Eficiência energética: Segundo George Soares, da Eletrobras, prefeituras poderiam economizar 4,8 mil MWh por ano com iluminação pública eficiente e reduzir o uso em até 35% nos edifícios
O Brasil já teria capacidade para consumir energia de forma eficiente, diz o chefe do departamento de eficiência energética da Eletrobras, George Alves Soares. Segundo ele, apenas com iluminação pública, há um potencial de redução de consumo de 4,8 mil megawatts-hora (MWh) por ano.
De acordo com Soares, mais de 400 cidades brasileiras já elaboraram Planos Municipais de Gestão de Energia Elétrica (Plamges), em conjunto com o Programa Nacional de Conservação de Energia Elétrica (Procel) da Eletrobras. A iniciativa, que visa a medição e a eliminação das fontes de desperdício energético, pode garantir uma economia de até 35% na demanda elétrica dos edifícios públicos, estima ele. O desafio é estender a medida pelo País.
“A ideia é montar um programa para analisar as contas da administração municipal, instituir uma governança e uma organização da gestão energética das cidades, diagnosticar os principais pontos de consumo e, finalmente, produzir um plano onde sejam identificadas as ações a serem tomadas pelas prefeituras”, explica Soares. Ele observa, porém, que “o município tem que cuidar da iluminação e os prédios públicos, muitas vezes tem escolas em regiões distantes, então a gestão fica bem mais difícil”.
O custo elevado da instalação de sistemas de lâmpadas LED nos postes de iluminaçãodas cidades é outra barreira, conta o executivo. “No entanto, na medida em que a tecnologia for se instalando no País, os preços vão sendo reduzidos.” Para ele, a nacionalização da fabricação do produto e a criação de linhas de financiamento específicas poderiam estimular à adoção.
Nesse sentido, o especialista em projetos de eficiência energética com iluminação em LED da fabricante de lâmpadas FLC, Gustavo Barros, destaca que os investimentos na adoção da tecnologia para vias públicas seriam pagos com a economia registrada entre 18 e 24 meses. Ele estima que a economia média de uma lâmpada LED na comparação com as eletrônicas utilizadas atualmente seria de cerca de 50%. Com custos decrescentes, o executivo acredita que o formato deva se disseminar por todo o mercado em poucos anos, de forma até a eliminar a necessidade de linhas de crédito expressivas.
“Nos últimos cinco anos, o preço do produto caiu pela metade e a tendência mostra uma queda acentuada em um futuro próximo, o que deve permitir que o sistema se torne de uso comum em breve”, calcula Barros. “Até com os aumentos de tarifas do último ano fizeram com que o LED passasse de um artigo de luxo para se tornar um artigo necessário”, acredita ele.
Parceria público-privada
Em São Paulo, a prefeitura da capital havia dado início às consultas públicas e ao processo de entrega de propostas para uma parceria público-privada (PPP), que visava amodernização do sistema municipal de iluminação pública, com a adoção de lâmpadas LED, mas a concorrência foi interrompida em junho, após o Tribunal de Contas do Município suspender a licitação e questionar os parâmetros do certame. A suspensão deveria se estender apenas até o final de julho, mas até hoje a administração da cidade não deu continuidade aos trabalhos. A PPP tem um prazo de 20 anos e foi estimada em R$ 7,3 bilhões.
Por outro lado, o município vem investindo na adoção da tecnologia LED em seus novos projetos de iluminação pública. A ciclovia que liga a Praça Roosevelt, no centro da cidade, ao Terminal Rodoviário Barra Funda, na zona oeste, recebeu o sistema para iluminar os 2,8 mil metros sob o Elevado Costa e Silva, o Minhocão. O investimento foi estimado em R$ 3 milhões. A troca das lâmpadas eletrônicas já havia sido realizada na Marginal do rio Pinheiros, na própria via acima do Minhocão e no bairro de Heliópolis.
Do lado das edificações públicas, o uso de equipamentos antigos e a inadequação do isolamento térmico e da iluminação natural são as maiores fontes de desperdício energético, afirma o presidente da Associação Brasileira das Empresas de Serviços de Conservação de Energia (Abesco), Rodrigo Aguiar. Se desde o projeto de construção de novos prédios for adotado um modelo eficiente, a economia só com esses ganhos poderia ser de até 50%, projeta Aguiar. Em edifícios já em operação, as reduções podem variar entre 25% e 35%, com a otimização do uso do elevador, a troca de máquinas de ar-condicionado e a adoção de tecnologias modernas de iluminação.
“Infelizmente, posso dizer que os edifícios públicos são os que mais desperdiçam energia elétrica”, conta o engenheiro. Para ele, o ideal seria liberar a contratação de projetos de eficiência por meio de contratos de performance, hoje limitados pela Lei 8.666/93, que proíbe a empresa que tenha realizado o projeto básico de dar andamento à implantação das iniciativas de melhoria. “Com essa limitação, você quebra o processo e obriga o administrador a contratar uma empresa que não participou do processo de identificação dos problemas para dar andamento às obras de melhoria”, reclama Aguiar.
A associação lançou ontem, durante o Congresso Brasileiro de Eficiência Energética (Cobee), um manifesto para divulgar os benefícios da adoção de processos mais eficientes nas edificações do País. Conforme o documento, o potencial técnico de conservação de energia elétrica nos edifícios geraria uma economia de 15% de toda a eletricidade consumida no Brasil.
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