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Um Projeto Inovador de Paisagismo Sustentável dois anos depois – A CasaE da BASF em São Paulo

20 de agosto, 2015

Em meados de 2012 a multinacional Basf nos solicitou um projeto de paisagismo para um empreendimento inédito no Brasil, a criação de uma casa-modelo com diferentes tecnologias e metodologias para a sustentabilidade nas cidades futuras. A edificação também seria candidata para a certificação LEED-USGBC.

Situado na Zona Sul de São Paulo, em uma avenida movimentada, o terreno da Casa E, com 1700 m², apresentava problemas ambientais típicos da urbanização caótica brasileira, como supressão total da vegetação original, ampla camada de entulhamento no solo e impermeabilização.

Assim, para se tornar sustentável, a área reservada ao paisagismo, com cerca de 800 m², exigia mudanças drásticas e um estudo profundo sobre a história ancestral daquele terreno. Antes dos estudos preliminares iniciamos uma pesquisa bibliográfica e de campo para descobrir como era a região no período pré-urbanização e tentar resgatar seus elementos para a sustentabilidade ecológica.

Uma fotografia do exato local da Casa E em 1958 nos trouxe as pistas que precisávamos. Originalmente, a frente do terreno era a mata ciliar do Ribeirão Cupecê – hoje sepultado sob uma avenida – e os fundos participavam de formações campestres nativas de Campos-Cerrados denominadas “Campos de Piratininga” que cobriam a região e até a nomearam de “Campo Belo”.

Concomitante, pesquisamos as listas florísticas da primeira metade do século XX para a região e visitamos os remanescentes de vegetação nativa próximos para entender a dinâmica da biodiversidade nativa. Nessa última etapa, é notável a dificuldade em distinguir nas escassas áreas verdes a vegetação nativa remanescente e a plantada em diferentes épocas de arborização urbana.

O projeto de paisagismo teve o objetivo de harmonizar a paisagem natural ancestral do terreno com a edificação e a cidade, servindo também de instrumento de educação ambiental e histórica. Toda a vegetação implantada teria que ser nativa regional, visando a obtenção de serviços ambientais eficientes, criação de nichos ecológicos, baixa manutenção na implantação e manutenção, no consumo de água e um rápido crescimento e resultados estéticos.

Com o projeto arquitetônico da Casa E determinado, percebemos uma oportunidade interessante nos fundos do terreno. A ideia foi restaurar parte da antiga Mata Atlântica que recobria há meio século a beira do ribeirão, em um formato de “capão de mato”, comum outrora nas paisagens paulistanas. Ao seu lado, um trecho da vegetação dos antigos “Campos de Piratininga” com plantas ameaçadas de extinção cultivadas em nosso viveiro. Com os dois biomas próximos, assim como ocorria na natureza, os nichos ecológicos para a avifauna especialista teriam melhores resultados.

O plantio da floresta foi em nosso sistema “Pocket Forest” de adensamento e competição vegetal, que favorece manutenção mínima e rápidos resultados. Passados dois anos da implantação do projeto, houve algumas percepções interessantes.

Mesmo como solo completamente atulhado de resíduos de edificações anteriores no terreno, a vegetação nativa mostrou impressionante desenvolvimento, e passou de 1,5 metros para 4 metros no dossel arbóreo, formando um microclima adequado para o capão. Arbustos frutíferos da Mata Atlântica utilizados como cerca –viva cresceram rapidamente e resistiram aos secos anos de 2013-14.

Das cerca de 120 árvores plantadas, somente 5 pereceram, um resultado animador. Também não ocorreram episódios significativos de pragas e doenças em toda a área verde, e nos períodos de pouca chuva a vegetação manteve uma estética agradável. Outro aspecto interessante foi as inúmeras espécies nativas da Mata Atlântica que germinaram espontaneamente trazida pela avifauna, enriquecendo a biodiversidade.

A percepção nesses dois anos comprovou que a diretriz correta para o paisagismo sustentável no Brasil é principalmente pesquisar e respeitar a biodiversidade nativa original, o que resulta em menores custos financeiros e maior eficiência ambiental.

Segundo Camila Lourencini, Gerente de Estratégia para Indústria da COnstrução da BASF,  “Além apresentar a natureza das espécies nativas, o jardim da CasaE gera melhorias significativas na qualidade de vida, em harmonia com a proposta do nosso projeto. Sabemos que as plantas aumentam a umidade do ar, diminuem as ilhas de calor, auxiliam na filtragem e remoção dos poluentes do ar, inclusive os emitidos pelos automóveis, atenuam a poluição sonora, além de proporcionarem conforto psicológico”.

Texto escrito por:Ricardo Cardim

Botânico, SkyGarden Brasil e professor do curso de Paisagismo Sustentável e Técnicas Construtivas para Telhados e Paredes Verdes do GBC Brasil

Via GBC

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