Vivagreen

Notícias

Ninguém inova sozinho

11 de maio, 2015

Grandes indústrias adotam plataformas colaborativas e se abrem aos pequenos para expandir soluções no mercado.

A busca por soluções viáveis para aumento da eficiência produtiva, redução do uso de recursos naturais e melhoria da qualidade de vida deveria ser o ponto forte de países emergentes, como o Brasil, instados a um modelo de crescimento econômico de menor risco ambiental e social, diferente dos padrões que enriqueceram a Europa e os Estados Unidos. Para analistas, as condições de sustentabilidade no planeta exigem um novo caminho para o modo de inovar, o que, potencialmente, abre oportunidades para a inclusão de pequenos negócios aptos a multiplicar boas ideias. “O leque de atores torna-se diversificado porque as empresas procuram uma relação mais próxima com o mercado para entender as demandas e garantir serviços e matéria-prima com os fornecedores”, afirma Paulo Mól, superintendente do Instituto Euvaldo Lodi, pertencente à Confederação Nacional da Indústria (CNI).

É preciso inovação no modo de gerir a própria inovação e, assim, dar uma guinada nos números brasileiros da ciência e tecnologia, a começar pelo patamar dos  investimentos [1] – muito baixos em relação ao Produto Interno Bruto (PIB), quando comparado a países como Japão, EUA, Alemanha e Coreia do Sul, por exemplo. No Brasil, a participação das empresas nesse montante (43,1%) é inferior à do governo (54,9%), enquanto nas nações desenvolvidas e algumas emergentes a proporção é inversa. Na China, o setor privado investe em pesquisa tecnológica mais que o triplo do governo, segundo o último levantamento da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OECD).

[1] Em 2012, de acordo com a OCDE, o Brasil investiu 1,24% do PIB em inovação. Na Coreia do Sul, os recursos foram de 4,36% e, nos EUA, 2,98%

“Como consequência, perdemos competitividade ano a ano”, adverte Mól, ao citar como referência o  Global Competitiveness Index [2], calculado pela escola de negócios suíça IMD, no qual o Brasil figura em 54º lugar entre 60 países, conforme dados de 2014. Os reflexos estão na balança comercial, na qual as exportações se baseiam em bens primários (commodities) com baixo valor tecnológico e as importações têm grande participação de produtos com maior nível de inovação e complexidade, como equipamentos eletrônicos e produtos químicos. Para ele, a desconfortável posição brasileira também se explica, porque parte expressiva das soluções inovadoras é centrada na própria empresa, para modernização de processos produtivos, e não no mercado. Menos de 1% dos casos se traduzem em novos produtos ou serviços para comercialização internacional, conforme dados do IBGE.

[2] Entre 2010 e 2014, o Brasil perdeu 16 posições no índice, ficando atrás de países como a Colômbia e o Peru

Outra razão é a falta de capital humano: a cada 100 profissionais que se formam em universidades no Brasil, menos de dez cursaram engenharia, ciências ou áreas afins – o que, na opinião de especialistas, é indicador da defasagem em inovação. Na China, a proporção é quatro vezes maior. O desafio é virar esse jogo, também aprimorando o modelo nacional de financiamento de pesquisas. Este se baseia hoje na oferta de crédito pelo governo, diferente da subvenção com contrapartida do setor privado, como ocorre no resto do mundo. No Brasil, quem inova precisa controlar riscos para conseguir pagar o empréstimo. “Por isso a inovação é menos ousada aqui do que em outros países, onde o governo é parceiro dos projetos”, diz Mól.

O assunto compõe a agenda apresentada este ano ao governo federal pela Mobilização Empresarial pela Inovação, coordenada pela CNI para aumentar os esforços no setor. Uma estratégia é o estímulo a pequenas empresas e start-ups, hoje procuradas por grandes corporações para parcerias de negócio e pesquisas colaborativas. Aos poucos, o espaço do protagonismo antes exclusivo dos detentores do capital é dividido com quem possui conhecimento e agilidade para dar saltos e correr riscos. O objetivo é compartilhar expertises para criar um ambiente saudável de inovação no mercado em geral, com ganhos para todos. “Não há o que esconder: queremos inspirar e dar o caminho das pedras para pequenos e grandes, disseminando conhecimento sobre novos modelos”, revela Alberto Gadioli, diretor de pesquisa e desenvolvimento da 3M do Brasil, considerada uma das mecas globais da inovação.

Plataformas de gestão e índices para estabelecer prioridades e medir resultados dos projetos são hoje abertos a parceiros. Uma das ferramentas é o New Product Vitality Index, mediante o qual a empresa estabelece meta para a venda de novos produtos. De um total de R$ 3,6 bilhões faturados anualmente no Brasil, 35% correspondem hoje a soluções inovadoras, existentes no mercado no máximo há cinco anos. Algumas dessas tecnologias apresentam vantagens ambientais e são desenvolvidas em cooperação com empresas. Um grupo delas trabalha hoje em 15 projetos destinados a reduzir o peso de autopeças, com objetivo de diminuir o consumo de combustível.

“A estratégia do mercado é pulverizar o conhecimento para chegar a soluções baratas e escaláveis”, enfatiza Antonio Carlos Dias, diretor de smart cities (cidades inteligentes) da IBM Brasil. Empresas de menor porte podem abrir espaços para as soluções das grandes. O caminho parece irreversível: “As conexões com os elos da cadeia são chave no momento em que estamos migrando para o ambiente de  computação em nuvem[3], reforça o diretor.

[3] Nova fronteira da era digital, que permite o uso de computadores e servidores interligados por meio da internet, com acesso de qualquer lugar do mundo, a qualquer hora, sem necessidade de instalação de programas

Em sua análise, as grandes companhias buscam novas rotas também como resposta à explosão das tecnologias de redes sociais – e os efeitos chegam à gestão das cidades inteligentes. Estima-se que água, coleta de resíduos, energia e mobilidade, entre outros serviços básicos, sejam cada vez mais monitorados em tempo real a partir de informações transmitidas pelos cidadãos, além das colhidas por um sem-número de sensores presentes nas esquinas das metrópoles.

A força da sociedade conectada em rede inspira também o modelo de inovação da Natura, empresa de cosméticos reconhecida no mundo pela atuação com fornecedores de insumos da biodiversidade. “A seleção de novos projetos de produtos tem como base o triple bottom line, com análise dos impactos financeiros, sociais e ambientais, a partir de indicadores como emissão de carbono, reúso de material pós-consumo e impacto dos resíduos”, conta Luciana Hashiba, gerente de gestão de portfólio e redes.

A capacidade de inovação é potencializada através da geração de valor compartilhado em rede – isto é, a reunião de competências para o desenvolvimento de ideias que podem se transformar em novos negócios, envolvendo universidades, empresas, agências de fomento.

Em 2014 foi realizado um  hackathon [4] em conjunto com o MIT Media Lab, trazendo estudantes das melhores universidades brasileiras para cocriar uma nova geração de produtos e tecnologias transformadoras. Desses encontros nascem inspirações que se somam à sinergia da empresa para o lançamento de novidades. Uma delas foi a linha de desodorantes desenvolvida com uma válvula especial que permite utilizar menos materiais na embalagem sem alterar o rendimento, reduzindo pela metade o impacto ambiental.

[4] Maratona que reúne programadores, designers e outros profissionais ligados à inovação para o desenvolvimento de projetos colaborativos, que podem ser específicos ou livres

 Fonte: Página 22 por SÉRGIO ADEODATO # em 95

Os comentários estão desativados.

Tweets

Vivagreen

Principais posts