Ainda caro e com poucos postos de abastecimento, primeiro carro movido a célula de hidrogênio começa a ser vendido em larga escala.
Silêncio e água fresca. Bem, nem lá tão fresca, mas essa é a combinação oferecida pelo Mirai, primeiro veículo a hidrogênio vendido comercialmente no mundo. Também a bem da verdade, o sedã da Toyota é um carro elétrico, cuja energia é gerada por uma pilha de hidrogênio, e vapor d’água é a única emissão do escapamento.
Autoesporte teve direito a uma volta com o Mirai no circuito de Fuji, aos pés da montanha mais alta e famosa do Japão. O monte Fuji é também um vulcão, que guarda sua energia discretamente debaixo da superfície. Como o sedã de quase cinco metros, que abriga sua fonte de força (as pilhas) sob os bancos da frente. Os tanques somam 125 litros de hidrogênio sob alta pressão e são instalados debaixo do banco traseiro e do piso do porta-malas.
Essa configuração contribui para o baixo centro de gravidade e a boa distribuição de peso do carro. Aliada ao bom conjunto de suspensão (McPherson na frente e braços triangulares sobrepostos atrás), garantiu ao Mirai comportamento equilibrado nas curvas do circuito. A Toyota criou ainda um slalon para completar a rápida prova; a direção elétrica mostrou-se precisa.
Como anda
A potência máxima de 154 cv é transferida ao eixo dianteiro por transmissão automática de uma marcha. Como o monte Fuji, carro é muito silencioso, mesmo quando se acelera forte. Selecionado o modo Power no painel digital, o torque máximo de 34,1 mkgf é disponível imediatamente, e a resposta mais enérgica é perceptível. A autonomia também é reduzida nesse modo de condução. Quem quizer rodar os aproximadamente 650 km estimados pela Toyota deve optar pelos modos Eco ou Normal.
Quem quiser acelerar, supera fácil 160 km/h, como foi possível constatar no circuito de Fuji. Ainda segundo a montadora japonesa, o carro de 1.850 kg pode acelerar de 0 a 100 km/h em 9,4 segundos, e chega aos 178 km/h de velolcidade máxima. Acelerar fundo amplia a sensação de estar na cabine de uma nave daqueles clássicos de ficção científica. Há profusão de gráficos e cores em telas sensíveis ao toque na área central do painel e no console. Com a velocidade, surge um discreto zumbido. Dobra 7, senhor Sulu. Ativar!
Como abastecer
A Toyota divulga que o abastecimento dos tanques de hidrogênio leva de três a cinco minutos, nada muito diferente do que encostar o carro em um posto de combustível. O problema é que ainda há poucos postos, tanto no Japão como nos EUA. Os governos locais anunciam investimentos para ampliar a distribuição de hidrogênio.
A célula combustível foi aprimorada e teve o tamanho reduzido. Além de movimentar o carro, afirma Tanaka Yoshikazu, engenheiro chefe do projeto,“em caso de desastre natural, a bateria pode fornecer energia para a casa”. Não é paranóia, levando emconta que o Japão é sujeito a terremotos, vulcões e maremotos.
Quanto custa
O Mirai foi lançado antes na Califórnia, em outubro, pela razoável infraestrutura para reabastecimento. A Toyota afirma ter recebido 1.500 encomendas no mercado japonês, onde o mocelo começou a ser vendido em dezembro; a estimativa era de 700 unidades ainda em 2015. O plano é produzir e vender 2 mil em 2016 e 3 mil no próximo ano. O carro custa o equivalente a 57 mil dólares no Japão; nos EUA, sem subsídios, são US$ 70 mil.
O próprio Yoshikazu, considera o preço “muito alto”, mas “para a segunda e terceira gerações vai começar a cair”. Se algum consumidor brasileiro idealista se animar com a ideia, vai ter de esperar. Ainda não há planos de oferecer o modelo no Brasil. Mas como Mirai é a palavra japonesa para futuro, não se sabe o que a Toyota – animada com a marca de um milhão de hibridos Prius vendidos – pode estar reservando para os próximos anos.
Fonte: Revista AutoEsporte – Por Marcus Vinicius Gasques