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Tampinhas se transformam em cidadania e ajudam o ambiente no RS

14 de janeiro, 2019

São pequenas peças arredondadas de plástico aglomeradas em garrafas pet.

Alguém já deve ter reparado que um monte de gente passou a juntá-las de uns tempos para cá. Coloridas, sem função depois de a gente matar a sede com aquela água mineral gelada ou o refrigerante de preferência – quase sempre aquele do rótulo vermelho, reconheçamos.

No entanto, as tampinhas ainda podem ser muito úteis para instituições que auxiliam pessoas em situação de risco, ou portadoras de enfermidades. Um exemplo é o projeto “Tampinha Legal”, que transformou o plástico em fonte de recursos inestimável a cada mês. De acordo com os gestores do programa, mais de R$ 208,4 mil foram revertidos em dinheiro com a reciclagem de 109 toneladas de tampinhas até o mês de novembro.

A doação quase sempre é descompromissada. Depois daquele último gole de refri, um posto de coleta à mão… É hora de testar as habilidades de Lebron James e caprichar na cesta. Sequer passa a dimensão do projeto e, menos ainda, como aquele material inerte vai se transformar em ajuda para milhares de pessoas que tanto necessitam.

Para o Educandário São João Batista, por exemplo, é um complemento para manter gás e luz para as dezenas de jovens com paralisia cerebral, enquanto repasses de recursos obtidos por dedução fiscal e com fundações sofrem constantes atrasos das administrações públicas.

Tampinhas ajudam a manter as portas abertas

No ambiente econômico atual, doações financeiras são quase inexistentes, o que dificulta a manutenção de vários quesitos essenciais para a instituição localizada na zona Sul de Porto Alegre. “Maioria dos doadores querem comprar materiais, ou equipamentos. Mas o que falta são profissionais especializados, que precisam ser pagos com recursos financeiros, além de luz e água, gás para manter o atendimento de todos que precisam”, explica a relações públicas do Educandário, Priscila Gauto.

“As pessoas, por sua vez, querem nos doar arroz e feijão, mas vou no máximo montar a cesta básica de um paciente”, aponta. “Quando doam as tampinhas, revertemos em dinheiro para manter o Educandário aberto.” A instituição reconhece passar por momento de dificuldades e, inclusive, lançou uma campanha para arrecadar recursos na internet, o S.O.S do Bem.

Mobilização entre os pequenos

As mobilizações pessoais e postos de coleta são apenas parte do “trabalho” para garantir o sucesso ambiental e social do projeto. As entidades que participam do Tampinha Legal montam equipes dedicadas à limpeza e separação das tampinhas por cor, além de conscientizarem quem fará as doações em já separar o material desta forma.

De acordo com Priscila, isto é essencial para “aumentar o valor agregado” do material reciclável. “O Tampinha Legal nos garante um ganho por quilo acima da média de mercado, mas as empresas recebem o plástico já pronto para a reciclagem”, detalha.

A professora Rosana, alfabetizadora da Escola Estadual Vera Cruz, ficou sabendo da necessidade do Educandário em recolher tampinhas e encampou o projeto como ferramenta de ensino. Com a mobilização de alunos e famílias, doaram mais de 500 bombonas de 5 litros recheadas com tampinhas, já separadas por cor. “Trabalhamos a reciclagem, exploramos raciocínio lógico e fazemos a construção de jogos (contagem, conjuntos, cores)”, explica a mestra.

A atividade das tampinhas é feita sempre ao fim do conteúdo pedagógico. “De duas a três vezes por semana, no final da aula, cada grupo de crianças fica responsável por uma cor. Assim que todas estão separadas, eles mesmo colocam nas respectivas bombonas. Eles adoram a ‘bagunça’”, destaca Rosana.

Os ganhos para os alunos também passam pelo aspecto social, nas visitas para conhecer o trabalho do Educandário. “Eles ficam bastante tocados. A maioria não conhece a realidade das crianças que o Educandário atende”, relata a professora. “Sempre surgem perguntas diversas e eles ficam bastante comovidos. Querem entender por que são diferentes, como funciona a rotina da pessoa com deficiência (como comem, se locomovem, como fazem higiene). Crianças são naturalmente empáticas depois da vivência no Educandário, passam a aceitar e respeitar as diferenças de forma mais natural”, acrescenta Rosana.

Sucesso tipo exportação

Empatia que sobra na família Sheila e da mãe dona Heny. Aos 86 anos, Heny separa com entusiasmo as tampinhas coloridas, inicialmente juntadas voluntariamente pela filha. “A ideia original era dar uma leva cada instituição. A primeira escolhida foi o Educandário. O Sérgio, meu namorado, conheceu a Instituição ao levar o material e se apaixonou. Decidimos, então, ajudar sempre o Educandário”, explica, salientando que vão fazer a sétima doação, agora não mais sozinhos. “Conseguimos ajuda de diversas pessoas. Além das que eu vou catando na rua e no lixo”, aponta.

A coordenadora do Tampinha Legal, Simara Souza, incentiva mais entidades a participarem do projeto. “A gente salienta que não há custo para participar, algum tipo de inscrição ou comissão pela venda do material. Mesmo se decidirem se desligar, não tem qualquer ônus”, enfatiza. “É o maior programa sócio-ambiental de caráter educativo na indústria da transformação do plástico. O objetivo é educação e aumentar a qualidade de vida”, diz.

O sucesso do projeto no Rio Grande do Sul vai levar a ideia a outros pontos do país. Simara viajou a Brasília e Maceió, no começo de novembro, para apresentar os detalhes do programa. No Nordeste também, em breve, já serão iniciadas atividades.

Reaproveitamento do plástico

Hora de solucionar o mistério: o que afinal acontece com as tampinhas. Elas são feitas de polipropileno, um plástico com várias utilidades para a indústria. Como já são entregues por cor, conforme o Tampinha Legal, podem ir direto para a moagem nas plantas de reciclagem. Essa redução em partes menores facilita o derretimento uniforme para as diversas aplicações do produto.

Depois de passar pelo forte aquecimento, o polipropileno é extremamente moldável. A partir daí, pode ser colocado em “formas” de diversos tipos. O material se transforma no envólucro de canetas para escritório, em peças plásticas de automóveis e utilidades domésticas, forros de portas, acabamentos. Até mesmo carpetes sintéticos são feitos com o plástico reaproveitável. Assim como novos brinquedos. (Bernardo Bercht | Correio do Povo)

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