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Grupos de brasileiros tentam criar a primeira cohousing do país

24 de agosto, 2016

Cohousing:Tipo de moradia compartilhada nasceu na Dinamarca nos anos 1960 e vem se popularizando nos Estados Unidos, Canadá e Europa

A ideia básica até lembra a de um condomínio ou vila: famílias vivendo em suas casas e compartilhando áreas comuns de lazer e facilidades, como lavanderia e até cozinha.

Mas para os adeptos desse estilo de vida que vem crescendo na Europa e já começa a ganhar admiradores no Brasil, a cohousing vai além, ao reunir pessoas dispostas a viver em comunidade, partilhando bens materiais como ferramentas e alimentos, mas também, valores como amizade e solidariedade.

E com um importante componente econômico: os custos de manutenção, tanto do espaço comum como de cada casa individualmente, acabam sendo menores.

Essa sustentabilidade, aliás, é característica marcante das cohousings e está presente tanto nas soluções arquitetônicas — muitas têm telhados verdes e sistemas de aquecimento solar e uso de água da chuva —, como nas atitudes diárias.

Dividir carros e bicicletas ou dar caronas solidárias é comum entre os membros das comunidades existentes na Europa, Canadá e EUA. Assim como cuidar dos vizinhos idosos ou dos filhos dos vizinhos — para os pais fazerem um programa noturno, por exemplo.

O princípio

— O princípio básico da cohousing é que as pessoas se conhecem e querem viver coletivamente — diz Rodrigo Munhoz, do escritório Guaxo Projetos Sustentáveis, que criou um projeto de cohousing e tenta implantá-lo em Piracicaba.

Por enquanto, seu grupo reúne sete famílias da região com perfis distintos — de jovens solteiros a casais com filhos de diferentes idades — unidos pelo desejo de compartilhar e levar uma vida mais sustentável.

Se construído do jeito que está, o projeto custaria pouco mais de R$ 1,1 milhão e ocuparia um terreno a sete quilômetros do centro da cidade.

Mas como a ideia é que os futuros moradores opinem sobre como devem ser as casas e áreas coletivas, o projeto ainda pode mudar.

Por enquanto, Munhoz prevê sete apartamentos de 50 metros quadrados, cada, além de uma área comum com cozinha coletiva, estacionamento, bicicletário e piscina.

O desenho, e o desejo de viver numa cohousing, surgiu depois que ele passou ano e meio pesquisando ecovilas na Europa e acabou descobrindo as cohousings, conceito que nasceu na Dinamarca nos anos 1960, a partir dos 1990 ganhou Canadá e EUA, e, recentemente, chegou à Europa.

Por aqui, ainda não há cohousing construída, mas crescem os grupos de interessados, que se reúnem para conhecer o modelo.

A arquiteta e urbanista Lilian Lubochinski é uma das pessoas que tem capitaneado uma série dessas reuniões em São Paulo. A próxima, em dezembro, já não tem vagas.

Prova que o tema tem despertado a curiosidade.

— As primeiras reuniões introduzem o tema. Depois, servem para que as pessoas se conheçam.

Na última que fizemos, falamos de música e animais.

Isso é fundamental para uma boa convivência, já que não há hierarquia nem uma pessoa que manda na comunidade — explica Lilian, contando que já há um primeiro grupo disposto a montar uma cohousing na Granja Viana, região a 25 quilômetros da capital.

Uma das pessoas que tem participado dos encontros é a psicoterapeuta Anna Rezende, que morou cinco anos na cohousing inglesa Hoathly Hill Community, em Sussex, onde era a responsável pelo jornal semanal, além de ajudar a tomar conta dos mais velhos.

Outros membros dividiam outras tarefas: cuidar da horta, das finanças. Todos com participação voluntária.

— Havia a ideia de que o bem estar do outro também pode ser responsabilidade minha — diz Anna, criticando o isolamento gerado pelo estilo de vida das grandes cidades. —

Deixamos de notar os outros.

Apesar do celular e das redes sociais, as pessoas estão cada vez menos preparadas para os verdadeiros desafios da vida: relacionamentos, criação dos filhos, cuidado com idosos.

Na maioria das cohousings, há dois encontros semanais: um café da manhã, geralmente aos sábados, que reúne os vizinhos na cozinha coletiva, e as reuniões para discutir pendências e conflitos, que, claro, existem.

E são tratados em cada comunidade de seu jeito.

Há as que preferem conversas francas que apelam para o bom senso.

E há até as que organizam uma espécie de teatro representando a briga em questão, para fazer com que os “brigões” percebam que os conflitos não são tão importantes.

Creci RJ

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