A distância entre o Rio de Janeiro e a Ottawa, capital do Canadá, chega a 8 mil quilômetros. Ambas cidades possuem um mesmo desafio: reduzir o consumo de plástico na sociedade. Meses antes do início da pandemia de covid-19, o canadense Arian Rayegani, de 27 anos, decidiu deixar o Canadá e escolheu a Rocinha como moradia após ganhar o visto de residente.
Formado em engenharia mecânica na Universidade de Carleton, em Ottawa, a relação de Rayegani com o Brasil iniciou em 2014 quando passou a visitar o país com a família nas férias de verão.
A ideia de fabricar skates com plásticos reciclados surgiu ainda no Canadá com o que encontrava na lixeira de casa. Após pesquisar na internet se era possível derreter os plásticos recolhidos, o primeiro projeto não saiu bem como se esperava. “Meu hobby era testar coisas fora da minha formação. Primeiro foi uma caixa de som, logo depois quis um skate e com apoio dos meus pais logo surgiram os primeiros protótipos [de skate].”, lembra ele.
Seus projetos ganharam mais força após assistir um documentário sobre a Rocinha, onde mostrava a situação da poluição na praia de São Conrado e integrantes da escola de surfe Vivendo Um Sonho Surf recolhendo lixo do mar. Ainda no seu país de origem, o jovem entrou em contato com a escola de surfe e o projeto Salvemos São Conrado, que deram o apoio à iniciativa do canadense.
Hoje, Arian Rayegani mora no Portão Vermelho, na parte alta da Rocinha, onde mantém um estúdio de fabricação de skates reciclados. A maioria das tampinhas de plástico são doadas por moradores da região. Um skate leva em média 2 horas para ficar pronto. Para isso, ele usa um forno industrial de pizza, um triturador e prensa mecânica. Os equipamentos foram adquiridos com o dinheiro que ele recebeu após pedir demissão do emprego no Canadá.
“São vários processos delicados para fazer o skate. Triturar as tampas, derreter o plástico, colocar no molde, fazer várias camadas, depois colocar no forno, esperar esfriar, cortar, fazer os furos e colocar as rodas”, explica Rayegani. Em média, para fazer 1 skate é necessário 1,5kg de tampas de garrafas, aproximadamente 500 tampinhas.
Apoio de instituições locais
Três projetos na Rocinha contribuem para que Rayegani continue produzindo skates. A escola de surfe Vivendo Um Sonho Surf, Salvemos São Conrado e o Família na Mesa.
“Preciso desses projetos para juntar e separar os materiais, dá muito trabalho, ainda bem que eles já fazem isso. É rápido para fazer, mas trabalhoso.”, lembra. O engenheiro já chegou a uma produção de 20 skates com uma doação.
Após duas horas de produção, já é possível utilizá-lo. Os skates são vendidos por R$ 450, podendo pagar R$ 250 se for somente a prancha. É possível encomendar o produto, além do estoque para pronta entrega. As vendas são feitas através do perfil Na Laje Designs no Instagram.
Atualmente sua renda depende apenas das vendas dos skates, que tem bastante procura, mas Arian pretende expandir sua fabricação e torná-los mais acessíveis. “Foram muitas tentativas, estou na quarta versão e agora sim feliz com o produto que criei, coloquei até a calçada [de Copacabana] mais famosa do Brasil nele”, conta.
O primeiro modelo de skate feito ainda no Canadá não suportava mais de 40kg e não tinha estabilidade. Somente na quarta versão conseguiu um modelo de skate leve, firme, estável, capaz de suportar até 115kg e possíveis impactos.
O engenheiro mecânico também oferece palestras e desenvolve ações de conscientização ambiental, para jovens e crianças. Com um projeto socioambiental ele busca mostrar os impactos do lixo produzido por nós na natureza, e que é possível mudar esse destino final.
“Esse não é o único produto que penso em fazer, já estou testando vasos de plantas, quero apenas mostrar para as pessoas o quão capazes nós somos de transformar as coisas boas e reutilizar o máximo possível vários materiais.” finaliza Arian.
Via Fala Roça
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