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Entre petróleo e energias renováveis, América Latina busca seu caminho

02 de abril, 2015

A America Latina continua buscando seu caminho para cobrir suas crescentes necessidades energéticas, em uma região com países como a Venezuela, o território com maiores reservas de petróleo no mundo, mas também o Uruguai, um dos mais avançados em energia eólica.

“É certo que é uma região que tem muito petróleo e gás natural, mas muitos países não têm. No Uruguai não temos nem petróleo, nem gás, nem carvão”, afirma Ramón Méndez, diretor nacional de Energia de 2008 a fevereiro de 2015.

Uma situação que impulsionou esse pequeno país de 3,3 milhões de habitantes a apostar na energia eólica, até se converter em um dos mais desenvolvidos neste setor.

“Conseguimos no final de 2014 que 96% da nossa energia seja de origem renovável”, comemora Méndez.

Assim como o Uruguai, parte da região, já equipada com represas hidrelétricas, passou a investir em energias limpas: no deserto do Atacama, o Chile prepara um parque solar gigante. No Brasil e no México florescem os parques eólicos.

Tanto é assim que em dezembro a organização ambientalista WWF descreveu a América Latina como a “nova região de predileção para a energia renovável”, e parabenizou os cinco países que, segundo ela, se destacam no setor: Brasil, Costa Rica, Uruguai, Chile e México.

“Entre 2002 e 2012, a energia eólica aumentou em média 26% no mundo. Na América do Sul cresceu 51%, na América Central, 42%”, aponta Tabaré Arroyo Curras, especialista em energia da WWF.

A maioria dos países latino-americanos propõe mecanismos estimulantes. Mas “nem tudo são flores”. “Em relação à energia solar, não fizemos o esforço de levá-la adiante”, diz Arroyo Curras. “Geramos menos de 0,5% da eletricidade por essa fonte de energia”, exemplifica.

O tema da energia renovável surge na América Latina no momento em que, devido a seu crescimento econômico, aumenta sua demanda energética.

“Um dos nossos estudos mostra que a região terá que multiplicar por dois suas capacidades energéticas até 2030”, explica de Washington Gerard Alleng, especialista em mudanças climáticas do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).

“Isso exerce pressão no sistema energético: produzir energia se transformará em um desafio para a região. Mas também é uma oportunidade para as energias renováveis”, afirma.

Considerando o clima excepcional na região, as energias limpas podem cobrir mais de 20 vezes a demanda de eletricidade na América Latina antes de 2050, informa o BID.

Há, contudo, obstáculos, especialmente no que a WWF chama de “subsídios perversos aos combustíveis fósseis”.

“Os países onde é muito complicado para as energias renováveis entrarem com força são Bolívia, Peru e Equador (…) e também um pouco a Argentina”, países em que “em 2013, mais de 40 bilhões de dólares foram destinados ao subsídio de combustíveis fósseis”, ou seja, “duas vezes mais do que todo o investimento em energias renováveis em todo o continente no mesmo ano”, lamenta Tabaré Arroyo Curras.

Isto sem contar com as reticências dos produtores de gás e petróleo.

“Há tensões dentro dos organismos regionais”, conta uma fonte próxima a um governo latino-americano, “entre os partidários das energias renováveis e um grupo de países liderado por Venezuela, Bolívia, Argentina e Equador”.

“Estamos construindo o tratado energético da Unasul, mas não chegamos a sair do índice, porque temos pontos de vista totalmente diferentes”, acrescentou Curras.
Sébastien Velut, diretor do Instituto de Altos Estudos sobre América Latina (IHEAL) em Paris, aponta “a disponibilidade de hidrocarbonetos” como um freio às energias renováveis.

“Na Colômbia e no Equador, continuamos com um modelo mais baseado no petróleo. Na Venezuela, a gasolina é tão barata que representa um obstáculo enorme para qualquer mudança”, opina.

O Uruguai mesmo anunciou em janeiro ter encontrado 20 potenciais reservas de petróleo no norte do país, embora tenha garantido que isso não prejudicará sua política de energia limpa.

“Sim, claro, estamos buscando petróleo”, afirma Ramón Méndez, alegando que a matéria-prima é fundamental para o transporte e será indispensável por muito tempo. “É uma questão de sobrevivência”, conclui.

Fonte: AFP

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