Na maior faixa de Mata Atlântica preservada do Brasil, no caminho para a Estação Ecológica da Jureia, em São Paulo, o restaurante da Dona Marília serve comida caseira aos grupos que passam pela comunidade de Vila Nova, como alunos das escolas da capital em excursão.
Dona Marília compra de seus vizinhos o peixe, a farinha e quase tudo o que precisa para o restaurante. Em 2014, ela trocou alguns utensílios da cozinha e reformou o telhado com o dinheiro arrecadado através de campanha de crowdfunding na Garupa: R$18.450, de 37 doadores.
O projeto tinha a estimativa de beneficiar 60 pessoas, considerando apenas os fornecedores e outros pequenos empreendedores ligados diretamente à operação do restaurante. Mas não levava em conta, por exemplo, as famílias dos produtores envolvidos. Nem o aumento do fluxo de turistas na região, causado pela melhora da qualidade e pela maior capacidade do restaurante – mais turistas significam, também, mais trabalho para os guias, e mais gente levando a informação sobre o lugar para casa. Ou seja, o potencial de impacto dessa pequena reforma acaba se tornando maior.
Quantificar esse efeito cascata é o desejo de muitos projetos de turismo sustentável, e uma informação superimportante para investidores e parceiros. Calculá-lo é basicamente obter o retorno sobre o investimento (ROI), parâmetro fundamental no mundo dos negócios.
Não à toa, a ONG Sustainable Travel International lançou, em setembro, uma campanha audaciosa: por meio do turismo, melhorar a vida de 10 milhões de pessoas nos próximos dez anos. Chamada de 10 Million Better, a campanha procura incentivar empresas, governos e líderes a tomarem medidas para proteger os recursos naturais e culturais, e assegurar que as comunidades locais se beneficiem com o dinheiro dos visitantes.
Junto com a campanha, foi criado um método próprio de cálculo para esse alcance: o Contador de Impacto. Ele pode ser usado para calcular o impacto de qualquer projeto no mundo, e há uma ferramenta para isso disponível gratuitamente no site da organização. Funciona assim: um formulário colhe os dados da sua iniciativa para estimar o número de pessoas que podem ser beneficiadas – de forma direta, indireta e induzida – pelo desenvolvimento de seu projeto. Depois, uma equipe da organização estuda seu caso e retorna com os cálculos.
Uma assessoria bacana para empreendedores, ONGs, operadoras ou até governos descobrirem mais precisamente qual é o tamanho do efeito cascata de seu trabalho com turismo sustentável.
Essa informação não é interessante apenas aos investidores. Ela também apela aos turistas – principalmente aos que se importam com a preservação dos destinos. Uma pesquisa deste ano do site booking.com, feita com 32 mil viajantes de 16 países, constatou que 52% deles são propensos a escolher uma viagem com base em seu impacto social ou ambiental. Contando só as respostas de brasileiros, esse número sobe para 74%.
“Com essa demonstração de interesse em turismo sustentável, o mercado está maduro para empresas e destinos brasileiros investirem na proteção dos recursos naturais e culturais de suas comunidades e na promoção de seu compromisso com os viajantes”, defende Carol Goodstein, diretora de Comunicação, Marketing & Desenvolvimento da Sustainable Travel International.
Vídeo promocional da campanha 10 Million Better, da ONG Sustainable Travel International (em inglês)
Foto: Renato Suelotto
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