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Energia

Noruega e Suécia disputam lixo para gerar energia

05 de dezembro, 2015

Leis do mercado ameaçam sistema de eliminação de resíduos e produção de energia nos países escandinavos

Por Lars Bevanger, de Oslo 

Pela lógica, ter pouco lixo deveria ser antes uma bênção do que uma preocupação. No entanto, na Noruega essa carência está se transformando numa dor de cabeça para o setor de gestão de resíduos.

Desde que os aterros sanitários foram proibidos, em 2009, o país investiu em modernas instalações para transformação do lixo em energia. Dotadas de enorme capacidade de incineração, elas produzem energia térmica, que é canalizada para prédios residenciais e comerciais.

“O calor da incineração é usado para aquecer a água, que é enviada para o sistema municipal de calefação de Oslo. E nós também produzimos eletricidade a partir do vapor”, explica Jannicke Gerner Bjerkås, da agência de geração de energia através de resíduos da capital norueguesa.

Olhando para dentro de um forno a uma temperatura entre 850 e mil graus Celsius, na usina de incineração de Klemetsrud, ela acrescenta que aquela instalação, sozinha, abastece 60 mil de um total de 340 mil lares em Oslo.

Concorrência sueca

Com sua capacidade de queimar 300 toneladas diariamente, Klemetsrud necessita de um volume grande de resíduos para funcionar eficientemente. Mas o lixo se transformou numa mercadoria sujeita às leis do mercado, o que complica o sistema energético norueguês.

“Esse mercado funciona como qualquer outro. Mas a grande diferença é que nós não estamos pagando pelo lixo. Quem o produz é que paga para que ele seja eliminado”, diz Bjerkås. “Nos últimos anos, temos visto esse preço cair, e é difícil fazer dinheiro, porque a Suécia está construindo um grande número de incineradores de resíduos, e agora compete com o mercado norueguês.”

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Devido a preços melhores na Suécia, caminhões carregados de resíduo passam direto por Klemetsrud. (DW/L.Bevanger)

Paradoxalmente, centenas de grandes caminhões lotados passam diante da usina de Klemetsrud, nas cercanias de Oslo, para levar sua carga direto à Suécia, onde é mais barato descarregar o lixo norueguês. Grande parte dos complexos industriais de incineração suecos pode oferecer preços mais em conta, por eles serem mais antigos do que os do país vizinho, e livres de dívidas. Portanto, lá os custos em geral são mais baixos.

Assim, há atualmente na Noruega um movimento para que também se aplique ao setor de eliminação de resíduos o princípio da proximidade proposto pela União Europeia. Isso forçaria as municipalidades a levarem seu lixo até a estação mais próxima, e não à mais barata.

“Esperamos que os governos tanto da Suécia quanto da Noruega vejam que o princípio da UE de usar a usina mais próxima para o lixo municipal fomentará mais a reciclagem do que a exportação para o forno mais barato”, observa Torbjørn Leidal, ativista em prol do setor nacional.

Ele argumenta que a opção não é apenas melhor para os negócios: devido à carência de lixo, resíduos que deveriam ser reciclados, como alimentos, papel e plástico, estão sendo queimados para manter ativos os fornos. No momento, “o nível de reciclagem na Noruega está despencando”, diz Leidal.

Carência força importação

A quantidade de lixo nacional levado para a Suécia é tão grande, que a Noruega está tendo que importar a mercadoria de outras partes da Europa. Contêineres provenientes de Leeds e Manchester, na Inglaterra, são descarregados nos portos ao sul de Oslo, colocados em caminhões e levados para a usina de incineração de Klemetsrud.

Esse tipo de transporte através das fronteiras europeias preocupa os ambientalistas. “O negócio com o lixo é um problema, e nem sempre se sabe o que o lixo contém”, aponta Lars Haltbrekken, da sucursal norueguesa da rede Amigos da Terra.

Usina
Fornos da usina de Klemetsrud têm capacidade para 300 toneladas diárias de lixo. (DW/ L. Bevanger)

“O problema, tanto na Noruega quanto na Suécia, é que temos capacidade de incineração em excesso. Os consumidores de ambos os países não estão produzindo lixo suficiente. Nosso ponto de vista é que não devemos produzir mais, mas sim reduzir a produção de resíduos.”

O governo da Noruega afirma que está considerando diversas alternativas para garantir que usinas como a de Klemetsrud disponham de matéria-prima suficiente. Uma dessas opções seria justamente a de introduzir o princípio da proximidade da UE, para que a incineração se faça em âmbito local.

No entanto, enquanto o mercado do lixo continuar aberto e a Suécia for o lugar mais barato para se livrar das sobras caseiras, os caminhões noruegueses continuarão seguindo direto para a fronteira com o país vizinho.

Carta Capital

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