O suprimento de energia é um tema de preocupação constante no Brasil. Toda vez que o crescimento da economia coincide com um período em que os reservatórios das hidrelétricas estão com seus níveis baixos, fala-se do perigo de um apagão de energia. De fato, recentemente quase ficaríamos sem eletricidade, se nos últimos três anos o governo não tivesse colocado em funcionamento as termelétricas a óleo e carvão, que passaram a suprir cerca de 20% da eletricidade consumida pelo país. A falta de investimentos em eletricidade, principalmente na geração e transmissão, foi compensada pela queda no consumo, que caiu 2,1% entre 2014 e 2015.
Como sempre repetem os especialistas do setor de energia, “a melhor energia é aquela que não precisou ser gerada”. Países altamente industrializados, como o Japão, a Alemanha e os Estados Unidos, já vem implantando políticas nacionais de eficiência energética há muitos anos e continuam a estabelecer objetivos cada vez mais ambiciosos. A Alemanha, por exemplo, planeja reduzir o consumo de energia primária em 20% até 2020 e em 50% até 2050, tendo por base o consumo de 2008 (energia primária é toda forma de energia disponível na natureza antes de ser transformada, como a energia dos combustíveis, do sol, da água, do vento). O Japão, apesar de ter constantemente aumentado sua produção industrial, conseguiu reduzir seu consumo de energia primária em 43% entre 1973 e 2009.
No Brasil ainda estamos muito longe disso e alguns fatores contribuem para que o país ainda não tenha implantado uma política de eficiência energética. De um lado, o desenvolvimento tecnológico da indústria e do setor de construção ainda não é suficientemente avançado, como nos países altamente industrializados (ainda se dá pouco valor à inovação tecnológica). Por outro lado dispomos de grande oferta de energias primárias (rios para a construção de hidrelétricas, irradiação solar, ventos, biomassa, petróleo, etc.), de exploração relativamente simples – o que muitas vezes nos falta são os recursos financeiros. Outro aspecto é que ainda não chegamos a desenvolver um conjunto de normas técnicas e leis, que favoreçam a prática do uso eficiente de energia.
Em economia fala-se na “síndrome holandesa” quando um país, rico em recursos naturais, se especializa na exploração destas riquezas, abandonando a produção industrial. É o que aconteceu, por exemplo, com a Venezuela em relação ao petróleo. No Brasil, de certo modo, sofremos de uma síndrome holandesa em relação às fontes primárias de energia. Enquanto que aumentamos a oferta interna de energia em 3,1% entre 2013 e 2014, pouco nos preocupamos em implantar medidas efetivas de economia de consumo – iniciativas como o Selo Procel, criado em 1985, precisam ser estendidas a outros setores.
O uso eficiente de energia passa necessariamente pela questão econômica. Quando o menor consumo de energia (em muitos casos menor emissão de gases) se transformar em efetiva vantagem, seja para o consumidor ou produtor, o país passará a encarar a eficiência energética de outra forma. Na disputa por novos mercados, nossa indústria terá que desenvolver produtos mais eficientes, cuja produção também ocorreu de maneira mais econômica e ambientalmente segura. A energia é recurso cuja geração é cara; por isso precisamos preservá-la.
*Ricardo Ernesto Rose é consultor em inteligência de mercado, desenvolve atividades de marketing, transferência tecnológica e consultoria comercial na área da sustentabilidade. Jornalista, autor, com especialização em gestão ambiental e sociologia. Graduado e pós-graduado em filosofia. Coordenou o lançamento de diversas publicações sobre os setores de meio ambiente e energia e escreve regularmente para sites, jornais e revistas. É editor do blog“Da natureza e da cultura” (www.danaturezaedacultura.blogspot.com.br) e autor dos livros “Como está a questão ambiental – 100 artigos sobre a relação do meio ambiente com a economia e o clima”, “Os recursos e a cidade” e “A religião e o riso e outros textos de filosofia e sociologia”. Contatos através do site www.ricardorose.com.br
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