18 de maio, 2018
Em um momento de mudanças climáticas em que a escassez de água se torna um problema cada vez mais recorrente, a articulação do setor privado com o governo, a academia e as entidades da sociedade civil torna-se cada vez mais essencial para garantir o abastecimento para o futuro.
Esta foi a mensagem que dirigentes de algumas das maiores empresas do país e do mundo passaram nesta segunda (19), durante o 8º Fórum Mundial da Água.
No debate, representantes da indústria, de empresas de tecnologia e de saneamento apresentaram algumas das iniciativas que têm tomado para racionalizar o consumo de água e distribuir o acesso às comunidades próximas das fábricas.
Na abertura do seminário, a presidente do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (Cebds), Marina Grossi, chamou a atenção para a importância de o empresariado articular-se com a sociedade para fazer frente ao desafio da mudança climática.
“As empresas sozinhas não podem fazer tudo. Elas estão nas comunidades, conversando com os governos. A gente precisa evoluir muito mais para garantir o abastecimento de água, afetado pelos eventos extremos trazidos pelas mudanças climáticas”, declarou.
Formado por 60 dos maiores grupos empresariais do país, o Cebds lançou no domingo (18) um guia com experiências bem-sucedidas de empresas na gestão hídrica.
Segundo Marina, as ações abrangem não apenas a redução do desperdício, mas também a preservação das bacias hidrográficas e as relações com as comunidades.
Diretor de Operações do Conselho Empresarial Mundial para o Desenvolvimento Sustentável, associação internacional de empresários formada depois da 21ª Conferência do Clima em Paris, Peter White disse que as empresas precisam dar sua contribuição para universalizar o acesso à água no Brasil, onde 17% da população vive sem água tratada e 43% não têm saneamento básico.
“Além da mensuração e da análise dos dados, as empresas devem adotar um comprometimento global com a gestão dos recursos hídricos”, acrescentou.
Exemplos
O presidente da Coca-Cola no Brasil, Henrique Braun, disse que a companhia está comprometida com a economia de água.
Segundo Braun, a empresa cumpriu em 2013, com sete anos de antecedência, a meta de ser neutra em água, devolvendo ao meio ambiente toda a água que consome.
“Hoje, nós retornamos para o meio ambiente o dobro de água que consumimos.”
Braun, no entanto, declarou que as empresas não devem limitar as ações à economia de água.
Ele ressaltou que a Coca Cola abriu o acesso a oito fontes de água de propriedade da empresa a comunidades vizinhas e que a iniciativa beneficia 50 mil pessoas em 100 comunidades.
O diretor global de Sustentabilidade da Ambev, Tony Milikin, declarou que as indústrias de bebidas precisam se adaptar a um cenário de água cada vez mais restrita para não terem a sobrevivência comprometida.
“O maior ingrediente da cerveja é a água. Se indústrias como a nossa não fizerem o que estamos fazendo, elas não sobreviverão”, disse.
De acordo com Milikin, os consumidores estão dispostos a pagar mais caro por produtos fabricados corretamente, respeitando as normas ambientais.
Milikin disse que a companhia também bombeia água para algumas comunidades com escassez hídrica e que a empresa está se engajando na orientação a fazendeiros para uma gestão responsável da água.
“Se formos levar em conta a produção agrícola, o milho, a cevada contêm muita água usada consumida na forma de irrigação”, disse.
Uma boa ideia, acrescentou, seria um aplicativo que reunisse as melhores práticas de gerenciamento dos recursos hídricos por diversas empresas.
Inovação
Presidente da Ecolab, multinacional que oferece tecnologias e serviços de água, higiene e energia, Orson Ledezma defendeu a ampliação da pesquisa e do desenvolvimento de inovações para racionalizar o consumo de água pelas empresas.
“Para que aconteçam mudanças no ciclo empresarial, as empresas precisam identificar os riscos associados ao uso da água e os perigos nas suas operações e no descarte, com o estabelecimento de parâmetros de qualidade. A tecnologia pode identificar onde estão os riscos para desenvolver estratégias e planos de gestão hídrica.”
Diretora industrial da empresa de petroquímica Braskem, Ana Carolina Viana disse que as estratégias para economizar água devem ser pensadas no longo prazo.
“Qual impacto sobre as empresas e as comunidades? Não há como viabilizar o compromisso com a água sem uma estratégia de longo prazo. O empresário precisa ter em mente que muitas iniciativas não têm resultado no curto prazo, mas trazem benefícios mais à frente”, explicou.
A presidente da empresa de saneamento BRK Ambiental, Teresa Vernaglia disse que a discussão sobre o consumo da água também passa pela ampliação do tratamento da água e do esgoto.
“É uma grata surpresa que estamos falando tanto sobre saneamento num evento sobre restrição hídrica. Não faz sentido falar em restrição á água ao mesmo tempo em que milhões de litros de esgoto são enviados para nossos mananciais e nossas praias diariamente”, destacou.
De acordo com Teresa, uma cidade com saneamento básico registra 17 mil internações por diarreia a cada 100 mil habitantes por ano, contra uma média de 111 mil internações em uma localidade sem esgoto tratado.