Padrões de beleza “irrealistas e inflexíveis” estão a levar a que milhares de toneladas de fruta e vegetais sejam deixados a apodrecer porque não têm hipótese de ser vendidos, aponta estudo citado pelo “The Guardian”.
O culto da perfeição” nos Estados Unidos está a levar a que os norte-americanos deitem fora quase tanta comida quanto a que consomem, aumentando a fome e a pobreza com um grave impacto ambiental, por causa do desperdício de vegetais e fruta considerados demasiado feios para serem comercializados e consumidos.
De acordo com um estudo citado pelo “The Guardian” esta quarta-feira, com base em dados e entrevistas com dezenas de agricultores, camionistas, ativistas e fontes governamentais, cerca de metade da comida fresca que é produzida nos Estados Unidos é deixada no campo a apodrecer, usada para alimentar o gado ou transportada diretamente dos campos de cultivo para aterros, por causa do que os investigadores dizem ser os altos padrões de imagem “irrealistas e inflexíveis” que são a norma no país.
Uma investigação do Governo norte-americano tinha mostrado recentemente que cerca de 60 milhões de toneladas de produtos frescos, o equivalente a 160 milhões de dólares (145 milhões de euros), são desperdiçados pelos vendedores e consumidores por ano, ou seja, um terço do total de géneros alimentícios produzidos e em circulação vai para o lixo.
Mas segundo o novo estudo divulgado esta quarta-feira, o desperdício alimentar não se fica por aí, notando-se uma tendência crescente de deixar a apodrecer nos campos vegetais e frutos que não estejam visivelmente perfeitos à superfície, para poupar na despesa de os colher e transportar pela certeza de que nunca seriam comprados. Isto faz com que o total de comida desperdiçada corresponda a metade do total de alimentos produzidos.
“Diria que, por vezes, existe 25% de uma colheita que é simplesmente deitada fora ou usada para alimentar gado, às vezes ainda pior”, diz Wayde Kirschenman, cuja família vive à base da produção de batatas e vegetais na California desde os anos 1930.
Os investigadores reconhecem que não existem ainda cálculos precisos sobre a quantidade de comida desperdiçada nos EUA por ano, embora apontem que, neste momento, há organizações como o Instituto de Recursos Mundiais a trabalhar nesse sentido.
Para combater parte do desperdício, sobretudo aquele que é motivado pela aparência da fruta e vegetais, estão a brotar nos EUA serviços de entrega ao domicílio de comida “feia”, à semelhança da iniciativa portuguesa Fruta Feia. Mas segundo Kirschenman e outros agricultores ouvidos, a taxa de rejeição da comida com base no seu aspeto por serviços como a Imperfect Produce, em São Francisco, é ainda assim muito alta.
Globalmente, cerca de um terço de toda a comida produzida é desperdiçada hoje em dia, o correspondente a 1,6 mil milhões de toneladas de produtos alimentares por ano, quase um bilião de dólares. Segundo o “The Guardian”, se esta comida perdida — que tem aumentado a cada ano criando obstáculos ao combate às alterações climáticas, à luta contra a fome e a pobreza — fosse empilhada, a distância corresponderia a uma viagem à Lua e a mais uma volta inteira sobre o satélite.
Via Expresso por Joana Azevedo Viana
Próximo Post