O evento, realizado pelo CORREIO, conta com o apoio da prefeitura e da Câmara Municipal de Salvador.
Que grau de sustentabilidade existe hoje em Salvador?
Terceira capital do Brasil, Salvador é uma cidade que caminha no sentido de promover melhores condições de vida para a população, com base em ações voltadas à sustentabilidade. Ainda temos muito a avançar, mas, sem dúvidas, é possível reconhecer iniciativas públicas e privadas com vistas ao desenvolvimento sustentável. Empreendimentos sustentáveis são cada vez mais frequentes. A regulamentação do IPTU Verde, por exemplo, fortalece a ideia de um novo padrão de construção para Salvador. Cada vez mais acessíveis, os instrumentos de combate ao desperdício, sobretudo de água e energia, estão na ordem do dia dos novos empreendimentos comerciais e residenciais.
Numa cidade com 3 milhões de habitantes, o que já é possível identificar como uma demanda por ações de sustentabilidade?
Tanto na esfera pública quanto na iniciativa privada, a expressão de ordem é crescer de forma sustentável. Há um grande movimento global que provoca a retomada da preocupação individual com o meio ambiente. Ser sustentável passou a ser uma forma de vida, imposta pela rápida modificação sofrida pelo nosso planeta cujos recursos naturais deram lugar a um ecossistema artificial. É preciso adaptar, criar, mudar e preservar.
Cidades planejadas e que investem em sustentabilidade têm conseguido grandes avanços em qualidade de vida. Como encontrar soluções para melhorar a vida das pessoas aqui em Salvador?
Além da atuação do poder público no planejamento e em intervenções pontuais para sanar os problemas comuns a qualquer grande cidade, Salvador vive agora um momento importante na sua trajetória. O processo de revisão do Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano (PDDU) reflete a constante preocupação por parte de gestores públicos e de toda a sociedade civil, que tem demonstrado amplo interesse em participar, opinar, sugerir melhorias para o desenvolvimento sustentável da nossa cidade. Nesse aspecto, a Câmara Municipal de Salvador vai tomar todas as medidas necessárias ao amplo debate, garantindo a participação popular para a aprovação do plano, que vai nortear os rumos da cidade para os próximos anos. A meta é pensar Salvador para mudar o presente e desenhar o futuro, assegurando qualidade de vida para todos que aqui vivem.
O que a cidade pode fazer para se tornar mais sustentável?
A cultura da sustentabilidade é processual. Ela se transforma e se estabelece na medida da necessidade e de uma nova consciência individual e coletiva. E nessa transformação, a Câmara busca cumprir seu papel, estimulando e promovendo as discussões de temas que afetam a vida de todos os seus habitantes. Recentemente, finalizamos o ciclo de encontros chamado Salvador Sustentável, que trouxe à ordem do dia especialistas em temas de fundamental importância para o dia a dia da população. Com suas expertises, palestrantes convidados de diversas partes do Brasil compartilharam conosco experiências de sucesso nas áreas da mobilidade urbana, justiça social e bioética, consciência cidadã, consumo responsável, logística reversa e economia criativa, entre outros.
Que ações que são voltadas para o empreendedorismo já acontecem dentro de Salvador?
O estímulo ao empreendedorismo e à desburocratização tem sido outro foco de trabalho na Câmara Municipal de Salvador, que conta com uma comissão especial formada com esse objetivo. A proposta é discutir e apontar alternativas legais para o desenvolvimento do empreendedorismo em Salvador, sobretudo em meio à crise econômica que vive o país. Reconhecemos que a Câmara Municipal tem papel fundamental nesse processo.
Que benefícios ações empreendedoras podem trazer para a cidade que é a terceira maior capital do país?
Salvador precisa estar inserida no cenário global que exige cidades competitivas, com infraestrutura adequada e qualidade de vida. Dessa forma, é necessário que tenha a capacidade de adotar como temas basilares a inovação e o empreendedorismo, que, somados, vão favorecer o aparecimento de novos negócios e proporcionar novas oportunidades de trabalho, gerando renda e movimentando a economia de forma criativa e sustentável. Percebemos que a capital baiana apresenta um aspecto peculiar com relação ao empreendedorismo. Conforme diz Juliano Seabra, presidente da Endeavor Brasil (organização dedicada a fomentar o empreendedorismo no Brasil), 68% das pessoas daqui querem abrir o próprio negócio. No entanto, o investimento privado em inovação é pequeno e o empreendedor soteropolitano é o que menos investe em inovação em todo o Brasil, apesar de um em cada 13 funcionários de empresas estar lotado em áreas de Ciências, Tecnologia, Engenharia e Matemática.
Quem, além dos gestores públicos, pode desenvolver ações que contribuam para uma Salvador mais sustentável e também ainda mais empreendedora?
Todos os cidadãos, conscientes de seu papel e da sua importância no contexto global, podem e devem contribuir para uma cidade cada vez mais sustentável e mais empreendedora. Como disse antes, ser sustentável é uma forma de vida. O nosso desafio, enquanto homens públicos, é justamente fazer esse chamamento para a revolução comportamental, que começa com pequenas ações em casa, nas escolas, no ambiente de trabalho, nas comunidades. Como disse o sociólogo alemão Ulrich Beck, temos que pensar globalmente e agir localmente. É preciso educar o consumista ilógico que existe em nós, evitar desperdícios e reduzir o consumo a padrões adequados, uma vez que fragilizar o meio ambiente é fragilizar a saúde, o emprego, a economia. Como tudo está integrado, uma cidade com níveis elevados de qualidade de vida e preservação ambiental, certamente atrairá empreendedores responsáveis que contribuirão para o desenvolvimento da economia dentro da nossa querida cidade Salvador.