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Orgânicos

Importância da alimentação orgânica é destaque na BioBrazil

17 de junho, 2015

Segundo nutricionista, introduzir hábitos saudáveis na dieta desde cedo é a chave para prevenção de doenças crônicas

Nesta semana acontece em São Paulo a 11 ª Feira internacional de produtos orgânicos e agroecologia (BioBrazil Fair | Biofach America Latina). Com 122 expositores, a feira apresenta aos visitantes opções do segmento que vão desde de alimentos orgânicos in natura a biojoias e tecidos, variedade de oferta que aponta para tendência de crescimento do mercado de orgânicos de forma mundial.

Somente no Brasil, o segmento cresce em média 30% a 40% ao ano. Dados do Instituto de Promoção do Desenvolvimento (IPD) mostram que o faturamento para neste ano pode atingir até R$ 2,6 bilhões, 30% a mais em relação a 2014.

Ming Liu, coordenador executivo da Organics Brasil, acredita que o aumento da produção e procura por orgânicos é reflexo de uma mudança na mentalidade dos consumidores de forma mundial. “A tendência de consumo hoje é voltada a produtos em que questões como bem-estar e saúde são prioritárias. Hoje as empresas devem buscar produtos práticos, mas não necessariamente industrializados, porque a questão de praticidade apenas não resolve mais. A qualidade dos alimentos conta.”

Em debate realizado na quarta-feira (10/6) durante a BioBrazil Fair, a nutricionista e professora Denise Carreiro afirmou que introduzir hábitos saudáveis, como o consumo de orgânicos, desde cedo é a chave para prevenção de doenças crônicas e que a alimentação desenvolvida por um indivíduo determina toda estruturação de seu organismo. “A única coisa que forma uma célula é nutriente e a única coisa que nos forma são células. É tudo o que vemos, mas principalmente o que a gente não vê: hormônios, enzimas, neurotransmissores. Nossa renovação celular é feita a partir do que a gente absorve, da matéria-prima que se coloca dentro do organismo.”

Os métodos de produção baseados em agrotóxicos e defensivos oferecem alimentos com até 40% menos vitaminas, minerais e fitoquímico do que a 50 anos atrás, de acordo com a nutricionista. Como exemplo, Denise citou o resveratrol, substância presente na uva que previne problema cardiovascular e cerebral. Antifúngico, o resveratrol é produzido pela própria planta, mas quando ela recebe uma quantidade exacerbada de defensivos com essa função, pára de produzi-lo. “Um alimento que teoricamente teria uma das substâncias mais importantes pra vida não tem mais porque não precisou produzir. Muitos do fotoquímicos que fazem as nossas ações antioxidantes, prevenção de câncer, são feitos pelas plantas para se defender do meio e com agrotóxico temos uma queda muito grande disso.”

Segundo Denise, a deficiência de nutrientes nos alimentos, aliada aos hábitos modernos de se consumir menos frutas, legumes e verduras e mais industrializados, é fator que aumenta gradativamente o número de pessoas com doenças crônicas não transmissíveis, e que estas afetam cada vez mais as crianças.

Desenvolvimento humano

O pico do desenvolvimento do cérebro humano ocorre entre o terceiro trimestre de gravidez aos 18 meses da criança. Até os 5 anos, foi desenvolvido 75% do órgão. “Na infância temos a formação do sistema nervoso central e isso interfere pro resto da vida. Com o que isso é formado? Com substâncias presentes nos refrigerantes, que vemos nas mamadeiras? Com iogurte de morango, que acham que estão dando morango?”. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS) um mínimo de 400 gramas de legumes, verduras e frutas por dia seria o necessário pra evitar doença crônica não transmissível.

A professora também chamou atenção para alternativas ao combate de transtornos como o déficit de atenção, que segundo ela podem ter origem numa alimentação incorreta e serem minimizados ou curados com dietas adequadas “O Brasil é o segundo pais no mundo em venda de ritalina, que age nas mesmas vias da anfetamina. Dão para crianças a partir dos 3 anos de idade para controle dos déficits de atenção e hiperatividade e ninguém pensa no que elas estão comendo. Qual a interferência da matéria-prima que está sendo colocada no organismo para formar e fazer funcionar este cérebro?”

Para auxiliar um consumo saudável desde a infância, em março deste ano o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, sancionou a Lei nº 16.140, que prevê a inclusão de produtos orgânicos ou de base agroecológica na alimentação na rede escolar municipal, onde são servidas diariamente mais de 2 milhões de refeições.

Na opinião da nutricionista ainda há uma inversão de prioridades na hora de escolher um alimento. “A ideia de que somos feitos e funcionamos a partir do que colocamos dentro do nosso organismo não existe. Existe apenas a idéia de quantas calorias possui determinados alimentos.” Para ela, deve haver uma preferência por alimentos naturais na nossa base de alimentação, mas não o radicalismo. “Alimentos naturais, mas, além de tudo, que venham com menos agrotóxicos, como a alimentação orgânica. Neles garantimos mais o que mais está faltando pra gente: vitaminas, minerais e fotoquímicos.”

Relação saudável

Além de benefícios físicos que proporciona, a agricultura orgânica também aparece como grande alternativa para construção de um relacionamento positivo do homem com o meio. Fernando Ataliba, agricultor no Sítio Cataventoe conselheiro da Associação de Agricultura Orgânica,  falou sobre a importância da produção para manutenção das condições climáticas e do bem-estar do ecossistema por preservar o ciclo das águas que, segundo ele, é impactado negativamente pela agricultura convencional.

Entre as características prejudiciais da agricultura dominante, ele destacou a ausência de árvores, maquinário pesado e o uso de defensivos. “A sua eficiência é baseada fundamentalmente na grande escala, com maquinário pesado e árvores não podem conviver com este sistema. Também utilizam insumos químicos subsidiados, pagos pela toda sociedade, que tornam a agricultura mais barata.”

O problema da falta de árvore, segundo Fernando, é que não há a regularidade necessária de chuva, como acontece quando existe uma floresta preservada. Em relação ao maquinário e a utilização de herbicidas e agrotóxicos, o solo se torna impermeável, perdendo a capacidade de receber água e de encaminhá-la aos mananciais. “Mais importante do que aprendermos a economizar água é aprendermos a não interromper o ciclo da água ”, disse.

Para Fernando, o benefício da agricultura orgânica para o ecossistema está exatamente no fato de que suas bases para produção são copiadas da natureza: as árvores não são apenas toleráveis nas plantações, mas imprescindíveis, e é impossível haver qualidade nos alimentos produzidos na ausência delas. “Áreas descampadas não podem fazer agricultura orgânica. As árvores criam conforto ambiental, rebatem os ventos, abrigam diversidade biológica.” Outra característica do modo de produção é o solo sempre coberto, protegido da incidência do sol e do impacto direto da chuva. “Não se pode colher maravilhosa produção de orgânicos, com muitos fotoquímicos e minerais, em um solo que não esteja absolutamente vivo, com atividade biológica intensa.”

A manutenção das árvores e preocupação com o solo faz com que o ciclo das águas seja preservado e, ainda, que o cultivo de orgânicos utilize menos água, mesmo em culturas irrigadas. Observar a natureza e incorporar os elementos presentes nela é o segredo para quem espera sucesso na produção. “Aprendemos com a natureza coisas fantásticas. A postura de humildade da agricultura orgânica em relação a ela, de tentar sempre olhá-la para aprender, tem tornado possíveis muitas soluções para problemas que a agricultura convencional não consegue resolver.”

Via Revista Globo Rural – revistagloborural.globo.com

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