Nota técnica construída por diversos atores e iniciativas servirá de base para uma política estadual visando o desenvolvimento do setor
Estabelecer bases conceituais e prioridades para a bioeconomia, na perspectiva das realidades locais, compõe a estratégia estadual do Amazonas, que ganha impulso por meio do lançamento de uma nota técnica pela Secretaria de Economia, Desenvolvimento, Inovação, Ciência e Tecnologia (Sedict). A nota, de caráter histórico, pode ser um divisor de águas para destravar a atividade como vetor de desenvolvimento sustentável. “Estamos construindo um entendimento conceitual de bioeconomia no estado, importante para alinharmos uma política pública inclusiva”, explica Tatiana Schor, secretária-executiva da Sedict.
Segundo ela, a nota resulta de um trabalho de escuta ativa realizado desde 2019 em várias iniciativas como os painéis na Feira de Sustentabilidade do Polo Industrial de Manaus (FesPIM), o I Seminário de Bioeconomia na ExpoAgro, um artigo sobre bioeconomia na Página22 e o Fórum de Inovação em Investimento em Bioeconomia, além da articulação com o Programa InovaSocioBio, em parceria com o governo federal. “No processo com participação de vários atores, o próximo passo será a construção da política estadual de bioeconomia”, revela Schor.
O documento destaca que bioeconomia se refere ao conjunto de atividades econômicas de produção, fomento à produção, distribuição e consumo de bens e serviços provenientes de recursos da sociobiodiversidade. Na perspectiva local, a bioeconomia amazônica diz respeito a estruturas de mercado pautadas em produtos e processos que partem de quatro princípios norteadores: (1) Conservação da biodiversidade; (2) Ciência e tecnologia voltadas ao uso sustentável da sociobiodiversidade; (3) Diminuição das desigualdades sociais e territoriais; e (4) Expansão das áreas florestadas biodiversas e sustentáveis.
Bioeconomia da sociobiodiversidade, florestal e de commodities
Na bioeconomia da sociobiodiversidade, a matéria-prima provém da coleta / extrativismo e do cultivo no âmbito da agricultura familiar tradicional, correspondendo a uma alta dependência dos recursos da biodiversidade e dos serviços ecossistêmicos, como a regeneração natural e a irrigação pela chuva.
Já no conceito de bioeconomia de base florestal, a exploração dos recursos se dá a partir do manejo intensivo de determinadas espécies. Neste setor, tem-se um avanço da produção, com o emprego de planejamento e técnicas de manejo e de tecnologias que visam a intensificação da produção, o que pode incluir o cultivo intensivo de espécies de maior valor na cadeia correspondente. De acordo com a nota técnica, o foco deste setor é, principalmente, um melhor aproveitamento de áreas degradadas para fins de uma produção especializada.
No caso da bioeconomia de commodities, há duas vertentes: a do agronegócio e a da biotecnologia. Em todas as categorias conceituais, diz o documento, o foco converge principalmente para as cadeias de valor na produção pesqueira; fruticultura; produção florestal, madeireira e não madeireira; fito cosméticos, fármacos e química fina, além do turismo, “possibilitando a interiorização do desenvolvimento tecnológico e produtivo, além de atingir os grupos sociais nos mais diversos níveis das cadeias produtivas”.
A iniciativa traz a visão de que, no Amazonas, dada a complexidade da bioeconomia e seus mercados imperfeitos, é mais adequado pensar em redes de conhecimento produtivo do que em cadeias produtivas propriamente ditas – e, dessa forma, entender o estado da arte das estruturas de mercado da bioeconomia e construir mecanismos colaborativos que a fortaleçam. Além disso, a agenda deverá ser orientada pelas seguintes pautas prioritárias: investimentos inovadores, marcos regulatórios, formação científica, infraestrutura e tecnologias adequadas ao grau de maturidade das redes de conhecimento produtivo.
[Guaraná. Foto: Idesam]
Via Página 22 por Sérgio Adeodato