Do total da eletricidade produzida no Brasil, cerca de 44% são consumidas nas edificações. Mas, com investimentos relativamente baixos, seria possível reduzir consideravelmente esse gasto de energia, cooperando dessa forma com os esforços da sociedade neste momento de crise energética e hídrica.O sistema capaz de oferecer esse benefício vem ganhando cada vez mais corpo no Brasil: trata-se da construção sustentável.
Para mensurar o crescimento dessa atividade no País basta analisar a evolução da procura pela ferramenta intitulada LEED (Leadership in Energy and Environmental Design), um sistema internacional de certificação e orientação ambiental para edificações praticado em cerca de 150 países. O Brasil ocupa o terceiro lugar no ranking mundial (veja quadro) de iniciativas nessa área, atrás apenas da China e dos Estados Unidos.
Entre as dimensões avaliadas para concessão do certificado LEED a uma construção está o nível de eficiência energética e do uso da água aplicado. Seguidos todos os passos recomendados, é possível obter uma economia média de 25% a 30% em energia e de até 40% na conta de água.
De acordo com Felipe Faria, managing director do Green Building Council Brasil, entidade que promove a certificação LEED no País, uma edificação diferenciada, a partir da etapa de concepção, passando pela construção e operação, terá custos operacionais bastante reduzidos. A relevância disso reside no fato de que o maior custo de um imóvel não decorre da fase de construção, mas sim da operação. “A construção, dentro de um ciclo de vida de 50 anos, representa apenas 15% do custo, e a operação, 85%”, informa.
Faria conta que o movimento de construção sustentável começou forte primeiramente no mundo corporativo, ambiente onde já está consolidado. Depois se estendeu para outros segmentos, como plantas industriais, data centers, centros de distribuição e logística e lojas do varejo. De acordo com o executivo, uma tendência mais recente é a utilização desse conceito na readaptação de edificações existentes e residenciais. “Há um grande percentual de desperdício nas edificações existentes e esse movimento de green building com foco na readaptação dessas construções pode contribuir muito com os atuais desafios que nós temos envolvendo energia e água. Para o governo, seria muito mais fácil e rápido e menos custoso investir em eficiência do que no aumento da produção de energia ou na distribuição de recursos hídricos”, entende o porta-voz.
Na opinião de Faria, a atual crise de abastecimento vivida pelo País tende a estimular a sociedade como um todo a refletir mais sobre o problema e também a interferir de maneira positiva nesse processo. “Dentro desse cenário, a tendência é que essa crise auxilie em muito na conscientização não só da população, mas também do governo, frente à grande oportunidade que temos de readequar nossas edificações existentes de modo a diminuir nossa pegada referente aos recursos hídricos e energéticos e também provocar as instituições financeiras de modo que elas venham a oferecer maiores oportunidades de financiamento com foco em projetos de retrofit”, acredita.
Uma vez conquistada a certificação LEED, é fundamental que todos os ocupantes da edificação contribuam para que as características originalmente projetadas não se descaracterizem com o passar do tempo ou a mudança das pessoas. Segundo Faria, essa tarefa depende bastante das equipes de facility da edificação, ou seja, os responsáveis pela operação e manutenção. “Esses profissionais têm papel um fundamental no movimento do green building. Uma edificação boa, mas mal operada, pode ser pior do que uma edificação ruim, mas bem operada”, compara.
Segundo o executivo do Green Building Council Brasil, é importante que nunca falte comunicação. Partindo desse princípio, a organização informa que pretende disponibilizar uma nova ferramenta que ajudará nesse processo, o LEED Dynamic Plaque. Trata-se de um painel inteligente para ser instalado na entrada da edificação certificada e que informará aos ocupantes do edifício em tempo real como está o consumo de energia e de água, a satisfação das pessoas, a geração de resíduos e a correta destinação deles durante a operação predial. A ideia é estimular ações nas equipes relacionadas à administração predial e também nos usuários do prédio, considerando que eles passam a ter conhecimento de que a eficiência de seu prédio está caindo ou melhorando. “A proposta é fazer a edificação conversar com as pessoas e passar informações”, sintetiza Faria.
Estabelecer esse “diálogo” é importante também porque as tecnologias inseridas nas edificações certificadas podem, eventualmente, passar despercebidas aos olhos de muitas pessoas. “No caso de uma empresa, é importante que as equipes ligadas ao facility ou de recursos humanos informem o usuário em geral quais foram as ações inseridas, os motivos de tais ações, a busca por reduções e qual deve ser o comportamento das pessoas, para que a companhia consiga otimizar a performance. Sem comunicação não se consegue difundir a informação nem fazer os efeitos se replicarem para aumentar o engajamento das pessoas”, alerta Faria.
Via GBC Brasil – gbcbrasil.org.br
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