OS POKÉMONS NÃO ESTÃO AMEAÇADOS, MAS NO CORAÇÃO DA AMAZÔNIA MAIS DE 3,5 MIL ESPÉCIES DE PLANTAS E ANIMAIS ESTÃO.
Esse é o slogan da nova campanha do Greenpeace pela preservação de milhares de espécies de animais e plantas ameaçados pela construção da usina hidrelétrica no rio Tapajós, no coração da Amazônia. Aproveitando o gancho do game viciante recém-lançado pela Nintendo, a organização busca chamar atenção de pessoas não necessariamente ligadas à questões ambientais para o tema. Alguns dos Pokémons mais conhecidos pelos fãs foram colocados em paisagens da floresta amazônica e do rio Tapajós para ajudar a conscientizar acerca desse mega empreendimento que irá inundar uma área de 729 quilômetros quadrados de floresta (uma área com quase o tamanho da cidade de Nova York com 789 km²) e mudará completamente o estilo de vida da comunidade indígena Munduruku, que vive na região há gerações.
A campanha global chamada ‘Salve o coração da Amazônia‘ tem como objetivo recolher assinaturas para exigir que o governo brasileiro impeça a construção da Usina Hidrelétrica de São Luiz do Tapajós. Ao todo já foram recolhidas mais de 1 milhão de assinaturas em todo mundo e a campanha já está próxima de alcançar a meta de 1.2 milhão. Aviso: Há pokémons espalhados por esse artigo.
Imagine uma grande área verde próxima a um rio. Sua vegetação é rica e diversificada. As árvores são cheias de frutos que atraem e abrigam milhares de espécies de pássaros, insetos e mamíferos. Agora imagine toda essa área coberta de água. As áreas que recebem os reservatórios das usinas hidrelétricas sofrem uma grande transformação que altera completamente a dinâmica das espécies existentes. Árvores se transformam em madeira podre embaixo d´água, animais fogem para ambientes secos, o clima muda, espécies de peixes deixam de existir… É um estrago e tanto.
Isso sem falar no impacto social que esse tipo de construção gera. Milhares de pessoas são obrigadas a deixar suas casas e reconstruir suas vidas do zero em outros lugares. E não se trata apenas de mudar de casa. Esses lugares são repletos de riquezas culturais, históricas e de relações sociais. Estima-se que no Brasil, cerca de 33 mil pessoas encontram-se nessa situação, e criaram uma organização, o Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB).
Em comparação às usinas termoelétricas e usinas nucleares, o risco ambiental oferecido pelas hidrelétricas pode ser considerado menor. Isto é, a queima de carvão na produção de energia das termoelétricas contribui enormemente com o efeito estufa. Já a produção de energia nuclear, apesar de eficiente, pode causar danos irreversíveis em casos de acidentes, vide Fukushima no Japão. Segundo o engenheiro Gilberto Jannuzzi da Universidade de Campos (Unicamp), toda extração de energia da natureza traz algum impacto. “Mesmo a energia eólica (que usa a força do vento), que até parece inofensiva, é problemática. Quem vive embaixo das enormes hélices que geram energia sofre com o barulho, a vibração e a poluição visual, além de o sistema perturbar o fluxo migratório de aves, como acontece na Espanha.”
Entretanto, há alternativas para geração de energia mais limpa e muito menos impactante que as hidrelétricas, termoelétricas e nucleares. Essas soluções, que ainda estão caras no mercado necessitam apenas de mais investimento e incentivos para progredir e aprimorar as tecnologias existentes. Além do investimento, também é preciso reduzir o consumo. Segundo o educador ambiental e coordenador da campanha de energia do Greenpeace, Sérgio Dialetachi, é possível reduzir 40% da energia produzida no país com três medidas: Instalando turbinas mais eficientes nas usinas antigas; Modernizando as linhas de transmissão e combatendo o roubo de energia; Racionando e conscientizando quanto ao uso excessivo de energia.
A Diretora Executiva Internacional do Greenpeace, Bunny McDiarmid, esteve no Brasil durante uma visita ao Rio Tapajós e reiterou a importância da de ser levada em conta a questão dos povos indígenas da região.
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“Não existe melhores guardiões para o Rio Tapajós do que o povo Munduruku, que aqui viveu em equilíbrio com essa parte da Amazônia por séculos. A hidrelétrica de São Luiz do Tapajós é uma ameaça ao modo de vida dos Munduruku, ao Rio Tapajós e à maior floresta tropical do mundo, a Amazônia”, disse McDiarmid. “Há apenas uns meses, poucas pessoas no mundo conheciam a luta dos Munduruku. Hoje, já são mais de um milhão resistindo ao lado deles. Isso mostra o enorme apoio global que os Munduruku têm para continuar em sua luta contra as hidrelétricas e pela proteção da floresta.”
Bunny McDiarmid se reuniu com uma das primeiras caciques mulher do povo Munduruku, Maria Niceia Akay Munduruku, que conta como o rio, seu povo e os animais estão relacionados. “A hidrelétrica ameaça tudo, não apenas os índios. Os animais – os pássaros, peixes, jabutis – também serão afetados. Eles não sabem o que está vindo para matá-los. A represa vai matar tudo, os rios, os peixes e a floresta. É por isso que os Munduruku são contra esse projeto”. conta Maria Niceia.
Além do governo, parte da proposta da campanha é pressionar as empresas que fornecem serviços e tecnologias para essas construções e fazê-las reconhecer os impactos gerados e abandonar essas parcerias.
Para levar a mensagem a todo mundo, foi criada uma plataforma traduzida em 13 idiomas onde as pessoas podem manifestar seu apoio à campanha. Se você deseja participar e dar seu apoio basta acessa esse link.
Imagens: Divulgação