Morador colocou torneira a mais na cozinha para lavar a louça. Conta de energia da família caiu de R$ 100 para R$ 30, afirma.
As fortes chuvas registradas em Itu (SP) nesta semana foram recebidas com festa pelos moradores da região, uma das que mais sofreram com a estiagem no ano passado em todo o Estado de São Paulo. Em cinco dias choveu 133 milímetros, fluxo que tem deixado as represas da cidade operando com 100% da capacidade.
Moradora da região, Josineide guardou 5 mil litros de água das chuvas e transformou a piscina em reservatório. “A água que cai do telhado é separada para lavar o chão, colocar no banheiro. Depois, quando ela começa a sair mais limpa, coloco a extensão na piscina”, afirmou.
Já Luís, outro morador de Itu, criou um sistema mais elaborado para captação da água. Com a ajuda de uma bomba, ele consegue direcionar o líquido captado por mangueiras ligadas ao telhado até a caixa de casa. A água não pode ser bebida, mas quando tratada com cloro, pode ser reaproveitada de várias maneiras, como no banho e até para lavar a louça.
Na cozinha da família, há três torneiras. A primeira utiliza água da caixa, a segunda da chuva e a terceira, a da rua. “Se chover uma vez por semana ou duas no mês não utilizo água da rua”, afirma. Por causa desse método, a conta de luz da família baixou de R$ 100 para R$ 30.
Peregrinação
Em 2014, Itu foi uma das cidades mais castigadas pela crise hídrica no Estado. Em outubro, sem uma gota de água nas torneiras e com dificuldade para serem atendidos pelos caminhões-pipa, famílias se mobilizavam de madrugada em bicas para estocar o líquido. Das 23h até 1h, os moradores improvisavam e pegavam água em um ponto da cidade que tem um poço. A fonte em questão tinha apenas um metro e meio e a qualidade da água não era das melhores. Eles usavam um motor para bombear a água para galões colocados no carro e levados para casa.
Reuso da água da chuva tem gerado economia nas contas das casas (Foto: Reprodução/TV TEM)
A estiagem fez moradores enfrentarem um martírio em busca de água. Como o cronograma de racionamento não era cumprido e as solicitações de caminhão-pipa nem sempre atendidas, segundo os moradores, poços, bicas, fontes e lagoas se tornaram pontos de peregrinação na cidade.
Buscar água em bicas e córregos era comum para moradores de vários pontos da cidade. No bairro Cidade Nova, uma das regiões mais castigadas com o racionamento, são três bicas. Canos onde moradores colocam garrafas e baldes para pegar água. Durante todo o dia, a cena se repete e há filas. O problema é que ninguém sabe a qualidade da água disponível.
Sem água nas torneiras
O racionamento de água em Itu durou vários meses e alguns moradores diziam ficar até um mês sem receber uma gota nas torneiras. O pouco que chegava nas casas era com caminhão-pipa. No desespero de encontrar água, os moradores apelava até para a zona rural.
Apesar do Ministério Público ter recomendado à prefeitura que reconhecesse o estado de emergência e calamidade pública, a prefeitura decidiu não acatar a medida à época. Em entrevista, o prefeito afirmou que o decreto não seria pedido já que não está faltando água para manter os serviços essenciais, como hospitais e escolas. O chefe do executivo afirmou também que havia sido protocolado um decreto para captação em 24 poços e reservatórios de uma indústria de bebidas do município.
O Ministério Público apontou que a precariedade no abastecimento de água para a população não decorria exclusivamente do período de estiagem, mas sim de anos de má gestão e falta de investimentos no aumento da armazenagem de recursos hídricos, além da construção de novas barragens, desassoreamento das já existentes e modernização dos sistemas de tratamento e distribuição.