Tecnologia americana tritura o material e separa o gás de mercúrio.
Cinco jovens engenheiros, estudantes de MBA, encontraram uma solução ágil e confortável para o descarte de lâmpadas fluorescentes. Com um capital inicial de R$ 70 mil, eles criaram uma unidade móvel, montada em um furgão, que recolhe as lâmpadas, tritura e ainda separa o gás de mercúrio do restante do material.
Em menos de dois anos, Júlio Gurgel, José Luis Bertoncini, Ronaldo Vigano, Gibson Nagata e Fernanda Borella transformaram o projeto “Operação Papa Lâmpadas” realizado no Centro de Educação Continuada do Instituto Mauá de Tecnologia (IMT) na empresa Naturalis Brasil. “A idéia é levar o equipamento até a unidade geradora de lâmpadas queimadas, qualquer que seja o porte dessa empresa, escola, órgão público ou instituição”, explica o sócio Júlio Gurgel. Ele diz que, apesar de não existir legislação que obrigue o descarte correto das lâmpadas, os institutos certificadores ambientais ou de qualidade determinam um procedimento adequado para esse tipo de lixo. “As empresas são obrigadas a estocar o resíduo em grande quantidade: isso ocupa espaço produtivo, além de aumentar o gasto com o frete para a destinação final”, esclarece Gurgel.
Grandes clientes
Na carteira de clientes da Naturalis constam empresas como a Petrobras, Itautec e TAM. “No total, são 13 companhias, além das parcerias com algumas administrações do interior de São Paulo”, diz o engenheiro. Atualmente, a empresa está em negociações com as prefeituras de Niterói (RJ) e Curitiba (PR), e com os condôminos do Conjunto Nacional, complexo que abriga escritórios, cinemas, bancos e comércio localizado na Avenida Paulista, em São Paulo.
Com faturamento de R$ 18 mil por mês, a empresa cobra cerca de R$ 0,60 por lâmpada recolhida, além de uma taxa de transporte quando a unidade tiver que sair do município de São Paulo. Eles atendem cidades que ficam a até 100 km da capital paulista. “Dentro do furgão, fazemos a manipulação das lâmpadas, a trituração e o tratamento do gás de mercúrio. Depois disso, os tambores são levados à nossa central de triagem”, conta Gurgel. Em média, o grupo recolheu nesse primeiro ano 30 mil unidades por mês. Desde o começo do projeto foram investidos R$ 150 mil, incluindo novas instalações e aquisição de outros equipamentos.
Tecnologia americana
Gurgel explica que a idéia foi inspirada nas pequenas empresas de destinação final de lâmpadas fluorescentes dos Estados Unidos. “Existem muitas delas espalhadas pelos distritos, mas o fator distância atrapalha, além do gasto com o transporte. Então, resolvemos adaptar a tecnologia da máquina devoradora de lâmpadas, numa unidade móvel”, explica o sócio. O grupo fez várias adaptações a partir do aparelho de descarte desenvolvido pela empresa norte-americana Air Cycle Corp, considerado um dos melhores do mercado, na opinião de Gurgel. “O fator diferencial desse processo é o tratamento a vácuo, em tambores de 200 litros”. O Papa Lâmpadas quebra e tritura todo o material em segundos. O engenheiro conta que, no tambor, existem três filtros para particulados de tamanhos diferentes. “O vácuo cria uma saída preferencial do gás que cai diretamente num filtro de carvão ativado com a afinidade de retenção do mercúrio”, explica.
Além do mercúrio, a empresa conseguiu obter uma separação eficaz dos diversos componentes das lâmpadas, como alumínio, pó de vidro, latão e plástico isolante. O mercúrio retido pode ser destilado e recuperado, ou enviado como resíduo perigoso para aterros especiais. “O carvão tem capacidade para armazenar mercúrio de cerca de 500 mil lâmpadas”. Já o filtro do primeiro estágio de separação é trocado a cada 10 mil lâmpadas trituradas, e o filtro mais fino é substituído a cada 100 mil lâmpadas resgatadas.
Gurgel afirma que esse método elimina os riscos do manuseio e os custos de transporte existentes no descarte pelo envio das lâmpadas às empresas especializadas. “Com a diminuição real dos preços praticados por lâmpada descartada, temos a recuperação de grandes áreas produtivas desperdiçadas na estocagem do material e a adequação parcial aos requisitos para obtenção de certificações”, diz.
Agressão ao meio ambiente
A falta de critérios no descarte, que resulta na quebra das lâmpadas fluorescentes é considerada uma das mais nocivas agressões ao meio ambiente e à saúde pública, pois dentre os diversos elementos químicos liberados na hora da quebra está o vapor de mercúrio. Segundo Gurgel, esse é um mercado inexplorado, pois hoje a esmagadora maioria das lâmpadas descartadas é jogada em lixo comum. “Temos dados que dão conta de que, no Brasil, cerca de 80 milhões de toneladas de lâmpadas fluorescentes são descartadas anualmente”, diz.
Gurgel conta que, na fase do projeto, o equipamento tinha capacidade para aproximadamente 850 lâmpadas e foi submetido a testes no Instituto Paulista de Tecnologia, onde recebeu certificação por atender à norma ABNT-NBR 10004, que dispõe sobre o descarte de resíduos sólidos. Todo o vidro recuperado é vendido à Saint- Gobain e a empresas de vitrificação de cerâmica, informa ele. O alumínio está sendo armazenado e deverá ser transformado em lingotes produzidos em forno da própria firma. “Assim é mais fácil de juntar um volume satisfatório para conseguirmos um bom preço pelo produto”, explica. O mercúrio, no entanto, é a grande expectativa dos empresários. “Ainda não atingimos a quantidade necessária para fazer a troca do filtro de carvão”. Segundo ele, a intenção é obter, por meio da destilação, um material pronto para atender a demanda do mercado, já que o Brasil importa quase todo o mercúrio consumido internamente.
fonte: sebrae
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