Jovens Yanomami transmitem em livro conhecimento sobre abelhas
26 de outubro, 2021
Com orientações dos mais velhos, grupo de pesquisadores indígenas registrou e catalogou 32 tipos de abelhas na Terra Yanomami; lançamento aconteceu em live nesta segunda-feira (18/10)
Jovens pesquisadores indígenas, orientados por velhos conhecedores de suas aldeias, registraram e catalogaram 32 diferentes tipos de abelhas nativas da Terra Yanomami.
“Nós nos ensinamos sobre as abelhas. Nós nos ensinamos sobre os locais onde as abelhas moram, onde fazem os seus ninhos e as árvores que elas realmente usam. Escrevemos e traduzimos essas palavras”, narra Yasmin Yoinawa Yanomami, uma das pesquisadoras indígenas.
Assim como Yasmin, 75% da população Yanomami no Brasil tem menos de 30 anos. Conforme alerta o livro, atualmente a transmissão do conhecimento tradicional está ameaçada por diversas mudanças socioculturais que vêm ocorrendo de maneira acelerada nas últimas décadas, impulsionadas pela invasão desenfreada do território pelo garimpo ilegal.
“A proposta de formar jovens pesquisadores indígenas e produzir livros sobre os conhecimentos da floresta é, portanto, uma tentativa de contornar essa tendência e valorizar esse saber ameaçado”, explica Senra.
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O conhecimento tradicional dos Yanomami sobre as abelhas transcende sua importância local e contribui também para a valorização desses animais, ameaçados de extinção globalmente, como sublinha na contracapa do livro o ecólogo Jerônimo Kahn Villas-Bôas.
“Responsáveis pela polinização de mais de 80% das espécies silvestres e cultivadas, as abelhas viabilizam pelo menos um terço da alimentação humana. Mas estão desaparecendo pelas mãos da própria agricultura, baseada em monoculturas extensivas e no uso indiscriminado de agrotóxicos. Ouvir o que as sociedades indígenas já observaram e processaram, é avançar no entendimento de um sistema diverso e resiliente, possivelmente o único capaz de evitar um colapso”, escreve Villas-Bôas.
Liderada pela Hutukara Associação Yanomami (HAY), com assessoria técnica do ISA, a pesquisa se concentrou na aldeia Piau, região do Toototopi, Terra Indígena Yanomami, e foi dividida em quatro etapas entre abril de 2016 e março de 2018. A partir dos nomes de abelhas listados pelos anciãos, os jovens pesquisadores percorreram a floresta com celulares para registrar as entradas dos ninhos.
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Em seguida, organizaram fichas descritivas ricamente ilustradas, adicionando características como aparência, comportamento e forma do ninho.
Foram realizadas também rodas de discussão sobre cada uma das abelhas e seus atributos.
“Temos várias abelhas nativas de tipos diferentes na floresta Yanomami. O livro é um trabalho extremamente importante, não só para os jovens, mas para as futuras gerações, Para que saibam a importância das abelhas e mais sobre a nossa cultura”, diz Dário Kopenawa, vice-presidente da Hutukara.
Conhecimento tradicional e científico
Para estabelecer uma ponte entre o conhecimento Yanomami e o científico não indígena, a Hutukara realizou uma parceria com o Laboratório de Bionomia, Biogeografia e Sistemática de Insetos (BIOSIS) da Universidade Federal da Bahia (UFBA), a cargo da pesquisadora e professora Favízia Freitas de Oliveira, para ajudar na identificação científica das espécies.
“Para nós foi uma excelente oportunidade de cooperação. Eles receberam os membros de nossa equipe e compartilharam as informações sobre as abelhas que eles exploravam, para que pudéssemos identificar, permitindo, inclusive, a coleta de espécimes de algumas das espécies para confirmação em lupa”, conta a pesquisadora.
Páginas: 142
1ª Edição — 2021
Essa publicação foi produzida com apoio da União Europeia
Instituto Socioambiental
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