25 de maio, 2017
Muitas empresas encurtam o tempo de vida de seus produtos, com consequências para o bolso e o meio ambiente. Mas a chamada obsolescência programada não é responsabilidade apenas dos fabricantes. Alguma vez a sua cafeteira ou impressora já pifou logo que o período de garantia acabou? Já tentou trocar a bateria constantemente descarregada do seu smartphone? E quem sabe já ouviu que trocar uma peça do seu computador sairia mais caro do que comprar um novo?
Se a resposta para qualquer uma das perguntas anteriores for “sim”, conhece bem a chamada obsolescência programada. Para os fabricantes, faz sentido criar um produto com um tempo de vida limitado. Isso significa que o processo produtivo é mais barato e que, no futuro, o consumidor vai precisar adquirir novos produtos e pagar por serviços que a empresa oferece como substitutos para os antigos.
Tal prática tem consequências devastadoras. Os consumidores são constantemente forçados a jogar fora aparelhos e peças que deixaram de funcionar e comprar novos. E a mentalidade do descarte significa mais lixo eletrônico de países industrializados se acumulando em aterros de países em desenvolvimento. O mesmo problema acontece na indústria da moda através da hiperprodução e hiperconsumo de artigos de vestuário do fast fashion. A obsolescência programa é o resultado direto da economia linear que só gera resíduos.
Stefan Schridde administra o site murks-nein-danke.de (defeituoso, não, obrigado), no qual consumidores frustrados descrevem suas experiências com produtos que são feitos para estragar depois de um certo tempo. A maioria das reclamações no site é relacionada a empresas dos setores de eletrônicos, informática e telecomunicações. Nomes de peso como Samsung, Philips, Apple, HP, Sony e Canon estão entre os mais mencionados.
Segundo Schridde, a maioria da obsolescência é provocada por peças pequenas e baratas para as quais as empresas frequentemente usam “plástico em vez de metal” para reduzir os custos.
“Empresas nem sempre usam produtos que são particularmente duráveis”, afirma Dominik Enste, economista do Instituto de Pesquisa Econômica de Colônia. Tais práticas não apenas contradizem o conceito de sustentabilidade, diz ele, mas também mostram que essas companhias não levam sua responsabilidade social a sério.
Schridde afirma que a longevidade não parece importar para o desenvolvimento de produtos. Em vez disso, fabricantes investem “somente o dinheiro necessário para que o produto sobreviva por três anos”. Depois disso, o período de garantia expira, e um aparelho de nova geração é lançado, diz.
Os tempos de vida cada vez mais curtos, especialmente de aparelhos eletrônicos, não apenas pesam sobre o bolso do consumidor. Eles também aumentam a demanda por matérias-primas.
Peças eletrônicas precisam de metais como ouro, prata, cobre e metais de terras raras, que são bastante caros. A produção usa grandes quantidades de energia e frequentemente tem um forte impacto sobre o meio ambiente por envolver materiais tóxicos. Ao final, os aparelhos obsoletos são muitas vezes exportados de países desenvolvidos para países em desenvolvimento, onde se acumulam em aterros.
Para recuperar os metais preciosos do lixo eletrônico, os aparelhos costumam ser queimados. Isso produz grandes quantidades de fumaça altamente tóxica – um grande perigo para os trabalhadores que lidam com o lixo.
No entanto, Enste afirma que empresas não são as únicas culpadas pelo aumento do lixo eletrônico. No final, “sempre está o consumidor”, diz o economista. E muitas pessoas aparentemente “sempre querem ter a coisa mais nova, querem se manter em dia com as tendências”.
Tanto Schridde quanto Enste afirmam que muitos consumidores são atraídos por produtos baratos. A demanda por eles aumenta a pressão sobre fabricantes e seus fornecedores, diz Enste. Isso resulta em empresas cortando custos durante o processo produtivo – usando uma peça de plástico tosca e barata em vez de uma de metal, mais cara e que dura mais.
Um princípio básico de negócios afirma que demanda elevada estimula a produção, que a produção elevada estimula o crescimento econômico e que o forte crescimento econômico, por sua vez, resulta em mais prosperidade. No entanto, precisa haver mais reciclagem e um melhor uso de recursos.
Apesar de tudo, Enste tem uma visão otimista. A economia de mercado não apenas torna possível um sistema em que, no caso da obsolência planeada, cria problemas globais. Ela também possui um antídoto contra isso: o poder do consumidor. Todo consumidor pode “comprar produtos que ele ache que mais lhe convêm”.
Para o economista, a sustentabilidade precisa desempenhar um papel maior na hora de escolher um produto. Isso requer informar sobre as condições de produção, o consumo de energia e a reciclagem de materiais. Munido dessas informações, o consumidor pode tomar uma decisão adequada, avaliando “se prefere comprar dois produtos em cinco anos ou apenas um que dure cinco anos”.
O Século do Eu (The Century of the Self – BBC) é um fabuloso documentário de Adam Curtis em 4 episódios que aborda a forma como as teorias de Sigmund Freud, sua filha Anna Freud, e seu sobrinho Edward Bernays, foram usadas por governos e empresas multinacionais para controlar e manipular as massas através da publicidade e obsolescência programada. Veja todos os episódios neste link.
Fonte: Portugal Mundial
Via Stylo Urbano
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