Às vezes tem fila, demora até chegar sua vez e nem sempre fica como a gente quer. Este problema atraiu a atenção de Ricardo Pereira. Ele é um empreendedor convicto que, depois de atuar como empresário durante anos no segmento de eventos na capital federal, resolveu passar uma temporada com a família nos Estados Unidos.
Ricardo queria estudar, se reciclar e buscar novas ideias para empreender. Numa tarde, ao se dirigir a um posto de combustíveis para lavar o automóvel se surpreendeu com uma novidade: uma van, contendo equipamentos de lavagem, tanque de água e equipe de lavadores, oferecia o serviço no local e horário que o cliente precisasse. O contato era via whatsapp. O número do celular estava adesivado na van. Ricardo lavou o carro e conversou com o dono do negócio ambulante.
“Voltei para casa e disse para minha esposa: o negócio está aqui! Bendita hora em que fui lavar o carro! O lava jato vai ao cliente, quando e onde ele quiser, e não o contrário. E sem fila!”. Começou imediatamente a pesquisar o segmento de lavagem de veículos e lava jatos.
Execução
Isto aconteceu, no final de 2015. Em 2016, Ricardo começou a mobilizar as pessoas em Brasília. No final de 2016, voltou ao Brasil. A startup de lavagem de carros já tinha nome: Lavô. O aplicativo já estava sendo desenvolvido com os recursos que Ricardo definia. O empresário conta que um material do Sebrae sobre lava jatos foi muito útil nas pesquisas que fez.
Em março de 2017, lançou a primeira versão MVP (Produto Mínimo Viável) do negócio digital. Esta é uma etapa que startups passam para testar a ideia com clientes potenciais, os recursos do aplicativo e o modelo de negócio.
No meio do ano passado, lançou o Lavô no DF e partiu para os mercados de Recife, Natal, João Pessoa, Vitória e Goiânia. “Percebemos os prós e contras para chegar ao modelo ideal do negócio de lavar veículos, agendados e atendidos via aplicativo em várias cidades”, diz ele.
Em fevereiro deste ano, chegou ao modelo ideal do negócio. O Lavô ‘tracionou’, como se diz na linguagem de startups: significa que aumentou as vendas vertiginosamente e se tornou relevante no mercado. Ricardo conta satisfeito que é o Lavô é uma startup e continuará sendo, por um bom tempo. “Startup nunca está pronta. Sempre tem alguma coisa para melhorar”, justifica. O aplicativo pode ser baixado do App Store e Google Play (www.lavo.online ).
Sem água
A tecnologia da lavagem sem água também inovadora é o segredo do negócio, destaca Ricardo. É uma lavagem sustentável, aspecto importante para conquistar consumidores conscientes sobre água e sustentabilidade. Os produtos usados são biodegradáveis e à base de cera de carnaúba. Ele não conta a marca nem de onde são. Informa, apenas, que os produtos do Lavô são exclusivos e semelhantes aos usados na limpeza e polimento de carros da Fórmula 1. A lavagem é rápida e pode ser feita no local do trabalho do cliente, por exemplo.
O empreendimento possui um centro de distribuição de produtos para atender os lavadores. “A compra dos produtos é feita pelo aplicativo, eles pagam com o que têm a receber na semana. Assim não temos problema de não receber e eles têm garantia da qualidade do produto”, diz o empresário. Outra detalhe: o Lavô tem seguro por lavagem. Desse modo garante a solução de pequenos incidentes que podem acontecer, durante a lavagem, como a perda da chave, etc
Passo atrás
O modo como startups se desenvolvem é diferenciado, pois se baseiam em erros e acertos. É um processo pragmático, resume Ricardo. Por este motivo, depois da experiência em outras praças, resolveu dar um passo atrás, encerrando o atendimento em algumas capitais.
No momento, está franqueando o aplicativo para atuar em outras cidades e regiões. “Na validação (MVP) percebemos que o melhor modelo de entrar em outras praças é o de franquia para garantir qualidade do serviço e bons resultados”, afirma. O retorno do franqueado ocorre em até 26 meses, informa o empresário.
Custo, estrutura e marketing
O custo da lavagem de automóveis do aplicativo varia entre R$ 30 a R$ 145, dependendo do tipo de veículo e do serviço que o cliente quer: só interna, interna e externa, com higienização do ar condicionado, etc O Lavô faz cerca de 2 mil lavagens/dia no DF. Até o momento, ele estima que o aplicativo fez 40 mil lavagens em Brasília.
“Agora queremos viralizar, abrindo franquias. Até julho de 2019, queremos estar em 10 cidades”, afirma o empresário. Ele e uma equipe de 60 pessoas ficam em Brasília, monitorando o aplicativo e o atendimento aos clientes pela plataforma administrativa. Quinze deles são desenvolvedores (de Brasília, Buenos Aires, Califórnia e Atlanta), que trabalham remotos. Há também profissionais de comunicação e marketing, administração, entre outras áreas na equipe.
O valor da franquia é calculado com base no tamanho da frota de veículos de cada cidade. A franquia de BH vale R$ 997 mil; de Goiânia R$ 430; de Recife R$ 431 mil; de Uberlândia R$ 168 mil. A de Brasília custou R$ 730 mil. Há interessados em todas elas.
Uma das responsabilidades do franqueador Lavô é investir em marketing: 80% dos recursos financeiros são aplicados em marketing e comunicação (mídia tradicional, outdoor, rádio, tv , cinema, mídias sociais – instagram, face, waze), eventos, feiras, etc O empresário diz que ainda não está ganhando dinheiro, por enquanto está reinvestindo no negócio, no crescimento interno da equipe e no desenvolvimento tecnológico. Quem está ganhando é o franqueado, diz.
“Nosso interesse não é ganhar dinheiro com franquia, mas com o número de lavagens”, esclarece. Ricardo informa que não teve investidor e todo o capital do negócio veio de recursos próprios. Para uma startup, o que importa é a solidez da ideia, que também deve ser alterável e mutável, acrescenta.
Parceiros e dignidade
No Lavô os lavadores de carro são chamados de parceiros. Só no DF são mais de 7 mil parceiros cadastrados no aplicativo. Segundo o empresário, entre eles há mulheres e casais que trabalham juntos para gerar a própria renda com dignidade e trabalho honesto. A equipe do aplicativo faz a análise de cadastro, seleção e treinamento dos candidatos a parceiros.
“Somos o Uber da lavagem de carros”, compara. Há parceiros que estão ganhando R$ 800/ semana, informa. O cartão do Banco Santander é o meio que facilita o pagamento tanto dos serviços, dos parceiros, assim como a compra dos produtos usados no serviço.
A startup brasiliense treina os parceiros na lavagem dos veículos sem água, feita com produtos exclusivos biodegradáveis e à base de cera de carnaúba. O empreendimento possui política de acompanhamento e monitoramento dos parceiros e da agenda diária de serviços. Além disso, também oferece prêmios, como fim de semana na praia com acompanhante, para os parceiros produtivos e bem avaliados pela clientela.
Ricardo ressalta que os aplicativos, como o Uber e o Lavô, criam oportunidades de trabalho digno para milhares de pessoas, valorizando atividades muitas vezes estigmatizadas pelo mercado e sociedade. Há parceiros do Lavô, que atendem clientes de dia, e à noite levam e trazem passageiros no Uber.
“Os trabalhadores do Uber não são motoristas. São mais do que isto. Eles são profissionais liberais autônomos ou de outros setores, que se apresentam como trabalhadores do aplicativo”, argumenta. Esta diferenciação também vale para o aplicativo brasiliense de lavagem de veículos sem água e com agendamento. “Eles são parceiros do Lavô’. (www.lavo.online )
por Vanessa Brito