Dar preferência a itens usados, como roupas, móveis, livros e eletrônicos, é poupar recursos naturais necessários para a produção de novos. É, portanto, um ato de consumo consciente.
Adquirir itens de segunda mão está tão na moda que esse hábito pode mudar os rumos de setores inteiros da economia. A começar, talvez, pelo de móveis e artigos de casa: a gigante IKEA acaba de anunciar que vai inaugurar sua primeira loja exclusivamente de itens de segunda mão na Suécia, seu país natal. Ali, consumidores encontrarão produtos da marca que, após reparos e restaurações, voltarão a ganhar espaço nas vitrines com preços mais convidativos.
Além da vantagem econômica, já que a maioria dos itens usados são vendidos com descontos sobre o valor original, o consumidor que opta por adquirir um produto de segunda mão ao invés de um novo contribui para a sustentabilidade da vida no planeta. Isso porque a compra de um item usado estende a sua vida útil, ou seja, faz com que continue tendo utilidade para uma pessoa mesmo quando o seu primeiro dono não precisa mais dele. Além disso, a compra de um item usado poupa os impactos negativos atrelados à produção de novos produtos — que muitas vezes não são poucos.
É bom lembrar que a fabricação de todo e qualquer produto requer recursos naturais (como água, energia e matérias-primas) e inclui etapas que emitem gás de efeito estufa e a geração de resíduos. De acordo com o relatório Second Hand Effect, da OLX, mais de 5,7 milhões de toneladas de CO2 deixaram de ser emitidas com o comércio realizado pela plataforma no Brasil só em 2017 — montante equivale às emissões geradas na produção de 285 mil calças jeans!
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Este comércio já mais sedimentado em países europeus também tem ganhado destaque por aqui. O mercado brasileiro de produtos de segunda mão está crescendo 24 vezes mais rápido que o varejo tradicional, segundo o portal MMdaModa. E ainda há espaço para mais. Uma pesquisa do Ibope Conecta para a OLX em 2016 apontou que 70 milhões de brasileiros têm itens sem uso em casa, com um potencial de R$ 262 bilhões em vendas. São milhares de roupas, brinquedos, eletrônicos, livros e aparelhos domésticos que têm como destino os aterros e lixões caso não sejam inseridos novamente na economia.
A boa notícia é que estima-se que nos próximos quatro anos o comércio global de produtos usados deve crescer mais de 400% e movimentar US$ 36 bilhões, como aponta um estudo da plataforma de revendas thredUP. Tal movimento provavelmente é impulsionado por hábitos de consumo consciente da geração Z: jovens nascidos entre 1995 e 2010 têm adotado hábitos mais sustentáveis e já são 40% dos consumidores de brechós, segundo a consultoria McKinsey. De acordo com a pesquisa Vida Saudável e Sustentável 2020, realizada pelo Akatu em parceria com a GlobeScan, essa mesma geração, aqui no Brasil, mostra-se fortemente interesse em consertar (75% dos respondentes) e vender ou doar produtos (78%), todas alternativas para estender a vida útil dos objetos.
A moda vintage ou retrô está em evidência, mas o consumo de itens de segunda mão vai além das roupas e acessórios. É possível encontrar praticamente todo tipo de produto, de carros a eletroeletrônicos, em plataformas virtuais como OLX e Mercado Livre. Há ainda sites especializados em determinados segmentos, como Estante Virtual para livros; Troca Fone para celulares, Ficou Pequeno para moda infantil, Peguei Bode para roupas de luxo; e Enjoei para moda e acessórios em geral. Empresas e marcas também podem atuar no mercado de segunda mão pela plataforma B2Blue, que oferece resíduos e sucatas em geral que podem ser úteis para outras fábricas.
Tudo está conectado: quando o consumidor compra um item usado, evita o impacto negativo da produção de um novo e, consequentemente, colabora com a preservação dos recursos naturais e fomenta uma economia mais sustentável. Para se ter uma ideia, a produção de um único par de calçados emite gases de efeito estufa equivalentes às emissões necessárias na geração de energia elétrica para o funcionamento de 50 máquinas de lavar roupas ao longo de um ano inteiro (considerando 8 ciclos/mês).
Dar preferência para objetos de segunda mão é, portanto, utilizar o consumo como ferramenta para cuidar do futuro do planeta.
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Confira mais dicas para adotar o mercado de segunda mão:
Antes de comprar um novo produto, pesquise a disponibilidade do mesmo item usado ou seminovo. Muitas vezes é possível encontrar opções em ótimo estado, que satisfaçam todas as suas necessidade, e mais baratos. Mas desconfie de valores muito abaixo do valor de mercado.
Faça uma organização periódica nos seus armários e separe o que não tem sido usado. Você pode dividir os itens entre doações e possíveis vendas. Quando optar pela venda, busque por plataformas virtuais ou pequenos brechós e bazares beneficentes.
Reúna a família ou os amigos e organize um bazar de troca. Cada um pode levar objetos que não utilizam mais, mas que podem ser úteis para os outros.
Grupos em redes sociais também são bons locais para compra e venda de itens de segunda mão. Por segurança, busque o máximo de informações a respeito do vendedor ou do interessado para garantir o cumprimento do acordo.