Custo elevado e dependência de componentes estrangeiros ainda limitam democratização de sistemas fotovoltaicos no país, mas quem tem o sistema em casa garante que é um bom negócio
O Brasil é um dos poucos países do mundo que recebe, a cada ano, mais de três mil horas de sol. A média nacional de irradiação diária fica em torno de oito, o que garante possibilidades altamente favoráveis à geração de energia solar. Embora ainda seja caro investir em um sistema fotovoltaico em casa, um novo cenário já começa a se desenhar.
Os preços de estruturas de pequeno a médio porte variam de R$ 15 mil a R$ 85 mil, dependendo da potência instalada. Contudo, o bom desempenho da tecnologia em termos de geração energética e as condições que fornece para décadas de economia vêm aumentando a adesão por painéis solares. Nos últimos três anos, a instalação de módulos que transformam a luz do sol em energia elétrica nas residências deu um salto. Em 2012, apenas três casas contavam com painéis solares. Até o fim do ano passado, já eram 1.750 mil, segundo dados da Associação Brasileira de Energia Fotovoltaica (ABSOLAR).
Bom negócio
O administrador de empresas João Buso integra o grupo dos que já apostaram no sistema. Disposto a investir no setor, quis “tirar a prova” sobre as vantagens da opção. No começo de 2015 ele contratou uma empresa especializada e, por R$ 20 mil, instalou oito painéis no telhado de casa. O sistema gera 430 quilowatts/mês e reduziu expressivamente o preço da conta de luz. Em meses em que o sol predominou em Curitiba, a despesa mensal chegou a ser de R$ 78. Antes, a média era de R$ 480. “De quatro a seis anos o investimento inicial é pago pela economia feita em cada mês. Depois, dentro de 20 a 30 anos, é só lucro, porque a manutenção que ele exige é bem baixa”, diz João.
Engenheiro eletricista Almir Soar também aderiu à tecnologia. Desde abril, quando foi instalada, a estrutura semelhante à da casa de João garantiu uma boa surpresa ao orçamento da família. “A redução na conta foi na ordem de R$ 300 em relação a março. Por abril ter tido dias de bastante luminosidade, as placas alcançaram quase o máximo do potencial”, conta. Para Almir, o sistema rentabiliza mais que uma poupança e ainda agrega valor ao imóvel. “Sem contar os muitos benefícios que gera ao meio ambiente, por funcionar a partir de uma fonte limpa, que não deve ser desperdiçada”, pontua.
Controle preciso
Em busca de uma economia ainda maior, o também engenheiro eletricista Marcelo Talevi optou há quase um ano pela contratação de um módulo de 18 placas, com capacidade de gerar 550 quilowatts/mês. O investimento foi de R$ 31 mil. Em meses de sol, segundo ele, o gasto médio de R$ 600 cai para R$ 170. “Por dia, as placas são capazes de produzir, juntas, 18 quilowatts, mas até com céu nublado e chuva, elas geram alguma porção energética”, conta. O controle de tudo é feito por um medidor digital fornecido pela Companhia Paranaense de Energia Elétrica (Copel), que substitui o analógico e fornece informações precisas sobre o volume de energia produzido, gasto e acumulado. A porção não aproveitada pela residência é lançada à rede da concessionária, mas retorna em créditos abatidos nas próximas faturas. “Ainda vejo por um aplicativo no celular quanto da energia que as placas produziram e eu não utilizei entraram na rede de distribuição. Controlo tudo”, diz.
Incentivos devem facilitar adesão à geração doméstica
Em março, passaram a vigorar novas regras da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) para produção de energia elétrica gerada e trocada com distribuidoras locais. Em oito anos, nos cálculos da agência, 1,2 milhão de residências, comércios e indústrias devem produzir a própria energia, totalizando 4,5 gigawatts de potência instalada. Somando os setores hoje em dia, pouco mais de 2 mil unidades consumidoras brasileiras fazem isso.
Linhas de financiamento já disponíveis a pessoas físicas por bancos federais e privados a juros mais baixos para facilitar a adesão ao sistema fotovoltaico e um projeto de lei que cria o Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) Verde, na medida em que ganhem escala, devem contribuir ainda mais para o alcance da estimativa.
No caso do projeto, os municípios que o aprovam passam a oferecer descontos no valor do imposto a construções que contem com medidas que favoreçam o meio ambiente, como captação solar, eólica e da água da chuva, por exemplo.
Em Curitiba, a proposta do IPTU Verde ainda não saiu do campo das ideias. Ela até integra o Plano Diretor da capital, que indica os rumos da cidade pelos próximos dez anos, mas ainda deve passar por algumas etapas de discussão até ser aprovada pelo prefeito Gustavo Fruet e, finalmente, passar a valer.