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Brasil na contramão

30 de novembro, 2015

Brasil está entre os 20 países que mais geram poluição por plástico nos oceanos.

O Brasil é o 16o no ranking dos 20 países que mais poluem os oceanos com lixo plástico. O grupo é composto majoritariamente por países asiáticos, além dos Estados Unidos. O Brasil é o único da América Latina que figura na lista, encabeçada por China, Indonésia e Filipinas.

O dado, da Universidade de Atlanta (EUA), foi apresentado pelo pesquisador suíço Heinz Gutscher, da Universidade de Zurique, durante a conferência “Preservando nossos Oceanos: Uma corrida contra o tempo”, que aconteceu na última semana na Biblioteca Parque Estadual do Rio. 

O evento faz parte da última etapa da campanha “Mar sem Lixo. Mar da Gente.”, promovida pelas iniciativas do governo suíço, swissnex e swissando, destinadas a aproximar Brasil e Suíça. 

Gutscher, que veio ao Brasil para participar do seminário, explica que o problema já atinge níveis críticos e está se agravando. 

“Ciência sozinha não se traduz em políticas ambientais. Há muito a ser feito. Precisamos conectar pesquisas, tecnologias, entidades governamentais, empresas, para agir”, explica. “É importante também a percepção individual de cada um de nós de que é preciso pensar no que fazer com nosso lixo.” 

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A questão do lixo plástico foi apresentado na conferência pela expedição Race for Water, o primeiro levantamento global da poluição marinha. De acordo com o chefe da pesquisa, Marco Simeoni, 25 milhões de toneladas de plástico têm como destino o mar anualmente. Com o aumento da população mundial, a estimativa de Simeoni é que, em 10 anos, haverá um quilo de plástico para cada três quilos de peixe nos oceanos. 

“O plástico está em toda parte”, comenta. “Visitamos ilhas remotas, inabitadas, e encontramos garrafas plásticas, chinelos, isqueiros, bitucas de cigarro. São materiais que as correntes marítimas levaram a esses locais, muitas vezes até distantes da origem desse plástico.” 

A expedição, realizada ao longo de 32 mil milhas náuticas (mais que uma volta no entorno da Terra) desde março deste ano, visitou 11 ilhas e cidades ao redor do mundo, onde coletou fragmentos plásticos para análise em laboratório. 

A bióloga marinha da Universidade Federal do Paraná Fernanda Possatto, que participou das mesas redondas “Desafios e Oportunidades no Contexto Brasileiro”, no dia 10, e “Riscos visíveis e invisíveis da poluição pelo plástico”, no dia 11, observou que é crescente o número de aves e tartarugas marinhas que aparecem mortas na costa brasileira com a presença de fragmentos plásticos no estômago e no intestino.

O encontro também trouxe soluções à questão. A especialista em sustentabilidade de produto da Exchange for Change, Beatriz Luz, apresentou na conferência projetos em que o plástico pode ser repensado para se tornar um insumo à indústria, como é o caso do alumínio em latas de bebidas. Ela lembra que a União Europeia impôs uma meta em que 70% dos produtos europeus devem ser reciclados até 2030. A implementação da norma deve-se ao fato de que há poucos espaços para receber o lixo gerado pelos países membros, segundo a especialista. 

“Na Europa, o consumidor está mais consciente e demanda isso das indústrias”, observa. “Senão, não há compra. Ele quer estar associado com o que a empresa faz de positivo, e a competição é enorme. A escolha é feita pela marca com a qual se identifica mais.” 

A conferência teve a participação de representantes das “Mulheres do Salgueiro”, do projeto Carcará, da Associação de Pescadores da Baía de Guanabara e do Fórum dos Atingidos pela Indústria do Petróleo e Petroquímica nas cercanias da Baía de Guanabara (FAPP-BG). A discussão entre os participantes, na mesa Diálogo, organizada pela ONG Viva Favela, trouxe o problema da poluição, enfrentado pelos moradores do entorno da Baía de Guanabara. 

Ricardo Amaral, presidente da Associação de Pescadores da Baía de Guanabara, lembrou que a pesca na região vem sofrendo drástica redução pela poluição.

“Fomos uma comunidade de 150 embarcações, uma das maiores do Brasil há 50 anos. Hoje temos apenas 30 barcos que ainda saem para pescar”, lamentou. “A maioria está abandonando a prática para utilizar a embarcação para transporte e turismo.” 

Os debates nos dias de evento tiveram a presença do líder do projeto Ecosurf, João Malavolta, do vice-prefeito de Niterói, Axel Grael, do curador do Museu do Amanhã, Luiz Alberto Ferreira, do representante da ONG Eccovida, Edson Freitas, e do presidente da Associação Brasileira de Lixo Marinho, Fabiano Barretto.

Entre os pesquisadores, participaram Heinz Gutscher, da Universidade de Zurique; Roman Lehner, da Universidade da Basileia; David Zee, do Museu do Amanhã (e da UERJ); Fernanda Possatto, da Universidade Federal do Paraná (UFPR); Kim van Arkel, da Race for Water; Mônica Ferreira da Costa, da Universidade Federal de Pernambuco; e Simone Oigman-Pszczol, bióloga marinha da BrBio. 

A conferência teve abertura do cônsul suíço no Rio, Giancarlo Fenini, e da diretora-adjunta da swissnex Brazil, Malin Borg. De acordo com Malin, a intenção da swissnex Brazil de promover o debate entre pesquisadores dos dois países é buscar soluções para um problema comum no ambiente marinho: 

“Queremos, com a conferência, criar um ambiente de discussão entre Suíça e Brasil, sobre um problema que está em toda parte, como foi identificado pelos pesquisadores da Race for Water. Esperamos, nesses dois dias do encontro, buscar soluções possíveis e criativas, capazes de reduzir a geração de lixo, com a possibilidade que a economia circular nos traz, e inovar o ciclo de vida do plástico. Sabemos que 25 milhões de toneladas do material vão para o mar todos os anos, e essa sujeira, além de prejudicar a vida marinha, se volta para nós nas praias e até em nossa mesa, na forma de pescado.”

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