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Quem detém o poder na cultura do consumo: Sobre moda, consciência e sustentabilidade

13 de julho, 2016

Moda e consumo consciente vêm me interessando muito nos últimos meses; pensar sobre a origem das minhas roupas gerou uma reflexão a qual eu lhe convido: Você pensa no caminho daquilo que você consome? Em tudo que compramos, pagamos e usamos empoderamos alguém. Quando escolhemos uma marca em detrimento de outra geramos mudanças porque criamos um padrão novo de consumo. Assim, se criamos consciência do poder que temos como consumidores, e principalmente, daquilo que consumimos, obrigamos o mercado a se adaptar as nossas escolhas.

O Movimento Fashion Revolution, no Brasil coordenado por Fernanda Simon, atua em 86 países, com o objetivo de conscientizar o consumidor dos impactos ambientais e sociais da indústria da moda, fomentando postura ética e consciente de consumo. A campanha lançada esse ano chama-se “Quem fez as minhas roupas?” e tem o intuito de cobrar transparência e ética na produção e circulação de produtos, valorizando o profissional por trás do processo. Na índia, segundo Fernanda, graves crises humanitárias e econômicas são geradas em função do monopólio das sementes de algodão. Sem contar nos resíduos tóxicos utilizados nas plantações que prejudicam os trabalhadores e o meio ambiente.

“Produzido na Serra Leoa por Tejan. As
primeiras vezes que ele tossiu sangue
ele escondeu de sua família. Eles não podiam pagar
tratamento médico e ele não podia correr o risco de
perder o emprego de longa data na plantação
de algodão. Quando ele teve uma convulsão,
não podia mais ser ignorado.
O diagnóstico foi de intoxicação por agrotóxicos.
A falta de vestuário protetor adequado o deixou com
leucemia com a idade de 34 anos. Ele tem duas filhas.
Uma delas começa a trabalhar na fábrica no próximo ano.
A etiqueta não conta toda a história.”
Legenda da imagem da capa em tradução livre.

Segundo a Forbes, o setor de vestuário é responsável por 10% das emissões de carbono e permanece como segundo maior poluidor, seguido pelo petróleo. Aproximadamente 70 milhões de barris de petróleo são usados a cada ano para produzir poliéster, que hoje é a fibra mais utilizada em roupas e cuja decomposição leva em torno de 200 anos. Peças de fast fashion, que são usadas menos de 5 vezes e mantidas por aproximadamente 35 dias, produzem cerca de 400% a mais da emissão de carbono por unidade anualmente do que peças utilizadas 50 vezes e usadas por um ano inteiro.

De acordo com o portal Etnies Clothing, o fast fashion encontra uma das razões do seu sucesso nas redes sociais, as pessoas nascidas nos anos 80 e 90, por exemplo, gostam de variar nas roupas que usam para postar em fotos no Facebook, Instagram e Twitter, como resultado, as marcas que oferecem tendências a baixo custo têm crescido. Contudo, estão surgindo cada dia mais interessados em saber de onde vêm as roupas que utilizamos e quem produz as peças; assim como o slow food nasceu do interesse em acompanhar a produção da comida, o slow fashion segue o mesmo conceito. Muito desse interesse surgiu depois que uma fábrica desabou em Bangladesh em 2013, matando cerca de 1000 pessoas. O que não pode ser considerado um acidente isolado, uma vez que acontece com frequência, não só na Índia, mas também aqui no Brasil, cuja realidade em certas confecções é semelhante à escravidão.

Para entender o Slow Fashion há que se sobrepor a quantidade pela qualidade. É pensar a moda como forma de expressão e celebração do estilo pessoal, ligados à criatividade de criar combinações e formar possibilidades. O mais importante: Despertar a consciência para a relação entre o que compramos e o impacto que isso produz, entendendo o caminho que uma peça levou para chegar até nós. O slow fashion traduz perfeitamente um olhar com maior dimensão sobre o consumo, encorajando-nos a tomar decisões com propósito, evitando desperdícios e ajudando a diminuir a quantidade de roupas que vai para os aterros todos os anos.

Um trabalho que merece notoriedade vem da rede de varejo inglesa Marks & Spencer, que criou uma campanha chamada Shwopping, numa tradução livre, termo que junta: swap, que significa trocar, com shop, comprar. É uma iniciativa em parceria com a Oxfam, que ocorre desde 2008 quando recolheu 20 milhões de itens, que são revendidos, reutilizados ou reciclados permitindo o financiamento de projetos ao redor do mundo, como por exemplo, os ligados a pobreza extrema. Na Inglaterra cerca de 110 mil peças são jogadas fora por hora, por isso o objetivo é aumentar o volume de peças recicladas para reduzir o volume de lixo numa iniciativa de elevar os negócios a um patamar realmente sustentável.

Sustentabilidade, a meu ver, está ligada diretamente ao cuidado com o desperdício dos recursos naturais. Você já parou para pensar se realmente precisa daquilo que está comprando? Que tal saber mais sobre marcas que estejam fazendo um trabalho bacana no mercado e oferecendo materiais sustentáveis? Que tal valorizar a compra de peças com valores justos? Mais duráveis e com qualidade superior. Quando nos munimos de informação e decidimos mudar afetamos toda uma cadeia porque temos poder. Não temos de ser reféns das tendências que surgem a cada nova estação nem permitir que sejamos conduzidos como massa de manobra pelas mídias e indústrias de poder ajudando a alimentar padrões impostos. Permita-me um convite: Repense o seu consumo de forma responsável. Qual é o papel que você exerce na cultura do consumo?

Juliana Zancan 

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