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Água

Adeus ao modelo de reciclagem poluente

31 de agosto, 2019

Tecnologia consegue separar resíduos de óleo de embalagens sem utilizar água. Embalagem vai para a reciclagem; óleo que poluiria a água é revendido

10 milhões de toneladas de embalagens plásticas alcançam os oceanos todos os anos, o que equivale a 23 mil aviões Boeing 747 pousando nos mares e oceanos – mais de 60 por dia, segundo estudo conduzido pelo WWF.

O Brasil, segundo dados do Banco Mundial, é o quarto maior produtor de lixo plástico no mundo, com 11,3 milhões de toneladas, ficando atrás apenas dos Estados Unidos, China e Índia. Desse total, mais de 10,3 milhões de toneladas foram coletadas (91%), mas apenas 145 mil toneladas (1,28%) são efetivamente recicladas, ou seja, reprocessadas na cadeia de produção como produto secundário. Esse é um dos menores índices da pesquisa e bem abaixo da média global de reciclagem plástica, que é de 9%.

No final, o destino de 7,7 milhões de toneladas de plástico são os aterros sanitários. E outros 2,4 milhões de toneladas são descartados de forma irregular, sem qualquer tipo de tratamento, em lixões a céu aberto.

A poluição por plástico afeta a qualidade do ar, do solo e dos sistemas de fornecimento de água. A queima ou incineração do plástico pode liberar na atmosfera gases tóxicos, alógenos e dióxido de nitrogênio e dióxido de enxofre, extremamente prejudiciais à saúde humana. O descarte ao ar livre também polui aquíferos, corpos d’água e reservatórios, provocando aumento de problemas respiratórios, doenças cardíacas e danos ao sistema nervoso de pessoas expostas.

Se 91% dos plásticos são coletados, principalmente pelos governos dos municípios, por que apenas 1,28% deles são reciclados efetivamente?

Para o resíduo plástico ser efetivamente reciclado e transformado em um novo produto, deve antes ser descontaminado, ou seja, totalmente limpo. O que existia até então a nível mundial é a descontaminação através da lavagem com água. Porém, para muitos plásticos contaminados, que possuem alto poder de contaminação do meio ambiente, essa solução não atende porque não remove de maneira eficiente o contaminante do plástico, e ainda utiliza milhares de litros de água, gera efluentes e vários tipos de resíduos, com alto risco ambiental. O plástico perde assim qualidade, aplicação e valor econômico, reduzindo valor em toda a cadeia de reciclagem, principalmente para os catadores e cooperativas.

Só no Brasil são descartadas anualmente 800 milhões de embalagens plásticas de óleo lubrificante, contendo 1,5 milhão de litros de óleo residual. E pasmem, 1 litro de óleo apenas é capaz de contaminar 1 milhão de litros de água.

Um exemplo prático: imagine que você suje as mãos com óleo lubrificante. Água não será suficiente para eliminar o óleo, então você usa detergente e vai conseguir remover um pouco mais. Entretanto, suas mãos ainda estarão sujas e a água que usou estará contaminada com óleo. O detergente que usou também estará misturado com o óleo, que se transformam em um residuo perigoso. É isso o que acontece na descontaminação e reciclagem com água, só que em grandes proporções, aumentando o risco ambiental.

Reciclagem sem água – a solução brasileira

Pensando nisso, desenvolvemos na Eco Panplas uma solução tecnológica que realiza a descontaminação e reciclagem dessas embalagens de forma ecológica: sem utilização de água e sem geração de resíduos. Desenvolvemos um desengraxante ecológico que separa a embalagem do contaminante, mantendo as características de ambos. Recupera-se assim o desengraxante para novo uso e o contaminante para venda.

Essa tecnologia foi desenvolvida no Brasil ao longo de três anos, e se trata de uma linha de produção automatizada, com alta capacidade, composta por equipamentos e nove processos. Dessa forma, todo o óleo residual é recuperado e reciclado, passando a ser um subproduto e eliminando o risco ambiental.

O processo gera ainda um plástico reciclado de excelente qualidade, que permite a confecção de novas embalagens com 100% de material reciclado, com um custo até 10% mais baixo, criando assim uma verdadeira economia circular.

Nos últimos dois anos, processamos 8 milhões de embalagens em nossa planta produtiva localizada em Hortolândia, no interior de São Paulo. Recuperamos 400 toneladas de plástico reciclado que foram vendidas para confecção de novas embalagens de óleo, e 15 mil litros de óleo recuperados que foram vendidos para a reciclagem e produção de óleo lubrificante novo, gerando assim benefícios socioambientais de impacto: 15 bilhões de litros de água preservados, 430 toneladas de plástico contaminado fora de aterros, 612 toneladas a menos de emissão gases de efeito estufa, 1.264 catadores necessários para recolher esse volume de material, 75% de economia de energia, e evitou-se o uso de 120 mil litros de água na produção.

Somente no Brasil, e em relação às embalagens de lubrificantes, nossa capacidade imediata de crescimento é de 10x para atender o que é coletado hoje, e de 100x para atender todo o volume que é descartado no mercado, chegando a 20 unidades, divididas em sete plantas produtivas.

Essa solução já está consolidada no mercado brasileiro com toda produção atual e futura vendida; e vem sendo reconhecida pelos mais relevantes prêmios nacionais e internacionais, entre eles o prêmio Eco Brasil edições 2017 e 2018, o prêmio do Fórum Mundial da Água de 2018, e o prêmio Internacional BID-FEMSA 2018, realizado em Washington – EUA. Recebemos 10 prêmios em menos de 1 ano e meio.

É muito importante para os governos terem soluções tecnológicas de reciclagem, a fim de atender a Política Nacional de Resíduos Sólidos e diminuir os impactos das embalagens plásticas no meio ambiente através do aumento dos índices de reciclagem de forma sustentável.

Como os números nos mostram, não adianta as prefeituras coletarem os resíduos plásticos se não existe destinação correta para a reciclagem, com processos eficientes e ecológicos, ou seja, que não gerem mais poluição. Essa solução pode ser replicada para outros tipos de embalagens plásticas, e por meio de unidades com alta capacidade produtiva, instaladas em contêineres, que ocupam pouco espaço e podem ser alocadas próximas aos grandes volumes e fontes geradoras, facilitando toda a logística e escalabilidade.

Somente assim, poderemos aumentar os índices de reciclagem e ao mesmo tempo, gerar benefícios socioambientais de impacto.

por Felipe Cardoso

Fonte: Ideação

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