Atualmente, existe um assunto que circula em todos os setores e segmentos do Brasil – energia elétrica – ou melhor, como tornar tudo o mais eficiente energeticamente. Diante do cenário energético do País, a preocupação com um possível desabastecimento e a realidade do aumento do seu preço, fez com que novas tecnologias se tornassem mais atrativas e novos hábitos fossem adquiridos.
A Associação Brasileira das Empresas de Serviços de Conservação de Energia (Abesco) estima que somente com desperdício de energia elétrica por ineficiências, o Brasil gaste 4600 MW, valor equivalente a uma usina de Belo Monte. Além disso, de acordo com o Balanço Energético Nacional 2015 (BEN), aproximadamente 50% da energia do País é consumida por prédios, sendo que cada prédio consome em média 48% da energia elétrica com ar condicionado, segundo o Ministério de Minas e Energia. Diante de números tão expressivos, é necessário dar grande peso à eficiência energética desses sistemas, sem esquecer da necessidade de conforto e a necessidade de climatização dos ambientes.
O mercado de HVAC-R (sigla para ar condicionado) já previa a necessidade de balancear esta equação, com isso inovações tecnológicas foram desenvolvidas e produtos aprimorados, para que o condicionador de ar não seja o vilão da conta de energia. Alinhados com essa necessidade, empresas e associações surgiram com o objetivo de testar os equipamentos independentemente dos fabricantes, como a AHRI nos EUA e a Eurovent na Europa. Esses testes geram certificações que se tornaram valorizadas pelo mercado, além de listar os fabricantes com o melhor desempenho, dando início a corrida pela eficiência energética entre os fabricantes, que foram estimulados a incorporar o que há de melhor dentre as soluções e a buscar novidades, por meio de inovações tecnológicas. As certificações de prédios estimularam a utilização das melhores soluções, pois exigem níveis de economia de energia que são atingidos somente com as melhores práticas e equipamentos.
Para definir o sistema de ar condicionado ideal e o mais eficiente energeticamente, muitos aspectos devem ser analisados, em alguns casos o investimento inicial é crucial, pois grandes sistemas de ar condicionado representam aproximadamente metade do valor investido em equipamentos nas edificações, bem como no custo operacional do empreendimento ao longo de sua vida útil. No entanto, é indispensável analisar a vida útil do prédio, construído para durar décadas, e a vida útil média de um sistema de ar condicionado de grande porte, de 15 a 20 anos. Dessa forma, o custo acumulado ao longo da vida útil supera com facilidade o custo de aquisição dos produtos.
Com as atenções voltadas para eficiência energética e o conhecimento de que o investimento gera retorno a curto e médio prazo, diversas iniciativas têm sido adotadas pelo mercado. Cabe aos fabricantes a responsabilidade de desenvolver os melhores produtos e tecnologias se antecipando as necessidades dos consumidores corporativos ou privados, além de informar o mercado sobre a correta aplicação dos produtos desenvolvidos. As tecnologias não se resumem somente a aplicação de inversores de frequência aos produtos, mas todas as opções que permitam atingir os maiores níveis de eficiência energética possíveis, tanto em carga plena como em carga parcial. Também é importante o desenvolvimento de tecnologias que permitam projetos mais eficientes, com reaproveitamento de calor, automação de uso para evitar desperdícios como funcionamento sem usuários, e possibilidade de monitoramento contínuo com facilidade, para manutenção preventiva ao invés de corretiva. Fontes de energia alternativas têm se tornado tendência, tanto por motivos de custos como de planejamento energético do País, com opções a gás natural ganhando força.
Além da incorporação de tecnologias em produtos e projetos para economia de energia, existe também uma busca por refrigerantes alternativos. Embora a maior parte dos refrigerantes utilizados hoje em dia não danifique a camada de ozônio, os mais populares (como R-134a e R-410A) tem potencial de efeito estufa mil vezes maior que o CO2. Em uma boa instalação, independentemente de qual seja o produto, o refrigerante não vaza, mas caso ocorra um acidente, ou o serviço não seja realizado da forma correta, esse vazamento afetará a atmosfera com o equivalente a toneladas de CO2, já que instalações maiores têm tipicamente dezenas de quilos de refrigerante. Na Europa, existem tentativas de utilizar a Amônia como refrigerante (em locais abertos e isolados, pois a amônia é nociva aos seres humanos) e outros refrigerantes, como o R-32. Na Ásia, são realizados estudos para desenvolver equipamentos viáveis com o próprio CO2 como refrigerante.
Em outra frente, cabe aos projetistas a utilização dos melhores produtos nas melhores condições possíveis, explorando todo o potencial de economia daquela tecnologia. Somente um projetista especialista em ar condicionado terá a capacidade de atingir esse máximo, sendo a aplicação especialmente importante em projetos mais complexos, como em sistemas de água gelada. A participação do projetista é fundamental em projetos que afetam a climatização, como a renovação de ar, ou mesmo o espaço destinado aos equipamentos. Também cabe aos demais projetistas buscarem as melhores práticas arquitetônicas, ao agente comissionador garantir que o sistema opere conforme projetado, a empresa de manutenção preservar o sistema e seus equipamentos nas condições de melhor funcionamento. Como uma aliada a todas as etapas existem as ferramentas de simulação, que cada vez mais proporcionam uma análise mais precisa do que traz bons resultados e do que não vale a pena devido aos custos proibitivos.
Por último, mas crucial no processo, o consumidor deve buscar continuamente as últimas novidades do mercado, em termos de produtos e práticas, pois as diferenças são significativas. É importante conscientizar que os gastos ao longo da operação do prédio devem ter peso maior na análise, que os gastos para aquisição dos equipamentos, pois o custo de operação certamente será maior. O setor está passando por uma onda de inovação, tanto na busca de aperfeiçoar as tecnologias existentes, como na busca de novas tecnologias, e o consumidor é quem deve se beneficiar disso. O futuro da eficiência energética em condicionadores de ar está mais próximo do que se imagina.
Via Green Building Council – gbcbrasil.org.br