20 de outubro, 2015
Segundo especialistas, a geração de energia eólica, solar e bioenergia ainda estão dando os primeiros passos no Amazonas.
Em se tratando de fontes alternativas de energia, certamente merece destaque o uso do Gás Natural (GN) pelas indústrias do Polo Industrial de Manaus (PIM). De acordo com a Federação das Indústrias do Estado do Amazonas (Fieam) do total vendido pela Companhia de Gás do Amazonas (Cigás) ao segmento não térmico, as indústrias representam 85%, o que equivale a um volume de 71.969 m³/dia. Atualmente são 25 indústrias em utilização desta fonte de energia que reduz em até 59% as emissões de CO2 na atmosfera. No entanto, segundo especialistas, a geração de energia eólica, solar e bioenergia ainda estão dando os primeiros passos no Amazonas, o Estado com grande potencial principalmente na geração de energia solar.
A Coordenadora da Assessoria Técnica na Fieam, Renée Fagundes Veiga, destaca as principais vantagens da utilização do GN em processos industriais, tais como, a sua combustão completa e limpa, com baixa emissão de agentes poluentes no meio ambiente e grande geração de energia, o aumento da vida útil dos equipamentos que o utilizam. “Com a consequente diminuição dos custos de manutenção e do tempo de parada destes equipamentos”, citou.
O Gás Natural é o mais ecológico dos combustíveis fósseis. Reduz as emissões de CO2 de 35% a 39% se comparado a óleos combustíveis e em 59% se comparado ao carvão. Também evita impurezas e depósitos de compostos contaminantes, reduzindo significativamente as restrições de órgãos ambientais. “E o fato de ser menos poluente que as fontes energéticas tradicionais, em especial o óleo combustível, diesel e carvão”, observou Renée Veiga.
De acordo com as últimas informações divulgadas pela Cigás, as 25 indústrias instaladas no PIM que utilizam o GN em seus processos produtivos, diretamente do gasoduto são a Ambev, Bike Norte, Brasjuta, Carboman, Ceras Johnson, Climazon, Coca-Cola, DDW, Fitas flax, Keihin, Metalfino, Moto Honda, Honda- HCA, Neotec, Novamed, Nissin Brake, Procoating, Saint-Gobain, Samsung, Videolar, Yamaha, Videolar IV, Wapmetal, Eternit e Universal.
Bioenergia
Um dos grandes desafios que o Ministério do Meio Ambiente (MMA) tem lidado no âmbito do Programa Zoneamento Ecológico-Econômico (ZEE) é associá-lo as culturas energéticas principalmente voltadas para produção de bioenergia. Seja o dendê, cana-de-açúcar, espécies florestais que também tem potencial de aproveitamento energético para que a gente possa inclusive cumprir as metas que foram firmadas pelo Brasil no âmbito da Convenção da ONU (Organização das Nações Unidas) sobre o clima de redução dos gases de efeito estufa.
Segundo o coordenador do Programa ZEE na Amazônia Legal, subordinado ao MMA, Bruno Abisaber, todos os setores de expansão econômica no planeta, principalmente a produção energética, são considerados durante a elaboração do ZEE. “No país que se planeja com crescimento robusto para os próximos anos a questão energética é fundamental”, informou.
Ainda segundo Abisaver, há um esforço do MMA no sentido de fortalecer a aproximação do setor de produção de biomassa com o setor de utilização de energia hidroelétrica a partir da revisão dos procedimentos para os processos de licenciamento, dentre outros processos burocráticos. “E a linha de transmissão também”, completou.
Mas, na avaliação do chefe-geral da Embrapa Amazônia Ocidental, Marcelo Rossi, essas novas fontes de energia são mais para uso local. No caso da lenha, a madeira produzida com base no reflorestamento, é importante fonte geradora de energia para o polo cerâmico de Iranduba e Manacapuru, municípios que integram a Região Metropolitana de Manaus (RMM). “Em vez de queimar a floresta nativa, para produzir cerâmica, telhas e tijolos, há uma opção de se reflorestar e utilizar esse material porque a produção de lenha é muito rápida, a cultura dura um ou dois anos”, explicou.
Rossi destaca que as indústrias do polo cerâmico além de obter ganho econômico com uma cultura de reflorestamento muito rápida, também é uma opção de cultura sustentável e renovável. “Dessa forma não vai interferir na floresta nativa com desmatamento para produzir a madeira para produção de cerâmica”, frisou.
Ainda segundo Rossi, essa lenha utilizada na produção de cerâmicas pode ser substituída pelo GN (Gás Natural). Mas existem dois entraves para o setor que oneram o valor do produto final. O primeiro está na distribuição do gás que esbarra no elevado custo logístico para levar o gasoduto até as indústrias. O segundo entrave está no valor do GN que é influenciado por preços internacionais. “É preciso toda uma infraestrutura e planejamento adequado para chegar a esses lugares e às vezes o custo fica muito alto para o setor produtivo”, alertou.
Energia solar tem potencial no Amazonas pelo calor
De acordo com dados da Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica), o Amazonas tem potencial de radiação solar cinco vezes maior que o da Alemanha. No entanto, o país germânico, é líder mundial em geração de energia solar. O sistema de geração de energia solar ainda é pouco explorado no Amazonas. Prova disso é que mais de 90% da geração elétrica do interior do Amazonas vem de termelétricas movidas a óleo diesel, também segundo a Aneel.
O professor e pesquisador do departamento de Engenharia Química da Ufam (Universidade Federal do Amazonas), Johnson Pontes, alerta para o efeito estufa e os males causados pela utilização do óleo diesel na geração de energia. “O diesel produz muito CO2 (dióxido de carbono), um dos principais gases causadores do efeito estufa. Esses gases acumulados aumentam a temperatura média do planeta”, frisou.
Na avaliação do pesquisador e coordenador do Nits (Núcleo de Inovação e Tecnologias Sustentáveis) do Instituto Mamirauá, Josivaldo Modesto, o Amazonas possui um grande potencial de radiação solar durante o ano inteiro, o que justifica a utilização de energia solar.
Mas o que sobra de energia natural falta em incentivo e investimento. “Na Europa, por exemplo, eles possuem um baixo potencial de radiação solar durante o ano. No entanto, eles investem muito mais em recursos tecnológicos de obtenção de energia limpa”, ponderou.
A luz solar é uma fonte primária de energia e, por meio de dispositivos fotovoltaicos, pode gerar eletricidade. “Existem dois tipos de sistemas de energia solar. O mais conhecido é o sistema fotovoltaico autônomo, composto por um conjunto de painéis solares, que nós chamamos de geradores solares. Esses painéis captam a energia luminosa do sol e transformam-na em corrente elétrica”, explicou Modesto.
Ainda segundo o pesquisador do Nits, outro sistema de energia solar existente é o SFCR (Sistema Fotovoltaico Conectado à Rede). Essa tecnologia pioneira na Amazônia foi instalada na sede do Instituto Mamirauá. O sistema funciona como um rastreador solar por seguimento, porque ele rastreia a trajetória que o sol faz durante o dia e se movimenta de acordo com o sol, de forma automática. “Como se fosse um girassol”, comparou.
Modesto completa descrevendo o funcionamento do SFCR. “São duas placas solares em que os módulos são alojados em uma estrutura móvel, na qual o ângulo de inclinação e orientação é variável durante o dia, para possibilitar melhor aproveitamento da radiação solar”, concluiu.
Na opinião de Johnson Pontes, este tipo de sistema também gera um excedente de energia, que pode ser entregue à rede pública da concessionária local. “Com esse excedente de energia é possível criar um sistema, como existe na Alemanha, para a sua utilização com outros fins. Esse excedente poderia ser utilizado na indústria ou na eletrificação rural, por exemplo”, afirmou o pesquisador da Ufam.
Energia Eólica
Embora o Brasil ainda careça de uma matriz energética diversificada -uma vez que hoje depende, principalmente, das hidrelétricas e termelétricas -a fonte que mais cresce no País atualmente é a energia eólica. Só para se ter uma ideia, a participação dessa alternativa renovável vai saltar dos atuais 3% para 8% até 2018.
De acordo com a Abeeólica (Associação Brasileira de Energia Eólica) um recorde já foi registrado em 2013, com 4,7 GW (gigawatts) de potência contratada, 142% a mais do que a meta esperada de 2GW.
Segundo o último boletim sobre o setor, divulgado na segunda semana de fevereiro pela Abeeólica (Associação Brasileira de Energia Eólica), em seis anos, a capacidade instalada dessa fonte no país vai aumentar quase 300%. Ao levarmos em conta os parques em construção e a energia já contratada, vamos saltar dos atuais 3.445,3 MW (megawatts) para 13.487,3 MW, energia suficiente para abastecer mais de 20 milhões de casas no país, segundo fontes da associação. Dezembro terminou com um acréscimo de 10MW na capacidade instalada em relação ao mês anterior, passando para 3,46 GW, distribuídos em 142 parques eólicos.
Viabilidade
Pesquisada há mais de 50 anos, a energia eólica economicamente viável tem pouco mais de 20 anos. Os países precursores dessa tecnologia ficam na Europa (Dinamarca e Alemanha). Recente no Brasil, ela vem contribuindo significativamente para o desenvolvimento do País, abastecendo hoje cerca de quatro milhões de casas, ou 12 milhões de pessoas –o equivalente à cidade de São Paulo –segundo dados da Abeeólica.
A presidente da entidade, Élbia Melo, presente no Senado em um debate sobre o assunto, defendeu que o Brasil precisa superar uma visão turva sobre essa fonte de energia, que a coloca em desconfiança sob o argumento de que esse recurso seria sazonal e intermitente. “Toda fonte que vem da natureza é, por definição, sazonal e intermitente, mas que é possível conter riscos no caso da eólica por meio do aumento da quantidade de geradores montados”, destacou.
A partir do primeiro leilão competitivo com participação eólica, foi contratado desde 2009, mais de 12 GW de capacidade eólica instalada, o que representa cerca de 10% de toda a matriz energética brasileira, incluindo as fontes nuclear, hidrelétrica, carvão, biomassa e outras. “A energia eólica hoje instalada representa cerca de 4% do total de energia para o sistema e deve crescer fortemente nos próximos anos, podendo chegar a 10% em 2018”, informou a presidente da Abeeólica, Élbia Melo.
Fonte: Portal Amazônia