Ainda incipiente no país, sistema fotovoltaico ganha espaço em residências e indústrias. Número de micro e miniusinas instaladas nos telhados em MG já é o maior do país
Apesar de estar entre os dez países que mais consomem energia em todo o mundo, de ter a seu favor o calor dos trópicos e ver o sol brilhar o ano inteiro, o Brasil ainda é dependente do sistema hidrelétrico e aproveita muito pouco o potencial da luz que vem do céu e pode baratear a conta de energia, reduzir impactos socioambientais e ainda contribuir para o crescimento econômico. Na corrida mundial rumo às novas fontes renováveis de energia, o país tem posição acanhada, mas Minas vem se destacando na chamada geração fotovoltaica distribuída. O estado tem o maior número de micro e miniusinas, aquelas instaladas nos telhados das residências.
Aos poucos a geração a partir do sol começa a alcançar também as indústrias. Na região Central do estado, em Alvinópolis, a Bio Extratus concluiu investimentos da ordem de R$ 3 milhões e será a primeira indústria no país a utilizar energia cem por cento fotovoltaica instalada com capital próprio. Em Minas, são cerca de 330 sistemas gerando energia, principalmente em residências, o que corresponde a 20% de todos os sistemas instalados no país. Apesar de a tecnologia ainda ter custo alto, dados da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar) apontam que nos últimos 10 anos o investimento ficou perto de 80% mais barato.
Hoje o preço médio de uma microusina é de aproximadamente R$ 20 mil. “O sistema é capaz de abastecer uma residência, de quatro pessoas, que tenha um consumo médio mensal da energia próximo a 300 kw/h”, compara Rodrigo Sauaia, presidente-executivo da Absolar. Segundo ele, o retorno do investimento se dá entre seis e nove anos e há equipamentos em funcionamento há mais de 30 anos. Ele diz que Minas tem um dos melhores recursos do país, com sol o ano inteiro. “A intenção agora é motivar o uso da energia em escolas, hospitais, creches, reduzindo as contas do próprio estado e municípios”, aponta.
EM CASA Apesar de países europeus estarem bem à frente na geração fotovoltaica, os melhores níveis de insolação no continente europeu são iguais aos piores níveis brasileiros. Pensando em aproveitar a fonte solar, em setembro do ano passado o engenheiro mecânico Lupércio de Sousa Junior decidiu usar o espaço livre em seu apartamento de cobertura para instalar uma usina de microgeração.
Ele investiu R$ 20 mil no projeto que tem vida média estimada em aproximadamente 27 anos. Na família de Lupércio são quatro pessoas e o consumo mensal de energia, antes da microgeração, girava próximo a R$ 300 por mês. “Hoje pago a taxa mínima da Cemig, de R$ 90”, explica o engenheiro. Segundo ele a decisão do investimento não foi apenas financeira mas também ambiental. “A energia fotovoltaica agride menos o meio ambiente.”
Como engenheiro mecânico que observa de perto o avanço do setor, ele acredita no potencial do país e diz que o preço da tecnologia tende a cair com o crescimento do volume instalado. “Percebo que existe há muito tempo nos países europeus, nos Estados Unidos, a preocupação de ter as construções voltadas para o Norte. O Brasil está bem atrasado, mas tem grande potencial.”
Para se ter ideia do descompasso entre o Brasil e o mundo, a geração fotovoltaica brasileira corresponde ao que os Estados Unidos geravam em 1992.Na corrida mundial, o ensolarado Brasil largou atrasado e por enquanto, a energia fotovoltaica na matriz nacional não corresponde nem a 1% do que gera países como a Alemanha, até pouco tempo líder na energia limpa, posto agora ocupado pela China. O Brasil gera cerca de 40 MW, o que lhe dá uma participação de 0,02% na matriz energética.
Usina para fábrica
Em Alvinópolis, região Central do estado, foi dada partida num projeto importante para o país. Na pequena cidade de 15 mil habitantes terá a primeira indústria do país abastecida totalmente com a energia fotovoltaica e implementada com capital privado. “Em todos os países do mundo onde a energia fotovoltaica decolou foi alavancado por políticas públicas ou por iniciativas do setor privado que contornou os impasses”, observa Bárbara Rubim, coordenadora no Greenpeace da campanha de energias renováveis.
Driblar os impasses foi a atitude da Bio Extratus, especializada em cosméticos naturais. A indústria, que atualmente consome 67 mil kw/h mês de energia, a partir de maio vai ser abastecida pela fonte fotovoltaica. A construção da usina foi rápida, cerca de dois meses e a decisão foi bancar o projeto com capital próprio.
“Estimamos recuperar o investimento de R$ 3 milhões em sete anos, mas o maior retorno que pretendemos é o ambiental. A geração de uma energia renovável e menos agressiva faz parte da política ambiental da empresa”, aponta Lindouro Modesto, um dos fundadores da indústria, que começou com a fabricação caseira de xampus, na cozinha de casa, e hoje emprega 530 funcionários. “Estamos apenas aguardando a chegada da Rússia, de um religador, equipamento que dá proteção à rede da Cemig para dar início ao funcionamento da usina”, explica Lindouro.
As 6 mil toneladas de cosméticos/ano produzidas pela Bio Extratus e comercializadas para todo o país, com exportações também para Europa, Estados Unidos e América do Sul, vão ser agora fabricadas com a energia fotovoltaica. São 2.159 placas de 265 Megawatts cada, distribuídas em 4 mil metros quadrados de telhados e galpões.