O próximo desafio é migrar para veículos com emissões zero. O setor de transporte é responsável por quase um quarto das emissões globais de gases de efeito estufa relacionadas à energia, e deve crescer para um terço até 2050 Imagem: © Jacek Dylag/Unsplash
Quando os postos de gasolina na Argélia pararam de fornecer gasolina com chumbo em julho, o uso de gasolina com o metal pesado teve um fim em todo o mundo. Esse marco se segue a uma campanha de quase duas décadas pela Parceria global por Combustíveis e Veículos Limpos (PCFV, na sigla em inglês), liderada pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma).
Desde 1922, o uso de chumbo tetraetila como aditivo de gasolina para melhorar o desempenho do motor tem sido uma catástrofe para o meio ambiente e para a saúde pública. Na década de 1970, quase toda a gasolina produzida no mundo continha chumbo. Quando o Pnuma iniciou sua campanha para eliminar o chumbo na gasolina em 2002, tratava-se de uma das ameaças ambientais mais graves para a saúde humana.
O ano de 2021 marcou o fim da gasolina com chumbo em todo o mundo, após ter contaminado o ar, a poeira, o solo, a água potável e as plantações de alimentos por quase um século. A gasolina com chumbo causa doenças cardíacas, derrames cerebrais e câncer.
Também afeta o desenvolvimento do cérebro humano, prejudicando especialmente as crianças, com estudos sugerindo que a contaminação reduziu de 5 a 10 pontos de QI entre elas. Estima-se que banir o uso de gasolina com chumbo evita mais de 1,2 milhão de mortes prematuras por ano, aumenta os pontos de QI entre as crianças, economiza 2,44 trilhões de dólares para a economia global e diminui as taxas de criminalidade.
“A execução bem-sucedida da proibição da gasolina com chumbo é um grande marco para a saúde global e para nosso meio ambiente”, disse a diretora-executiva do Pnuma, Inger Andersen. “Superando um século de mortes e doenças que afetaram centenas de milhões e degradaram o meio ambiente em todo o mundo, estamos revigorados para mudar a trajetória da humanidade para melhor, por meio de uma transição acelerada para veículos limpos e a mobilidade elétrica.”
Na década de 1980, a maioria dos países de alta renda proibiu o uso de gasolina com chumbo, mas até o final de 2002, quase todos os países de baixa renda e renda média, incluindo alguns membros da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), ainda utilizavam gasolina com chumbo.
O PCFV é uma parceria público-privada que trouxe todas as partes interessadas à mesa, prestando assistência técnica, sensibilizando, superando desafios e resistência de negociantes de petróleo e produtores de chumbo locais, além de investir na modernização de refinarias.
“Quando a ONU começou a trabalhar com governos e empresas para eliminar o chumbo do petróleo, as nações da África Subsaariana abraçaram com entusiasmo essa oportunidade”, conta o ministro de Meio Ambiente, Ciência, Tecnologia e Inovação de Gana, Kwaku Afriyie. “Gana foi um dos cinco países da África Ocidental a participar dos primeiros workshops e declarações sub-regionais. Após campanhas na mídia do PCFV, relatórios, estudos, expondo ilegalidades e testes públicos feitos para expor os altos níveis de chumbo no sangue da população, Gana tornou-se cada vez mais determinada a libertar seu combustível do chumbo”.
Apesar desse progresso, a frota global de veículos que está em rápido crescimento continua a contribuir para a ameaça da poluição local do ar, da água e do solo, bem como para a crise climática global: o setor de transporte é responsável por quase um quarto das emissões globais de gases de efeito estufa relacionadas à energia, e deve crescer para um terço até 2050.
Embora muitos países já tenham começado a transição para carros elétricos, 1,2 bilhão de novos veículos serão lançados nas próximas décadas, e muitos deles usarão combustíveis fósseis, especialmente em países em desenvolvimento. Isso inclui milhões de veículos usados de baixa qualidade exportados da Europa, Estados Unidos e Japão para países de renda média e baixa. Isso contribui para o aquecimento do planeta, polui o ar e pode causar acidentes.
“O fato de uma aliança de governos, empresas e sociedade civil apoiada pela ONU ter conseguido livrar o mundo desse combustível tóxico é prova do poder do multilateralismo de levar o mundo em direção à sustentabilidade e a um futuro mais limpo e mais verde”, defende Andersen. “Pedimos a essas mesmas partes interessadas que se inspirem nessa enorme conquista para garantir que, agora que temos combustíveis mais limpos, também adotemos padrões de veículos mais limpos em todo o mundo – a combinação de combustíveis e veículos mais limpos pode reduzir as emissões em mais de 80%.”
Além disso, embora agora tenhamos eliminado a maior fonte de poluição por chumbo, ações urgentes ainda são necessárias para interromper essa poluição por outras fontes – como chumbo em tintas, baterias com chumbo e chumbo em utensílios domésticos.
O fim da gasolina com chumbo marca um grande progresso antes do Dia Internacional do Ar Limpo para um céu azul deste ano, celebrado no dia 7 de setembro.